Salto Triplo

O VOO DE ALMIR

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Edição e textos
Vinicius Vaccaro

Fotos e vídeos
Jefferson Botega

Infografia
Leandro Maciel

Edição de vídeos
Andressa Machado

Programação
Hermes Wiederkehr

O salto triplo é a combinação de três saltos sucessivos que culmina com a aterrissagem do atleta na caixa de areia. Entenda todas as fases da prova, com dados no salto de Almir Júnior que valeu ao atleta da Sogipa a medalha de prata no Mundial indoor de 2018, com a marca de 17m41cm

RITUAL DE PREPARAÇÃO

Após ter o nome chamado pela organização da prova, o triplista tem 30 segundos para iniciar a corrida. É o momento de concentração para o salto. Com gestos e palmas, Almir também costuma pedir apoio da torcida.

CORRIDA DE ACELERAÇÃO

Da partida até a tábua de impulsão, Almir costuma percorrer 45 metros com 18 a 21 passadas. Na largada, o obtivo é conseguir a melhor tração possível, para depois atingir uma velocidade que chega a 37km/h.

HOP

O "pulo"(em inglês) é a primeira fase do salto triplo. Almir usa a perna direita para impulsão e, após rápida flexão, volta a pisar na pista com o pé direito. No Mundial de Birminghan, o brasileiro saltou a maior distância no hop: 6m44cm.

STEP

O pouso do hop marca o início do step (passo, em inglês), a segunda fase do salto triplo. Almir utiliza novamente a perna direita para impulsão. A perna esquerda, que auxilia a decolagem com forte impulso de flexão do quadril, entrará em ação na aterrissagem. Esse é o estágio do triplo em que Almir tem mais margem de evolução.
No Mundial indoor, ele teve pior desempenho no step: 5m04cm.

JUMP

O pouso do step serve de alavanca para a decolagem na fase final do triplo. Almir usa a perna esquerda para o jump (salto, em inglês). A técnica é semelhante à do salto em distância, embora a maioria dos triplistas já tenha perdido velocidade para preparar um movimento brusco e poderoso com a perna esquerda, para trás e para cima - que lembra uma "patada" -, com o objetivo de impulsioná-los o mais longe na caixa de areia.
No Mundial de 2018, Almir saltou 5m93cm na última fase do triplo.

ATERRISSAGEM

A distância total do salto é medida da ponta da tábua até a primeira marcação do corpo do triplista na caixa de areia. Por isso, ao aterrissar, o saltador deve evitar sentar-se ou colocar as mãos atrás dos pés. A caixa de areia geralmente está a 13 metros da tábua de impulsão em competições internacionais masculinas, e a 11 metros nas disputas femininas.

Os saltos são invalidados caso o triplista ultrapasse a linha da tábua de impulsão ou pise na borda da caixa de areia.
Marcas obtidas com vento a favor superior a 2m/s não são consideradas válidas para registro de recordes.

Almir tenta resgatar tradição brasileira no Pan

Dono da terceira melhor marca de todos os tempos do Brasil no salto triplo, Almir dos Santos Júnior pisará no Estádio Atlético do complexo da Villa Deportiva Nacional (Videna), em Lima, neste sábado (10), com a ambição de inscrever seu nome em uma seleta galeria de lendas do atletismo nacional. A partir das 16h30min, o atual vice-campeão mundial indoor estará na briga por medalha nos Jogos Pan-Americanos.

Para subir ao pódio, o atleta de 25 anos da Sogipa busca inspiração na tradição do Brasil na prova. Em quase 70 anos de história do maior evento poliesportivo das Américas, o país já comemorou seis medalhas de ouro com três triplistas diferentes - só Cuba tem mais conquistas (oito ouros). Maior referência verde-amerela da modalidade, o bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva triunfou nas três primeiras edições do Pan: Buenos Aires 1951, Cidade do México 1955 e Chicago 1959. Nos anos 1970, foi a vez de João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, brilhar nos Jogos, com o ouro em 1975, na Cidade do México, e 1979, em San Juan (Porto Rico). A última vitória brasileira no triplo veio com os saltos de Jadel Gregório em 2007, no Rio de Janeiro. Recordista brasileiro e sul-americano com 17m90cm, o gigante de 2m3cm garantiu o ouro no Engenhão com um salto de 17m27cm.

Dez triplistas do país já superaram a marca de 17 metros

- Aquele momento foi marcante para mim. Vencer na minha casa, diante da minha família e dos meus amigos, foi excepcional - conta o ex-atleta de 38 anos, hoje treinador de atletismo radicado há cinco anos em San Diego, nos Estados Unidos.

Para levar o país de volta ao topo do pódio no triplo depois de 12 anos, o mato-grossense radicado há uma década em Porto Alegre terá a companhia de outra promessa brasileira da modalidade. Trata-se do paranaense Alexsandro de Mello, 23 anos, que já tem 17m31cm na temporada e está em 10º lugar no ranking da Associação Internacional das Federeções de Atletismo (Iaaf) - o sogipano é só o 15º na lista de saltos ao ar livre, com a marca de 17m15cm que já lhe valeu o índice olímpico para Tóquio 2020.

É bem verdade que Almir saltou 17m46cm em fevereiro, desempenho que o faz figurar em segundo lugar no ranking mundial indoor. Mas desde então, prejudicado por lesões, não conseguiu emplacar uma sequência de competições. Em março, uma contratura na coxa direita atrasou sua preparação para a temporada de saltos no circuito outdoor. Já recuperado, a convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), acompanhado de seu treinador, José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, o triplista montou bases em Lisboa, em Portugal, e Madri, na Espanha, para cumprir uma programação de três semanas de treinos e participações em torneios no verão europeu. No primeiro evento, em 30 de junho, comemorou o índice para os Jogos do Japão com o bronze no meeting de La Chaux-de-Fonds, na Suíça. O tour pelo Velho Continente prometia. Nove dias depois, embarcou para a Hungria, onde participou do Gyulai Istvan Memorial, tradicional meeting sediado na cidade de Székesfehérvár.

Desta vez, seu melhor salto ficou abaixo de 17 metros e terminou apenas em quinto lugar em uma competição dominada pela dupla Taylor/Claye. Em 12 de julho, disputou a etapa de Mônaco da badalada Liga Diamante, o circuito organizado pela Iaaf que reúne a elite do atletismo mundial. Mas a viagem ao principado trouxe mais preocupações do que boas recordações ao triplista. Ao sentir uma forte dor no pé direito na execução de um salto, decidiu abortar a prova vencida por Taylor. Exames não apontaram lesão no pé inchado. Nos dias seguintes, ainda instalado na Espanha, focou no tratamento para reduzir o edema - teve de desistir de uma meeting na França e da etapa de Londres da Liga Diamante - e se preparar para o Pan. Voltou no dia 22 a Porto Alegre, onde fez curta escala de três dias antes de voar para o Rio de Janeiro. Retomou os treinos mais intensos em uma pista de atletismo da Aeronáutica - Almir é atleta-militar - antes de desembarcar na capital peruana na última segunda-feira (5).

Por essas circunstâncias, o brasileiro reduziu suas expectativas para os Jogos de Lima. Mesmo assim, confia que pode brigar por um lugar no pódio neste sábado.

- Sei que não estou na minha melhor forma, tive de correr contra o tempo. Mas não queria abrir mão do Pan, uma competição que uma mística para o Brasil - disse Almir, referindo aos feitos de Adhemar, João do Pulo e Jadel.

A escalada de Almir

O atleta da Sogipa decolou desde que migrou do salto em alturo para o triplo

Em Lima, Almir Júnior não terá a concorrência dos seus três principais adversários do circuito mundial. Como os EUA não costumam enviar o time principal para o evento das Américas, Christian Taylor e Will Claye - respectivamente medalhistas de ouro e prata nos Jogos Olímpicos de Londres 2012 e Rio 2016 e que já saltaram mais de 18 metros na carreira - não viajaram para o Peru. Atual campeão mundial indoor, Claye lidera o ranking outdoor desta temporada (com 18m14cm), seguido por Taylor (17m82cm). Já Pedro Pablo Pichardo, campeão pan-americano em Toronto 2015 por Cuba e outro triplista que superou a barreira dos 18m, não participará do evento porque hoje defende a bandeira de Portugal. Pichardo é o quarto do ranking de 2019, com 17m53cm.

Cangurus do Triplo

Apenas seis homens já ultrapassaram a barreira dos 18 metros*

*Considerados apenas saltos regulares para registro de recordes, com vento de no máximo 2m/s.

**Pichardo naturalizou-se português em 2017.

Nem a ausência do trio fará do salto triplo dos Jogos uma prova de baixo nível técnico. A equipe americana, por exemplo, é uma espécie de Palmeiras do atletismo. No time alternativo dos EUA desponta o nome de Omar Craddock, o terceiro colocado do ranking mundial, com 17m68cm. Considerada uma escola de saltadores, Cuba levou a Lima Andy Díaz, que está à frente de Almir na temporada.

- O triplo nos Jogos será de altíssimo nível. É preciso levar a sério. Gostei de ouvir Almir dizer que sua preparação para o Mundial começa no Pan - afirma Lauter Nogueira, comentarista de atletismo do SporTV.

O Mundial de Doha, de 27 de setembro a 6 de outubro, será o grande desafio de Almir na temporada. No Catar, ele reencontrará os rivais que tem no currículo saltos de 18m. Essa marca, por sinal, está no horizonte do atleta da Sogipa.

- A nossa meta é que Almir encerre a sua carreira esportiva com os recordes brasileiro e sul-americano (17m90cm, de Jadel Gregório) e que seja o primeiro brasileiro a saltar acima de 18 metros - revela Arataca.

Para ultrapassar essa barreira só superada por seis triplistas na história, Almir reconhece que ainda tem de evoluir na técnica dos saltos. Vale lembrar que o mato-grossense de 25 anos é cristão-novo no triplo - até 2017, sua especialidade era o salto em altura.

- Tudo ainda é muito novo para mim. Tudo é aprendizado, estou me descobrindo na prova - admite.

Para um triplista, Almir se destaca pela rapidez. Chega a atingir 37 km/h na corrida para o salto, mas acaba perdendo mais velocidade do que outros adversários no "step", o segundo das três série de saltos, em que costuma percorrer a menor distância na comparação com o "hop" e o "jump" (veja gráfico).

- O ponto fraco do Almir é o step. Ele precisa equilibrar melhor as três fases do salto triplo. Tem de fazer saltos mais equidistantes. O ideal não existe, mas seria 33,3% (percorrer a mesma distância em cada fase). É preciso melhor o ritmo do salto, a passada tem de ser de modo a perder menos contato com o solo, para não perder tanta velocidade horizontal. A queda é outro ponto a ser atacado. Ele dobra os joelhos antes de cair. Onde se coloca os calcanhares é onde cai a bunda - explica Arataca, ao frisar que a primeira marca do atleta na caixa de areia determina o ponto de medição do salto. - Mas não posso tirar a essência do salto dele, que é o ímpeto, a velocidade e a confiança.

Uma passagem em sua recente participação na Liga Diamante serviu de motivação para Almir em sua caminhada para evoluir na modalidade, e também ilustra o potencial a ser desenvolvido pelo atleta. Em Mônaco, o sogipano dividiu uma acomodação com o português Nelson Évora, campeão olímpico no triplo em Pequim 2008. Almir conta que recebeu uma espécie de feed-back do experiente atleta de 35 anos, a quem já derrotou em meetings pela Europa. O português disse que o colega tem motivos para acreditar que poderá chegar aos 18 metros. Uma aparente "corneta" de Évora foram as palavras que mais o animaram.

- Ele falou assim: "Te vi saltar 17m53cm sem saber saltar. Teu potencial é gigantesco" - narra Almir.

A evolução dos saltos

Em 108 anos de recordes homologados pela Iaaf, as marcas já avançaram quase três metros.

*O salto valeu ao brasileiro seu primeiro ouro olímpico, nos Jogos de Helsinque, na Finlândia. Em 1956, com um salto de 16m35, conquistaria bi olímpico em Melbourne, na Austrália.

**Na final olímpica do salto triplo na Cidade do México, o brasileiro Nélson Prudêncio chega a quebrar o recorde mundial, com a marca de 17m27cm, mas logo é batido pelo soviético, que fatura o ouro.

*****A marca que valeu o ouro pan-americano a João do Pulo só seria superada 10 anos depois, pelo americano Willie Banks.

****No Mundial de atletismo de Gotemburgo, na Suécia, o inglês é o primeiro homem a romper a barreira dos 18 metros no triplo, primeiro com a marca de 18m16cm e depois com o salto que é o recorde da prova até hoje