A cena é recorrente: o bebê não dorme, os pais tampouco. O sono é um

dos aspectos mais delicados dos primeiros meses de vida. Ele passa por

diversas fases, mudando bastante, e vai ficar num padrão similar ao do adulto apenas por volta dos dois anos de idade.

Há comportamentos esperados, como a chamada insônia do segundo semestre, enquanto outras ocorrências podem sinalizar a existência de problemas, de acordo com o pediatra Renato Santos Coelho, presidente do Comitê de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul: – No primeiro ano de vida, é com a insônia que o bebê mostra que não está bem. É fundamental criar uma rotina saudável durante o dia e à noite, e os bons hábitos devem ser seguidos também pelos pais.

Como o bebê dorme? O padrão de sono muda bastante ao longo dos primeiros meses de vida. Até os dois meses, é esperado que o bebê não se encaixe no ritmo dia-noite, mantendo um hábito de acordar e despertar parecido com o que tinha na barriga da mãe. É importante criar um ambiente ideal para o sono – quando seu filho dormir, leve-o para o quarto, que deve ser um local escuro e sem ruídos, inclusive para o repouso diurno. Ainda que a criança pareça não perceber a televisão ou o rádio ligados, preserve o silêncio para que ela não seja estimulada por esses sons. Presidente do Comitê de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, o pediatra Renato Santos Coelho recomenda que o bebê seja acostumado a dormir no berço (fique ao lado até ele adormecer), e não no colo ou sendo embalado. Pode ser complicado interromper esse costume mais adiante – a criança terá a memória de que dormiu junto ao corpo da mãe e, quando despertar, vai perceber que está na cama, sozinha, e começará a chorar. Entre os oito e os 10 meses, é natural que ocorra a chamada insônia do segundo semestre. Ao crescer e amadurecer, a criança se dá conta de que ela e a mãe são seres independentes, e não um só, e a noção dessa separação provoca angústia. O bebê desperta durante a madrugada, 
não enxerga a mãe e se desespera. – É aquela fase em que a mãe fala que não consegue nem ir ao banheiro porque o bebê quer estar sempre grudado nela – explica Coelho. A boa interação entre mãe e filho é um fator determinante para a qualidade do sono. – Quanto menor o bebê, mais sensível às mudanças emocionais da mãe. O vínculo com a mãe é tão intenso, e o bebê, tão sensitivo, que ele percebe que ela não está bem – diz o médico. – Uma mãe com depressão pós-parto, com sentimentos negativos e perda de prazer em fazer as coisas não se conecta com o bebê, não consegue olhá-lo e atender às suas necessidades. 
Ele chora e não dorme – exemplifica. Que bons hábitos de sono devem ser introduzidos na vida dos filhos desde cedo? Bebês não devem acompanhar os pais em lugares como restaurantes, bares e festas muito cheios e com música alta. Atenção aos maiorzinhos: bebidas estimulantes, como chá-mate, café, refrigerante e chimarrão, especialmente a partir do entardecer, não devem ser oferecidas para as crianças. O jantar tem de ser uma refeição leve, pelo menos duas horas antes do horário de deitar, para que haja tempo suficiente para a digestão. Rituais como tomar um copo de leite, ouvir uma história ou receber uma massagem podem ser benéficos. Rosana Alves, neurologista e membro da Associação Brasileira do Sono, observa uma falta de rotina na vida de casais mais jovens nos dias de hoje. O primeiro passo, recomenda a especialista, é ajustar o cotidiano dos adultos: – Eles dormem cada dia num horário, têm atividades variadas. O que a gente pede é mais rotina, que coloquem a criança para dormir e acordar no mesmo horário, que ela tenha horário para comer. Quanto mais ritmo, menos problema relacionado ao sono. O pediatra Renato Santos Coelho sugere que, ao chegar em casa ao final do dia, os pais já entrem em um processo de desaceleração com os filhos, o que inclui diminuir as luzes da casa, não ligar a televisão e investir em brincadeiras mais tranquilas, com bonecos e jogos de montar, no chão do quarto. Depois que as crianças adormecerem, é preciso que os adultos mantenham o ambiente tranquilo e silencioso. Aos finais de semana, não se deve fugir muito das práticas dos dias úteis. No sábado, pode-se permitir que os filhos brinquem até mais tarde, retardando a hora de ir para a cama. Durante o período de férias, é possível relaxar mais quanto a isso, sem se esquecer de promover um retorno gradual ao esquema costumeiro antes do término dos dias de folga.

 

tem jeito?

O xixi na cama é um distúrbio habitual da infância. Tecnicamente chamado de enurese noturna, o problema é caracterizado pela perda involuntária de urina durante o sono, com ao menos uma ocorrência por mês em crianças com mais de cinco anos. O urologista pediátrico José Murillo Bastos Netto e a pediatra Lucila Bizari Fernandes do Prado dão dicas para lidar com a questão.

Onde o bebê deve dormir? É importante que o recém-nascido fique perto dos pais. Não é preciso radicalizar: o bebê pode dormir no quarto do casal durante as primeiras semanas, se essa for a opção mais tranquila para a família. Quando completar um mês, a criança deve ser acomodada em seu próprio quarto – ou pelo menos o planejamento para essa mudança deve iniciar. – A mãe que diz que não consegue fazer isso pode, talvez, ter um medo enorme de que o nenê morra. É preciso conversar com o médico – diz Coelho. – Há situações em que temos de tratar o medo da mãe. Já o compartilhamento da cama – o filho dormindo entre os pais – não é recomendado. Existe o risco de que os adultos machuquem a criança com algum movimento ou com o peso do corpo. Pode também haver sufocamento, caso o pai ou a mãe, ao se mexerem, encobrirem o nariz do bebê.
O uso de celular e tablet interfere no sono? Sim. Por mais difícil que seja, procure limitar a utilização de dispositivos digitais. Depois das 18h, sugere a neurologista Rosana, a criança não deve mais brincar no celular e no tablet, para evitar que fique muito estimulada com os vídeos e os jogos. A luminosidade excessiva desses aparelhos também é prejudicial, interferindo na produção do hormônio melatonina e atrapalhando o sono.

 

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Criança pode ter apneia?

A apneia obstrutiva do sono não é um problema exclusivo de adultos: muitas crianças também são acometidas pelo distúrbio caracterizado pela obstrução de nariz, garganta ou orofaringe (parte da garganta logo atrás da boca). As recorrentes pausas na respiração interrompem o sono diversas vezes durante a noite, e os problemas se estendem ao longo do dia.

Tratar a doença corretamente faz com que a criança tenha melhoras significativas na qualidade do seu sono, do seu aprendizado e da sua sociabilidade ressalta o pneumologista Pedro Genta.

Além do ronco, alguns dos sintomas da apneia entre as crianças são o sono agitado, a dificuldade para respirar, dormir de boca aberta, babar e a sudorese. A médica Magda Lahorgue Nunes lembra que, se for crônica, a síndrome pode gerar irritabilidade:

Toda vez que a criança tem essa apneia obstrutiva, faz um microdespertar, fragmentando o sono. Isso leva também a mudanças comportamentais e distúrbios de atenção, além da possibilidade de gerar hipertensão arterial e pulmonar.

Pesadelos, medo do escuro 
e receio de dormir sozinho. O que fazer? A criança pode ter passado por alguma experiência desagradável e estressante. Às vezes, um programa de televisão ou o tema de uma conversa podem impressioná-la a ponto de causar perturbações no sono. É preciso que os pais estejam sempre atentos ao tipo de conteúdo a que os filhos têm acesso. Notícias sobre episódios envolvendo violência, por exemplo, são impactantes. Se a situação se prolongar – acordar muitas vezes ao longo da noite também é sinal de problemas –, procure orientação médica. Pode ser necessário fazer um acompanhamento psicológico. Quais as consequências de dormir mal? A criança que não dorme bem pode sofrer alterações de comportamento, ficando irritada, agitada e sonolenta durante o dia. Os mecanismos de memória e atenção podem ser afetados, o que atrapalha o aprendizado e o desempenho escolar e até mesmo as brincadeiras. Em casos mais sérios, alerta Rosana Alves, o sono insuficiente altera o desenvolvimento e o crescimento. É importante que os pais ajam rapidamente ao perceber que a rotina de repouso está alterada.

A cena é recorrente: o bebê não dorme,

os pais tampouco. O sono é um

dos aspectos mais delicados dos primeiros meses de vida. Ele passa por

diversas fases, mudando bastante, e vai

ficar num padrão similar ao do adulto

apenas por volta dos dois
anos de idade.

Há comportamentos esperados, como a chamada insônia do segundo semestre, enquanto outras ocorrências podem sinalizar a existência de problemas, de acordo com o pediatra Renato Santos Coelho, presidente do Comitê de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria
do Rio Grande do Sul:

– No primeiro ano de vida, é com a insônia que o bebê mostra que não está bem.

É fundamental criar uma rotina saudável durante o dia e à noite, e os bons hábitos devem ser seguidos também pelos pais.

Como o bebê dorme? O padrão de sono muda bastante ao longo dos primeiros meses de vida. Até os dois meses, é esperado que o bebê não se encaixe no ritmo dia-noite, mantendo um hábito de acordar e despertar parecido com o que tinha na barriga da mãe. É importante criar um ambiente ideal para o sono – quando seu filho dormir, leve-o para o quarto, que deve ser um local escuro e sem ruídos, inclusive para o repouso diurno. Ainda que a criança pareça não perceber a televisão ou o rádio ligados, preserve o silêncio para que ela não seja estimulada por esses sons. Presidente do Comitê de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, o pediatra Renato Santos Coelho recomenda que o bebê seja acostumado a dormir no berço (fique ao lado até ele adormecer), e não no colo ou sendo embalado. Pode ser complicado interromper esse costume mais adiante – a criança terá a memória de que dormiu junto ao corpo da mãe e, quando despertar, vai perceber que está na cama, sozinha, e começará a chorar. Entre os oito e os 10 meses, é natural que ocorra a chamada insônia do segundo semestre. Ao crescer e amadurecer, a criança se dá conta de que ela e a mãe são seres independentes, e não um só, e a noção dessa separação provoca angústia. O bebê desperta durante a madrugada, não enxerga a mãe e se desespera. – É aquela fase em que a mãe fala que não consegue nem ir ao banheiro porque o bebê quer estar sempre grudado nela – explica Coelho. A boa interação entre mãe e filho é um fator determinante para a qualidade do sono. – Quanto menor o bebê, mais sensível às mudanças emocionais da mãe. O vínculo com a mãe é tão intenso, e o bebê, tão sensitivo, que ele percebe que ela não está bem – diz o médico. – Uma mãe com depressão pós-parto, com sentimentos negativos e perda de prazer em fazer as coisas não se conecta com o bebê, não consegue olhá-lo e atender às suas necessidades. Ele chora e não dorme – exemplifica. Que bons hábitos de sono devem ser introduzidos na vida dos filhos desde cedo? Bebês não devem acompanhar os pais em lugares como restaurantes, bares e festas muito cheios e com música alta. Atenção aos maiorzinhos: bebidas estimulantes, como chá-mate, café, refrigerante e chimarrão, especialmente a partir do entardecer, não devem ser oferecidas para as crianças. O jantar tem de ser uma refeição leve, pelo menos duas horas antes do horário de deitar, para que haja tempo suficiente para a digestão. Rituais como tomar um copo de leite, ouvir uma história ou receber uma massagem podem ser benéficos. Rosana Alves, neurologista e membro da Associação Brasileira do Sono, observa uma falta de rotina na vida de casais mais jovens nos dias de hoje. O primeiro passo, recomenda a especialista, é ajustar o cotidiano dos adultos: – Eles dormem cada dia num horário, têm atividades variadas. O que a gente pede é mais rotina, que coloquem a criança para dormir e acordar no mesmo horário, que ela tenha horário para comer. Quanto mais ritmo, menos problema relacionado ao sono. O pediatra Renato Santos Coelho sugere que, ao chegar em casa ao final do dia, os pais já entrem em um processo de desaceleração com os filhos, o que inclui diminuir as luzes da casa, não ligar a televisão e investir em brincadeiras mais tranquilas, com bonecos e jogos de montar, no chão do quarto. Depois que as crianças adormecerem, é preciso que os adultos mantenham o ambiente tranquilo e silencioso. Aos finais de semana, não se deve fugir muito das práticas dos dias úteis. No sábado, pode-se permitir que os filhos brinquem até mais tarde, retardando a hora de ir para a cama. Durante o período de férias, é possível relaxar mais quanto a isso, sem se esquecer de promover um retorno gradual ao esquema costumeiro antes do término dos dias de folga.
tem jeito?

O xixi na cama é um distúrbio habitual da infância. Tecnicamente chamado de enurese noturna, o problema é caracterizado pela perda involuntária de urina durante o sono, com ao menos uma ocorrência por mês em crianças com mais de cinco anos. O urologista pediátrico José Murillo Bastos Netto e a pediatra Lucila Bizari Fernandes do Prado dão dicas para lidar com a questão.

Onde o bebê deve dormir? É importante que o recém-nascido fique perto dos pais. Não é preciso radicalizar: o bebê pode dormir no quarto do casal durante as primeiras semanas, se essa for a opção mais tranquila para a família. Quando completar um mês, a criança deve ser acomodada em seu próprio quarto – ou pelo menos o planejamento para essa mudança deve iniciar. – A mãe que diz que não consegue fazer isso pode, talvez, ter um medo enorme de que o nenê morra. É preciso conversar com o médico – diz Coelho. – Há situações em que temos de tratar o medo da mãe. Já o compartilhamento da cama – o filho dormindo entre os pais – não é recomendado. Existe o risco de que os adultos machuquem a criança com algum movimento ou com o peso do corpo. Pode também haver sufocamento, caso o pai ou a mãe, ao se mexerem, encobrirem o nariz do bebê. O uso de celular e tablet interfere 
no sono? Sim. Por mais difícil que seja, procure limitar a utilização de dispositivos digitais. Depois das 18h, sugere a neurologista Rosana, a criança não deve mais brincar no celular e no tablet, para evitar que fique muito estimulada com os vídeos e os jogos. A luminosidade excessiva desses aparelhos também é prejudicial, interferindo na produção do hormônio melatonina e atrapalhando o sono.
Criança pode ter apneia?

A apneia obstrutiva do sono não é um problema exclusivo de adultos: muitas crianças também são acometidas pelo distúrbio caracterizado pela obstrução de nariz, garganta ou orofaringe (parte da garganta logo atrás da boca). As recorrentes pausas na respiração interrompem o sono diversas vezes durante a noite, e os problemas se estendem ao longo do dia.

– Tratar a doença corretamente faz com que a criança tenha melhoras significativas na qualidade do seu sono, do seu aprendizado e da sua sociabilidade – ressalta o pneumologista Pedro Genta.

Além do ronco, alguns dos sintomas da apneia entre as crianças são o sono agitado, a dificuldade para respirar, dormir de boca aberta, babar e a sudorese. A médica Magda Lahorgue Nunes lembra que, se for crônica, a síndrome pode gerar irritabilidade:

– Toda vez que a criança tem essa apneia obstrutiva, faz um microdespertar, fragmentando o sono. Isso leva também a mudanças comportamentais e distúrbios de atenção, além da possibilidade de gerar hipertensão arterial e pulmonar.

Toque nos cards para ver mais infomações

Pesadelos, medo do escuro e receio de dormir sozinho. O que fazer? A criança pode ter passado por alguma experiência desagradável e estressante. Às vezes, um programa de televisão ou o tema de uma conversa podem impressioná-la a ponto de causar perturbações no sono. É preciso que os pais estejam sempre atentos ao tipo de conteúdo a que os filhos têm acesso. Notícias sobre episódios envolvendo violência, por exemplo, são impactantes. Se a situação se prolongar – acordar muitas vezes ao longo da noite também é sinal de problemas –, procure orientação médica. Pode ser necessário fazer um acompanhamento psicológico.
Quais as consequências de dormir mal? A criança que não dorme bem pode sofrer alterações de comportamento, ficando irritada, agitada e sonolenta durante o dia. Os mecanismos de memória e atenção podem ser afetados, o que atrapalha o aprendizado e o desempenho escolar e até mesmo as brincadeiras. Em casos mais sérios, alerta Rosana Alves, o sono insuficiente altera o desenvolvimento e o crescimento. É importante que os pais ajam rapidamente ao perceber que a rotina de repouso está alterada.