PERDIDOS NO VALE DO POTÁSSIO

Uma chuva fina caía quando chegamos a Três Cachoeiras, no dia 3 de fevereiro, para fazer a rota até o Poço das Andorinhas. No início do trajeto, um asfalto irregular e cheio de buracos formava poças de barro salientes. Quando chegamos na altura do Morro de Dentro, não havia mais asfalto, apenas chão batido, muita pedra e terra virando barro. A chuva engrossou e tivemos que fazer uma parada em uma câmara mortuária, primeiro local protegido que encontramos. Iniciou-se uma tempestade e decidimos seguir mesmo assim.

 

Pedalamos por mais de cinco quilômetros e chegamos a um local que apelidamos de “Vale do Potássio”, devido ao grande número de bananeiras plantadas no trajeto. Áreas inteiras desmatadas para o cultivo de bananas subiam pelos morros acima. A cada grande plantação, havia uma estação para amadurecimento das bananas e para que os caminhões se abastecessem de frutas.

A chuva deu uma trégua, mas, em um trecho com muita subida, o chão ainda encharcado pela tempestade dificultava a pedalada. O terreno foi ficando mais irregular, acumulando pedras. Numa destas inclinações, bati numa pedra pontiaguda e furei o pneu da bicicleta. Em cinco minutos, troquei a câmara e tentei colocar ar.  Só que bicicletas de corrida precisam de muitas libras, variando de 80 a 100, para que o pneu esteja cheio. Fazer isto com uma bomba de mão é impraticável.

 

Tentei seguir com o pneu semicheio. Foi terrível. A roda patinava enquanto colinas de barro surgiam pela frente. Quando me dei conta, estava sozinho em um lugar totalmente desconhecido. Desci da bike e voltei ao método Jaiminho. Caminhei por seis solitários quilômetros, sem vivalma para me orientar.

Ao chegar no final de nosso roteiro, uma placa anunciando o “Poço dos Morcegos” me deixou em dúvidas se estava no local certo. Entrei pela trilha chamando o Botega. Nada. Voltei ao início. Uma escadaria enorme levava para outro ponto, aí sim: Poço das Andorinhas. Chamei o fotógrafo e nada. A noite já se aproximava. Estava voltando quando finalmente escutei o Botega responder. Foi um alívio. Retornei ao Poço dos Morcegos e lá estava ele. Na primeira vez não havia me ouvido porque estava nadando na água doce do local. Regressamos ao Poço das Andorinhas e registramos um último mergulho.

Quando a noite de fato chegou, tivemos de voltar com o carro de apoio, pela parca iluminação do local. Estava exausto. Assim que sentei na carona, apaguei.

22,4km

percorridos

1h53

pedalando

4º dia

de viagem

ROLE para ver o infográfico