Exilada

pelo ciúme

Foi de um jeito que não se bate nem em cachorro. É assim que Giovana descreve a primeira vez em que apanhou do então companheiro. No abrigo, já sem hematomas, as marcas da violência aparecem escancaradas no reflexo do espelho: ali estavam os 24 quilos adquiridos para ficar menos atraente e, dessa forma, evitar o ciúme doentio do ex-marido.

Giovana conheceu a vida adulta cedo. Aos 12 anos já estava casada. Com 17, tinha duas filhas. Quando encontrou o segundo homem de sua vida, casou-se após algumas semanas.

— O primeiro nunca teve ciúme. Achei o máximo alguém ter ciúme de mim, então me entreguei — lembra ela.

Com a entrega, vieram os primeiros tapas. Frutos daquilo que se tornou obsessão. Foi o ciúme que fez Giovana deixar o emprego, evitar sair na rua e parar de falar com amigos, além de engordar mais de 20 quilos.

Na primeira vez em que foi agredida, estava grávida de sete meses. O marido achava que não era o pai do bebê:

— Quando acordei, estava dentro de casa de novo, com o rosto deformado, nariz quebrado e ele pedindo desculpas.

 

A jovem tentou se matar. Foi chamada de louca pelo companheiro e pelos familiares. Internada, a assistente social lhe deu outro diagnóstico: vítima de violência doméstica. O começo da cura veio na forma do exílio no abrigo Viva Maria.

— Pensava que minha vida só teria solução quando eu ou ele morresse. Quando tu descobre que existe uma casa dessas, tu acha a luz no fim do túnel.

Giovana passou todo o primeiro final de semana no abrigo chorando. Em uma ligação para a mãe, ficou sabendo que o ex, traficante, e mais quatro homens haviam ido na casa dela e "quebrado tudo", além de terem ameaçado a família, mais uma vez, de morte.

Dez dias após receber a medida protetiva, que proibia que o ex se aproximasse, ela descobriu que a lei não é garantia de segurança. Acompanhada por uma estagiária de Direito, foi até o Fórum, onde enfrentaria uma audiência para julgar a denúncia contra o agressor.

Lá, o ex-companheiro atravessou a sala de júri e, mesmo cercado de seguranças, encontrou Giovana no local onde ficam as vítimas. Bastou segurar o braço dela para que fosse preso em flagrante.

A Fluoxetina continua sendo uma aliada contra a depressão, mas é diante do próprio reflexo que ela nota a evolução: 10 quilos a menos, cabelo escovado, blusa vermelha justa.

— Hoje eu consigo me olhar no espelho. Por muito tempo, passei longe. Porque aquele monstro não era eu.

Foram necessários 86 dias de abrigagem para que Giovana conseguisse reunir as condições necessárias para deixar o exílio. Antes de sair, devolveu o livro que havia retirado na biblioteca da Casa: Antes tarde do que nunca - Você tem o direito de ser feliz, de Gilberto Cabeggi.

 

Exiladas pela violência:

a casa invisível

Rosane:

exilada para proteger os filhos

Paula:

exilada pela

tortura psicológica

Giovana:

exilada pelo ciúme