O capitão

AAo vender Agnaldo para o Flamengo por US$ 800 mil, mais os empréstimos de Magno e Paulo Nunes, o Grêmio viu-se na obrigação de contratar um novo zagueiro para a Libertadores. Indicado por Felipão, Adilson Batista desembarcou na noite de 24 de janeiro, depois de rescindir com o Atlético-MG. Na entrevista, ele conta que chegou a se oferecer para vir dois anos antes, mas não havia vaga.

A liderança de Adilson sobressaiu mesmo em meio a um grupo experiente e ele foi escolhido capitão nos primeiros treinos da pré-temporada de Gramado. Virou um dos símbolos da conquista e até hoje é lembrado como o Capitão América.

Em 2003, Adilson teria uma segunda passagem pelo Grêmio, desta vez como treinador. Assumiu em meio a uma crise técnica e conseguiu evitar o rebaixamento do time para a Série B. Confira um bate-papo com o capitão:

Como você veio parar no Grêmio?

Foi Felipão quem me ligou. Eu tinha saído do Atlético-MG, que havia sido quarto colocado no Brasileirão e estava reformulando o grupo, o time ficaria mais novo. Com eu era dono do passe, a direção considerou muito caro alugar e eu saí.

Você e Felipão já se conheciam?

Só de jogar contra. Agradeci o convite, fiquei superanimado. O acerto foi rapidinho. Eu já deveria ter trabalhado no Grêmio em 1993. Até liguei para o Paulão (ex-zagueiro) me oferecendo (risos). Queria falar com o Cacalo. Mas, na época, tinha o Agnaldo.

Você havia jogado dois anos no Inter. Não houve trauma ao se transferir para o rival?

Foram apenas quatro meses no Inter. E um período de muita dificuldade financeira, complicado para receber salário. Depois, no ano seguinte, fiz uma boa temporada no Atlético-MG. No Grêmio, comecei vida nova.

Como foi a parceria na zaga com Rivarola?

Comecei com Luciano. Depois, Rivarola chegou e rapidamente jogou. Era firme, não dava moleza. Sempre gostei de jogar com zagueiro mais duro, de marcação, de combate, de sair na caça, de dar medo no centroavante. Eu jogava e eles davam pontapé (risos).

Você imaginava conquistar tanto no Grêmio?

Foi muito além. Um dia desses, gravei um documentário para a SporTV, junto com Dinho, Paulo Nunes e Jardel e concluímos que é preciso valorizar muito aquilo que aconteceu. Foram dois anos que pareceram 20. Dois anos chegando em decisões, competindo, tendo o respeito da mídia nacional e internacional. Demos uma contribuição enorme para o clube. Aprendemos a respeitar e gostar do clube. Parecíamos ser gremistas desde a infância. Vencemos pela organização, pela qualidade, Cacalo nos incendiava, nos fazia gostar do Grêmio.

Felipão foi seu melhor treinador?

Trabalhei por quase três anos com seu Ênio Andrade. Eu era muito novo, estava no Cruzeiro, queria aprender, fiquei muito fã dele. Com Felipão, foram dois anos no Grêmio e, depois, mais seis meses no Jubilo Iwata. É um pai dentro do futebol. Tenho carinho, ligo, pergunto como está.

Como você virou capitão do time?

Um dia, durante a pré-temporada, Felipão me levou no carro dele do hotel até o local de treinamento. Perguntou se eu queria ser capitão. Eu disse que queria ajudar, independentemente da braçadeira.

E o apelido Capitão América?

Foi ideia do Jorge Estrada (ex-repórter de rádio).

Quando vocês sentiram que o Grêmio poderia ser campeão?

Naqueles 5 a 0 contra o Palmeiras (quartas de final, no Olímpico). No jogo de volta, houve muita coisa estranha no hotel, passamos mal, eu vomitei (o Grêmio foi derrotado por 5 a 1 e se classificou para a semifinal). O Palmeiras era uma seleção brasileira, só isso. Nós ganhamos da seleção brasileira e empatamos com a holandesa (na decisão do Mundial, contra o Ajax).

Felipão ficou irritado pelo gol marcado pelo Nacional no primeiro jogo da decisão e isso criou um problema no vestiário?

Uma coisa nada tem a ver com a outra. O clima ficou ruim porque precisamos tirar uma foto para a Placar como se o Grêmio já fosse campeão. Já pensou se isso vazasse na Colômbia e motivasse o adversário? Iríamos dar arma para o inimigo. Tiramos a foto emburrados, pode olhar.

O que mais o emocionou naquela conquista?

Não consigo esquecer a chegada a Porto Alegre, aquele trajeto de quatro, cinco horas até o Olímpico, a recepção do governador. Aquilo nunca mais saiu da minha mente. Cada vez que eu desço em Porto Alegre, lembro da cena.

 

 

 

 

ANTERIOR

PRÓXIMO

O comandante

O reserva da hora