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NESTA REPORTAGEM
Em nome da louca paixão e da intolerância, a violência tatuou marcas fatais no futebol gaúcho. Nos últimos 15 anos, desavenças entre torcedores, brigas de grupos organizados e rixas incendiadas pelo ódio provocaram a brutal estatística de 15 mortes na conta do esporte que devia ser apenas sinônimo de vida. Embora dentro dos estádios o tumulto pareça mais frequente, é fora das arquibancadas que se construiu a absurda média de uma vítima por ano apenas neste começo de século.
REPORTAGEM
André Baibich
andre.baibich@zerohora.com.br
Jones Lopes da Silva
jones.silva@zerohora.com.br
DeSIGN
Leandro Maciel e Diogo Perin
FOTOGRAFIA
Carlos Macedo, Adriana Franciosi, Anderson Fetter e Diego Vara
EDIçÃO
Marcelo Ermel
15 mortos em 15 anos
Por ter celebrado com barulho demais o título colorado na Libertadores de 2006, Rodrigo Azambuja foi morto a tiros pelo vizinho. Por estar em um local onde antes havia uma confusão, o torcedor de Grêmio e Novo Hamburgo Maicon Douglas de Lima foi baleado pela polícia. Por terem se envolvido em um mundo violento de juras de morte e vinganças entre duas torcidas organizadas, Gabriel Oliveira e Jefferson Ferreira foram executados.
O motivo fútil das mortes abre caminho para a longa aflição dos parentes. São pais que perderam filhos e mal conseguem hoje manter a unidade da família. Zero Hora contatou familiares das vítimas e viu como cada um lida com a dor de uma perda inexplicável.
Há quem mantenha tudo como antes – quarto, camisetas, adesivos e pôsteres. Outros preferem se livrar dos objetos e doar o que sobrou. Um simples olhar para a bandeira vermelha ou azul detona o sofrimento, e o dia a dia torna-se insuportável. Familiares se desmancharam em lágrimas com a lembrança, por telefone, do filho morto. Outros recusaram de pronto falar sobre a tragédia, como se afastassem um tormento.
Mãe de Anderson Livi, o único que morreu dentro de um estádio ao ser atingido por bomba, Eli embargou a voz e não quis atender a reportagem, mesmo que o caso seja dos mais antigos, de 2002. Tarcísio, pai de Tadeu Junges, morto a tiros em 2004, bateu o telefone quando o repórter explicou o motivo da ligação. Maria Inês, mãe de Gabriel, morto a tiros em 2008, ainda recorre a antidepressivos. Clarita enfrenta hipertensão e diabetes por causa da falta de Jeferson, outro fulminado à queima-roupa. O pai, segundo ela, "morreu de desgosto" após depressão profunda.
O perfil das vítimas torna tudo mais trágico. Tinham 27,6 anos na média, que só chega a tanto porque entre elas estão dois pais, aniquilados por quem poderia ser seus filhos ou netos. Não fossem os mais velhos, a média cairia para 22 anos. A morosidade da justiça é outro agravante: há casos de oito anos que ainda não foram a julgamento.
ZH conta como parentes despedaçados pelas mortes tocam a vida entre a indignação contra a impunidade, o medo de ser o próximo alvo e o controle da sede de vingança.