Em conjunto com o próprio Jardel, líderes do PSD decidiram levá-lo a um centro de reabilitação em Campinas (SP). As despesas, que incluíram tratamento odontológico, foram pagas por pessoas ligadas ao partido. A clínica funciona como spa, oferece acompanhamento médico e é ligada à Igreja Adventista. Jardel ficou 10 dias no local, acompanhado pela mulher. Até a posse, no fim de janeiro de 2015, Jardel foi mantido sob constante vigilância. Com o início do mandato, o deputado teria mudado de postura.
— Ele se agigantou, começou a se sentir mais poderoso, a ser o centro das atenções na Assembleia. Começou a reclamar de dinheiro, a pedir para funcionários pagarem suas contas. Ele se perdeu — disse um ex-assessor.
Ex-funcionários também atribuem a alteração no humor de Jardel à aproximação de pessoas que depois viriam a substituir os assessores no gabinete. Entre elas, o advogado Christian Vontobel Miller, que se tornou amigo e conselheiro do parlamentar. A situação chegou ao limite em abril. O deputado dispensou a maioria dos servidores que comandava, afastou-se para tratar uma depressão e rompeu politicamente com os antigos aliados.
Na época, Danrlei informou, por meio de nota, que não queria mais se "relacionar publicamente com quem conduz seu mandato e sua vida da maneira como meu ex-colega demonstrou que vai conduzir". Homens de Jardel desde a campanha eleitoral, Serginho e Portella foram exonerados.
Reprodução de gravação de suposta participação do deputado em irregularidades
Reprodução, 30/11/2015
— Estava em meio ao tratamento de um tumor no rim esquerdo, tinha cirurgia marcada. Fui demitido sem qualquer explicação, não recebi nem mesmo um telefonema. Ele não teve consideração alguma — reclamou Portella.
Outros assessores que auxiliaram na eleição e estavam no gabinete, Walmir Martins, Ricardo Tafas e Roger Foresta, foram mantidos na Assembleia. A justificativa de Jardel para as demissões foi de que não mandava mais no próprio local de trabalho e queria ter mais controle sobre o mandato.
— Poucos fariam o que eu fiz, e acho que entrei para a história da política gaúcha. Em pouco tempo, vi que não era do jeito que deveria ser — declarou o deputado à época.
A participação de Jardel foi limitada a projetos de menor expressão. Ele perdia-se no dia a dia. Numa manhã de novembro, em meio aos colegas em uma sala reservada da Comissão de Educação da Assembleia, mal conseguiu ler o projeto que tinha em mãos.
— Esse projeto... é bom. É muito bom... esse projeto — disse Jardel, passando os olhos nos papéis, apenas repetindo um "bom, bom, bom" a esmo, enquanto folheava os documentos.
Era visível o aspecto maldormido. Foi quando outro deputado quebrou o constrangimento e tomou a palavra. Os demais passaram a opinar sobre o assunto, e Jardel se esparramou sobre a poltrona e adormeceu. Minutos depois, quando o presidente da comissão abriu a votação, ele acordou em sobressalto:
— Sou contra, sou contra, sou contra...
Ninguém entendeu o voto. O PSD era a favor do projeto. Esclarecida a situação, o voto foi revisto.
Em casa, no dia da Operação Gol Contra
BD, Marjuliê Martini/MP, 30/11/2015
Meses após o episódio da exoneração dos servidores, veio à tona a Operação Gol Contra, que expôs uma série de suspeitas sobre Jardel e seus funcionários. Segundo a investigação do Ministério Público, o deputado, insatisfeito com o subsídio que recebe como parlamentar (R$ 25,3 mil), teria passado a exigir parte dos vencimentos dos integrantes do gabinete. Além disso, teria mantido funcionários-fantasmas, fraudado notas fiscais de viagens para obter lucro financeiro em deslocamentos que não cumpriu ou fez de maneira parcial e financiado o tráfico de drogas com dinheiro público. O deputado nega as acusações.
Jardel chegou a ser afastado judicialmente da Assembleia a pedido do Ministério Público, mas a decisão foi revertida, e o ex-jogador segue com as atividades no parlamento.
Na sessão extraordinária convocada pelo Piratini para votação de projetos em 28 de dezembro, Jardel abordou, na tribuna, as acusações do Ministério Público. O parlamentar afirmou que pretende restabelecer a verdade sobre as denúncias e reconheceu ter errado:
— Estou começando agora na política. Estou começando errado, mas posso melhorar.
Em dezembro, a Comissão de Ética da Assembleia aprovou a continuidade do processo contra o parlamentar. Sem o respaldo de um partido grande — o PSD, além de ser sigla pequena no RS, também estuda expulsá-lo do quadro — e sem apoio dos colegas, a tendência é que a aventura do ex-jogador na política tenha o desfecho da cassação.
Agora, com o ano eleitoral, chegou a hora da verdade. Os desafios de Jardel em 2016 vão desde provar inocência na Justiça a se manter no Legislativo como deputado e reconquistar a confiança dos eleitores.
Com a atual mulher, Sandra Aguiar
BD, Fernando Gomes, 11/4/2015
Na tribuna, admitindo que errou e dizendo que vai melhorar
BD, Vinícius Reis, 28/12/2015