O comandante

Atorcida não tinha certeza se o Grêmio havia mesmo contratado um lateral-direito quando o paraguaio Arce desembarcou no aeroporto Salgado Filho na noite de 7 de fevereiro de 1995. As informações que chegavam de Assunção, pela  voz do brasileiro César Silva, goleiro que o Inter havia emprestado ao Cerro Poteño, diziam tratar-se de um segundo volante.

A confusão fazia sentido. Arce, de fato, havia iniciado a carreira nesta posição. Até virar lateral, pelas mãos do técnico Paulo César Carpegiani, que elogiava sua facilidade de atacar pelo lado direito.

– Carpegiani passou a usar três zagueiros no Cerro e me transformou em ala – conta.

A chegada foi curiosa. Depois de um dia inteiro de exames médicos e testes físicos, Arce foi levado de calção até a sala do presidente Fábio Koff, onde acertaria seu salário. Lá, conheceu Felipão, que estranhou seus trajes . O lateral quebrou o gelo, dizendo que já estava pronto para jogar, e conquistou o treinador.

Hoje, a mesma torcida que duvidou tratar-se de um lateral-direito não hesita em apontá-lo como o melhor jogador da posição na história do clube. São inesquecíveis os cruzamentos para as cabeçadas de Jardel.

– Nosso time trabalhava muito bem as bolas paradas. Cada escanteio era uma jogada de gol – diz o ex-lateral, atualmente treinador do Olimpia, de Assunção.

Ainda são fortes as recordações da final contra o Olimpia. Sorrindo, Arce cita a bronca de Felipão nos jogadores pelo gol sofrido no primeiro jogo – vitória por 3 a 1, no Olímpico.

– Ele disse que a gente iria sofrer lá. Está tudo muito vivo na minha memória. As recordações estão muito vivas –  afirma.

Foi o lateral quem apresentou um nome quando Felipão passou a buscar um parceiro para Adilson:

– Sugiro Gamarra, o melhor de todos.

– Qual o tamanho? — questionou o técnico.

–  Tem a minha estatura — disse Arce.

– Então é baixo — encerrou Felipão.

Arce não se deu por vencido e indicou Rivarola, "que é forte, alto e mau".

Contratado por US$ 250 mil ao argentino Talleres, de Córdoba, Rivarola, 29 anos, 1m87cm, chegou dia 4 de abril e foi inscrito para a segunda fase da Libertadores.

– Felipão queria um zagueiro que pegava muito, marcasse forte. Minha característica era diferente da de Adilson – recorda Rivarola, que hoje atua como empresário de futebol em Assunção, capital paraguaia.

A estreia, dia 20 de abril, em Veranópolis, foi tumultuada. Rivarola, que cumpria boa atuação, revidou a uma agressão e foi expulso em jogo válido pelo Gauchão.

– Fábio Koff formou uma família. Todos puxavam para o mesmo lado. Nosso grupo era muito bom – recorda o paraguaio.

A conquista do título é considerada por ele o momento mais glorioso da carreira. Mais até do que ter sido convocado para a Copa de 1998, na França.

 

 

ANTERIOR

PRÓXIMO

O Grêmio na Colômbia

O capitão