ADRIELE: É ISTO OU É ISTO

Havíamos combinado de, no dia 4 de fevereiro, nos encontrarmos com integrantes do Grupo de Ciclistas PedAlegre em Atlântida, para que pedalassem conosco até a Cascata do Garapiá, a mais de 60 quilômetros dali. Entre eles, estava a paratleta Adriele Silva, 29 anos, campeã das campeãs na modalidade de Paratriatlo: Prata Brasileiro 2015, Prata Panamericano 2016 e Ouro na Copa do Brasil 2016.

 

Durante a cobertura da Paraolímpiada 2016, já tinha ouvido o nome de Adriele Silva. Ela não chegou a participar dos Jogos, por não haver ninguém na mesma categoria para competir com ela, mas era o principal nome cotado para a vaga do Paratriatlo Feminino. Sua história de enfrentamento e superação é a de uma heroína.

 

Em 30 de outubro de 2012, Adriele despertou com uma forte cólica que a forçou a ir para o hospital. Um cálculo renal havia provocado infecção generalizada em seu organismo. Foram meses hospitalizada, paradas cardíacas, coma, muita dor e a amputação das pernas. No dia 4 de janeiro de 2013, retornou para sua casa. Teve que reaprender a falar e a andar.

Largou o emprego, em uma metalúrgica de Jundiaí (SP), e se dedicou ao esporte para superar as limitações. Já com próteses, começou em 2014 a participar das primeiras competições. Nos 100 metros, bateu o recorde nacional. Por ser a única paratleta biamputada na modalidade de triatlo, não tem adversárias em suas provas e, por isto, não recebe a Bolsa Atleta. Graças ao seu alto desempenho, conseguiu um patrocinador e, a partir disso, pôde dedicar-se exclusivamente aos treinos.

 

– Procurei o esporte como forma de reabilitação. E deu certo. Enxerguei novas oportunidades de renda e de trabalho – contou Adriele.

Um comboio de oito ciclistas tomou conta da Avenida Central. Adriele estava sem sua bicicleta oficial, feita sob medida, e pedalou com uma mountain bike emprestada. Era sua estreia no cicloturismo. Até então, havia usado a bike apenas

em locais fechados e pistas de competição.

 

– Tenho medo do trânsito, motoristas ainda não têm consciência sobre compartilhar o espaço – disse.

Um sol imenso ardia na estrada. Adriele ia na frente liderando o grupo. Foram mais de 30 quilômetros pedalados pelo asfalto até chegarmos à entrada de Maquiné. A partir daí, muita estrada de chão. Adriele começou a sentir dificuldades para continuar – o trepidar da bicicleta no asfalto fazia com que sua prótese escapasse e logo começou a sentir uma forte dor na lombar. Mas seguiu pedalando.

 

– Na vida sou muito prática. Não adianta pensar no problema. Foco nas coisas boas e sigo em frente. Não deixo outra opção. É isto ou é isto – explicou Adriele.

 

Apesar da bravura da campeã, na altura da Barra do Ouro as más condições do terreno a levaram a interromper a pedalada e a seguir no carro de apoio.

Levei um tremendo tombo quando estávamos quase chegando no destino final. Pedalava a uns 20 km/h, em terreno irregular. Tentava fazer uma gravação com a câmera GoPro, buscando o melhor ângulo, quando passei por uma cratera. Caí e enquanto caía continuava caindo. Quando, finalmente, parei de rolar, olhei em volta. Nosso grupo havia parado para ver se eu estava inteiro e o tráfego de carros congelou atrás da gente.

 

– Tá vivo, tchê? – me perguntou um dos motoristas.

 

– Acho que sim – respondi enquanto tateava meu corpo e me beliscava, testando a realidade.

 

Finalmente, chegamos à Cascata do Garapiá, lotada de gente, um dos mais célebres e populares locais de banho de veranistas que preferem as águas doces às praias. A cachoeira tem 12 metros de altura e pode alcançar até três metros de profundidade na área de banho. É impossível chegar de carro até a piscina natural. Precisamos carregar as bikes por uns 400 metros, em uma subida que durou 15 minutos. Adriele esperou no carro. Não há sinal de telefone ou internet e raras placas indicam o local. A dica é prosear com os moradores da região para pegar a direção correta.

 

O barulho da queda d’água é inconfundível. Conforme nos aproximávamos, a mata ia se fechando e um ar frio envolvia o ambiente. A cachoeira forma uma piscina natural extensa e cristalina, de águas bem frias. Com certeza, uma das melhores dicas de passeio a ser feito pelo Litoral Norte. Valeram o tombo e cada gota de suor nos mais de 60 km percorridos.

61,2km

percorridos

5h54

pedalando

5º dia

de viagem

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