
A Stock Car chega ao Velopark neste final de semana, e um dos destaques é Felipe Massa. Aos 44 anos, o ex-piloto de Fórmula 1 disputa a principal categoria do automobilismo brasileiro.
Antes das atividades na pista, o piloto atendeu a reportagem de Zero Hora para uma entrevista exclusiva.
Veja abaixo as respostas de Massa sobre a carreira e questões da F1, como a pressão de ser um brasileiro na categoria e como a idade influencia no desempenho dos pilotos.
Como está sendo o início da temporada da Stock Car, com a mudança dos carros sedans para SUVs? Já conseguiu se adaptar a eles?
"Está sendo uma temporada onde, infelizmente, as coisas não aconteceram da maneira que a gente esperava, eu tive três corridas e acabei não chegando em nenhuma delas, pois problemas mecânicos no carro atrapalharam. Infelizmente, eu ainda não consegui me adaptar, porque eu não tive ainda muitas horas de pista, que, sem dúvida, a adaptação vai sempre melhorando, tanto para mim como para a equipe. Aqui (no Velopark) é mais uma prova onde a gente espera ter a condição de chegar no final das corridas, ter a chance de ir para a classificação da maneira certa, então é tudo isso que a gente espera. É uma mudança grande, carros novos, muito diferente daquilo que eram os carros antigos, diferente no sentido motor a turbo, quatro cilindros, o chassi, acredito que é um carro muito legal, no qual a sensação de guiar é muito mais divertida, e muito mais bacana do que era o carro do ano passado. Mas, logicamente, ainda preciso de um pouco mais de tempo".
Você gosta de correr no Velopark? Considera essa pista boa para ter essa adaptação e conseguir um bom resultado no final de semana?
"Não. Infelizmente é uma pista pequena, é uma pista que a gente até brinca que parece um kartódromo, comparando com tantas outras, mas está no calendário, e a gente tem que tentar tirar o melhor desse circuito aqui no Velopark e tentar entender o carro. Aqui, com certeza, os torcedores são muito bacanas, e a gente tem muita gente indo lá acompanhar, portanto, chamo vocês para acompanhar o final de semana aqui, isso sem dúvida é muito legal, mas é um circuito muito estreito e apertado".
A Stock Car é onde você quer estar neste momento? Você pensa em se arriscar em alguma outra categoria? Como é que você vê o seu futuro no automobilismo, aposentadoria é algo que já passa pela sua cabeça?
"A Stock Car é o campeonato que eu escolhi para estar, me divirto, é uma competição tremenda, o final de semana todo, com um nível muito alto de pilotos. É uma categoria que me entrega aquilo que eu espero, que é a competição, isso sem dúvida me entrega muito bem, então é a categoria que eu escolhi fazer durante o ano. Aposentadoria é quando você não tem mais aquela alegria, e por enquanto, eu tenho."
Aposentadoria é quando você não tem mais aquela alegria, e por enquanto, eu tenho.
FELIPE MASSA
Piloto da Stock Car
O quanto a idade influencia hoje no automobilismo, na tua visão, é algo que a tecnologia está conseguindo auxiliar vocês, ou afeta um pouco no desempenho do piloto?
"A idade depende da pessoa, pode começar a afetar, sem dúvida. Isso faz parte do mundo esportivo, como no futebol e no automobilismo, como em tantos esportes, onde a experiência conta, mas a juventude também é muito importante, sem dúvida. A gente vê o Hamilton sofrendo um pouco, logicamente ele mudou de equipe, mas no ano passado ele já não estava mais do jeito que sempre foi, e isso segue este ano na Ferrari. Ele tem um companheiro de equipe melhor do que ele, e a gente não fala só em corridas, mas em classificação também, é no geral. A idade é um número, e a gente sabe que uma hora vai afetar, e às vezes para uns começa um pouco antes, para outros começa um pouco depois. O Alonso, na minha opinião, ele não tem um carro tão competitivo, mas acho que alguma coisa deve ter afetado pela idade. Regulamos em idade, 44 anos, eu tenho certeza que se eu estivesse na Fórmula 1 alguma coisa teria mudado com o tempo, e é totalmente normal, e sim, a juventude ajuda muito no esporte."
Sobre a juventude brasileira no alto nível do automobilismo, existe pressão em cima do Gabriel Bortoleto, na F1, e do Rafael Câmara, na F3. Por muito tempo, você carregou essa pressão. Acha que eles estão sabendo lidar bem com essa pressão que vem da torcida, depois de um hiato tão grande de ser um brasileiro com relevância nas principais categorias?
"Primeiro, é muito legal a gente ver um brasileiro com resultados, igual o Bortoleto teve na Fórmula 3, na Fórmula 2, e agora está na Fórmula 1. E o Rafa Câmara vem tendo, liderando e fazendo a pole position em quase todas as corridas até agora. Então é muito bacana a gente apoiar os pilotos brasileiros, o Rafa é um piloto que eu conheço desde o kart, ele tem um talento incrível e acredito muito no potencial dele. O Gabriel também, ele é um piloto que venceu a F3 e a F2 no primeiro ano, isso é algo que poucos pilotos conseguiram. Ele vem aprendendo, desenvolvendo-se na Fórmula 1. Teve uma corrida melhor agora (na Espanha), infelizmente a estratégia não ajudou muito ele, mas fez uma ótima classificação, e a gente torce muito para que ele consiga levantar a nossa bandeira lá em cima, no alto do pódio, num futuro próximo. A pressão, o brasileiro sempre sofre, a pressão do torcedor brasileiro no esporte, no automobilismo, no futebol, a gente sabe o quão grande é, por ser brasileiro. Isso você tem que estar preparado, se não estiver, sem dúvida vai te afetar de alguma maneira, e é importante você usar essa pressão para te trazer algo positivo quando você estiver dentro da pista."
Não sabemos qual será o caminho do Bortoleto, mas ele começou como você, lá na Sauber, que é uma equipe longe do pódio e dos pontos, mas pode se tornar uma escolha acertada dele. Essa caminhada é melhor quando vem de baixo, de uma equipe de fundo de pelotão e vai evoluindo, ou você acha que ele teve uma escolha errada, poderia ter ficado na McLaren esperado por uma oportunidade?
"Primeiro é importante você ter uma escolha na Fórmula 1, que isso é muito difícil acontecer, você ter a oportunidade de correr na categoria. A Sauber é uma equipe que criou muitos pilotos, e vários se deram bem por ter começado na Sauber, inclusive eu. Uma equipe que dá valor para os pilotos jovens. A Sauber foi comprada pela Audi, uma empresa multinacional, montadora de carros, muito importante no mundo. Acredito que sim, é uma boa escolha. É uma equipe boa para se começar, e é importante que o Gabriel aprenda e se desenvolva da melhor maneira possível para a gente ter um piloto pronto para a próxima fase.
Como você enxerga o Piastri e o Norris? Com suas diferenças, acredita que eles vão se rivalizar na pista durante a temporada? Como trabalhar essa relação de pilotos tão distintos, mas brigando por um título?
"Eles já estão se encontrando durante a temporada. Eles têm o melhor carro do grid, a McLaren deve ser campeã, é uma grande possibilidade, com dois pilotos muito talentosos guiando, e dois pilotos de nível para ser campeão. O que o Norris vinha fazendo até pouco tempo era impressionante, e o que o Piastri vem fazendo é mais impressionante ainda. Acredito que, como talento, os dois são excepcionais, mas, como mentalidade, vejo um Piastri muito mais pronto, preparado mentalmente, para aceitar uma disputa e brigas do que o Norris. Isso pode ser uma diferença que pode tornar o Piastri campeão este ano. Numa carreira bem curta, está no terceiro ano dele de F1, um título seria sensacional. Ainda tem um Verstappen que incomoda bastante em várias corridas. Ele não tem o carro para disputar o título com a McLaren, na minha opinião, por enquanto, mas ele é um piloto excepcional. Talvez passou um pouco do limite na última corrida (quando jogou o carro na direção de George Russell), mas é um piloto incrível, o melhor de todos nesse momento."