Num universo de 104 casas, três bons exemplos

“Ao entrar para o abrigo senti que minha vida havia mudado, pois me sentia acolhida e protegida, sentia que tinha pessoas que se preocupavam comigo (...) Não sei se dentro do abrigo tem um pouco de mim. Só sei que dentro do pouco de mim há muito do abrigo”, escreveu uma adolescente de 14 anos que morou em um abrigo de Porto Alegre.

A carta entregue há 15 anos para a professora do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rosa Maria Castilhos faz parte das memórias da especialista durante seu trabalho com o acolhimento institucional. Embora o papel tenha amarelado com o tempo, o relato da importância do abrigo para a vida das crianças e dos adolescentes acolhidos permanece atual.

A maioria dos profissionais que atua nos abrigos (96%) não está envolvida nas investigações de irregularidades, e alguns são elogiados ao Ministério Público. Conforme o MP, há abrigos que são referência em atendimento e estrutura física, como a Casa do Excepcional Santa Rita de Cássia, que atende crianças com lesões cerebrais e é mantida por uma organização não-governamental, a SOS — Casas de Acolhida, destinada a crianças de zero a seis anos, e o Lar da Criança e do Adolescente Menino Jesus (Larcamje), ambas mantidas por entidades de assistência social em parceria com a prefeitura.

Há 20 anos em funcionamento em Porto Alegre, a SOS — Casas de Acolhida atende atualmente 25 crianças e possui o mesmo número de funcionários. A seleção dos educadores é feita em três etapas: análise de currículo (é preciso ter experiência na área, ensino médio completo e preferencialmente curso de educador social), entrevistas com duas psicólogas e a coordenadora, além de um período de teste.

— Nenhuma criança vem com manual. O segredo (do bom atendimento) está na capacitação — afirma Suzana Valente, coordenadora da casa.

Depois de contratados, os funcionários passam por uma capacitação sobre a metodologia da casa, baseada na teoria da pediatra húngara Emmi Pikler, em que o adulto deve estabelecer uma relação de confiança e interação com crianças desde que são bebês.

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