Esporte apaixonante
Uma comunidade movida pelo amor ao rugby
O frio da Serra Gaúcha durante o inverno pode ser tão rigoroso como as disputas de bola no rugby. Mas nem mesmo as baixas temperaturas — assim como as pancadas — são capazes de arrefecer o ânimo dos praticantes do esporte nascido na Inglaterra com seu mito fundador em 1823 e com as regras definidas em 1845. O que move um grupo de atletas amadores em Bento Gonçalves é a mais pura paixão, algo que se repete em outros cantos do Rio Grande do Sul e do Brasil.
O amor pelo esporte trouxe grandes resultados para o Farrapos. A equipe de Bento, além da hegemonia estadual — já são 13 títulos seguidos —, é a atual campeã da Copa do Brasil e vice-campeã brasileira na modalidade union, disputada por 15 jogadores de cada lado em dois tempos de 20 minutos.
Também levantou a taça de campeão nacional de sevens, disputada em campo com as mesmas dimensões que as do rugby union, mas por equipes de sete atletas em dois tempos de sete minutos (modalidade olímpica). O Farrapos tem como base o Estádio da Montanha, antiga casa do Esportivo, tradicional clube de futebol da cidade.
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Mesmo chovendo, com menos de 5ºC e neblina, sem enxergar um palmo na frente, estamos lá no estádio, correndo, se atirando no chão.
Daian Zonatto
presidente e atleta do Farrapos
O grupo do Farrapos, formado por cerca de 40 atletas, é completamente amador. Até recentemente, o único que recebia salário era o treinador, o argentino Javier Cardoso. Ele deixou o comando da equipe no início da disputa do Campeonato Gaúcho de 2025.
Porthus Junior / Agência RBS

Farrapos treina duas vezes durante os dias de semana, sempre à noite para não coincidir com o horário de trabalho dos atletas
Os resultados recentes do Farrapos são a colheita de anos de trabalho do clube criado em 25 de novembro de 2007 e que teve no Campeonato Gaúcho de 2010 seu primeiro título.
— Sou atleta do clube desde os 17 anos. Estou há mais de 13 anos jogando. Não é algo que a gente simplesmente acordou no ano passado e conseguiu conquistar na sorte. É um trabalho bem árduo, bem duro — destaca Daian Cristian Zonatto, 31 anos, que é presidente e pilar (jogador da linha de frente).
O clube treina duas vezes por semana (terças e quintas-feiras), sempre à noite para não atrapalhar a vida profissional dos atletas. Aos finais de semana, quando não há jogos, ocorre outra sessão. São momentos que poderiam ser de lazer, mas os jogadores deixam suas famílias e amigos para se dedicarem ao rugby — independentemente do clima:
— Mesmo chovendo, com menos de 5ºC e neblina, sem enxergar um palmo na frente, estamos lá no estádio, correndo, se atirando no chão. A gente não pode perder o dia de treino, independentemente da situação do tempo — relata Daian.
Porthus Junior / Agência RBS

Atletas na posição do scrum: situações de jogo são repetidas à exaustão
Amor à primeira vista
O futebol é, indiscutivelmente, a paixão nacional. Em 16 de agosto de 2009 o Caxias recebeu o Guaratinguetá pela partida de volta das quartas de final da Série C do Campeonato Brasileiro. Após perder por 2 a 0 na ida, a equipe da Serra precisava reverter o resultado para garantir o acesso para a Segunda Divisão nacional.
Com fé no time comandado por Gilmar Iser, 24.816 pessoas lotaram o Centenário — foi o maior público da competição naquele ano. Entre os presentes na arquibancada estava o representante comercial Fabio Vargas, hoje com 36 anos.
Foi no intervalo daquele jogo, que terminou empatado em 1 a 1 e com a eliminação do Caxias, que o hoje atleta do Farrapos conheceu o rugby. Nos 15 minutos da parada obrigatória do futebol, ele acompanhou uma demonstração realizada por atletas do Serra Gaúcha Rugby Clube. Foi amor à primeira vista.
— Eu fiquei olhando aqueles caras batendo cabeça e pensando: “Que jogo é esse?”. Acabei me interessando, fui atrás e comecei a jogar. Hoje, o rugby é um esporte que eu amo de verdade. Troco o futebol por ele. O que acontece dentro de campo é surreal. O espírito é de guerra, mas no bom sentido. A gente luta, briga e se atira no chão pelo companheiro, pelo time e pelo escudo que está defendendo — conta Fabio, há três anos no Farrapos.
Kévin Sganzerla / Farrapos / Divulgação

Fabio Vargas se apaixonou pelo rugby ao ver demonstração durante intervalo de uma partida de futebol
Exatos 15 anos depois de conhecer o esporte, Fabio ergueu com os companheiros do Farrapos, a taça da Copa do Brasil. A conquista, segundo ele, é um reflexo de treino intenso realizado mesmo com o foco dividido com o trabalho.
Além de atuar com a camisa da equipe de Bento Gonçalves, Fabio também é representante comercial. Assim, equilibra sua atuação profissional com os treinos. Ou seja, trabalha de dia e depois vai para a academia cuidar do preparo físico. No dia seguinte, a rotina é quase igual: cumpre seu expediente e depois participa do treino de campo.
Desenvolvimento
A busca por crescimento nacional e relevância internacional
Entre as grandes potências do rugby mundial estão Nova Zelândia, África do Sul, Austrália, Inglaterra, Irlanda e França. Na América do Sul, destaque para a Argentina. Para que a modalidade cresça e conquiste mais espaço no Brasil, a Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) trabalha em diversas frentes.
A entidade é responsável pelas seleções masculinas e femininas adulto e juvenis, que contam com mais de 100 atletas envolvidos, e organiza todas as competições nacionais de todas as categorias, o que inclui competições masculinas de rugby union (Super 12, Torneio de Acesso, Copa dos Campeões e Copa do Brasil) e sevens (Brasil Sevens) e de rugby sevens feminina (Suprer Sevens).
Zach Franzen / World Rugby / Divulgação

Brasil de Thalia disputa na elite do rugby sevens mundial
No Brasil, as mulheres têm tido os resultados mais expressivos. As Yaras (seleções femininas) estão na elite mundial, tanto no sevens quanto no union, buscando se consolidar entre as melhores equipes. Na etapa de Vancouver do Circuito Mundial de Rugby Sevens, disputada em fevereiro no Canadá, conseguiram dois feitos históricos: bateram a seleção australiana pela primeira vez e encerraram a etapa em quinto lugar, melhor colocação alcançada pelas Yaras numa etapa.
Na modalidade union, as brasileiras farão sua estreia na Copa do Mundo, em torneio marcado para o segundo semestre de 2025.
Os Tupis (seleções masculinas) tentam alcançar pela primeira vez uma classificação à Copa do Mundo — a ser disputada em 2027 — na modalidade union, o que pode se tornar realidade ainda neste ano. Na disputa, os brasileiros estão no Sevens Challenger, considerado a segunda divisão mundial. Para se classificar à elite é necessário terminar entre as quatro primeiras equipes ao final de três etapas para disputar um playoff junto com as quatro piores seleções do Circuito Mundial.
Hong Kong China Rugby / Divulgação

Tupis têm chance de se classificar para a Copa do Mundo
A CBRu também mantém a franquia Cobras, que disputa a Super Rugby América — a liga sul-americana da modalidade. O elenco é formado por um selecionado de atletas que atuam nas equipes brasileiras. O Rio Grande do Sul é representado por dois atletas: Vicente Galvão, do Farrapos, e Tiago Gonçalves dos Santos Júnior, do Charrua de Porto Alegre.
— A experiência aqui é muito boa. A gente faz os nossos treinamentos no Núcleo de Alto Rendimento (da CBRru). Tem toda a estrutura de equipamento e campo e assessoria com nutrição, fisioterapia e, se precisar, medicina — relata o representante da equipe de Porto Alegre.
Tiago, 28 anos, descobriu o rugby aos 13 anos no projeto Interagir, que é desenvolvido pela Fundação de Educação e Cultura do Internacional (FECI). Interessado no esporte, entrou um ano depois para as equipes juvenis do San Diego — que encerrou as atividades após a pandemia e somou-se ao Charrua. Lá, destacou-se e foi convocado para a seleção juvenil para a disputa do Sul-Americano da modalidade de 2015.
No ano passado, o atleta, que atua como pilar, jogou pela franquia do Sul (formada por atletas de times do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) na disputa da Superliga Paulista de Rugby. Lá, destacou-se e recebeu o convite para integrar o Cobras.
Tiago encontrou no rugby muito mais do que um esporte:
— O clube é a família da gente. Meus amigos de sempre são do rugby. Conheci minha esposa lá (no San Diego) e estou criando meu filho também (no ambiente da modalidade). É o meu lugar de paz, de felicidade. O rugby representa muita felicidade.
Ruas Midia / Gaspa Fotos / Divulgação

Tiago, ao centro, em lance de partida do Cobras contra o Peñarol
RS é o segundo Estado com mais praticantes
De acordo com a CBRu, existem cerca de 200 clubes e mais de 14 mil atletas registrados no país. Porém, os torneios oficiais envolvem pouco mais de 5 mil jogadores. O Rio Grande do Sul é o segundo estado com mais clubes e praticantes ativos, ficando apenas atrás de São Paulo.
No Estado, a hegemonia na categoria masculina tem sido do Farrapos, fundado em 23 de novembro de 2007 e que também se destaca no cenário nacional, seja no union ou no sevens. O clube mantém equipes adulta e juvenil masculinas. A categoria feminina foi desativada após a pandemia e há a perspectiva de retomá-la no próximo ano. Além disso, o Farrapos realiza ações sociais por meio do esporte atendendo meninos e meninas em escolas de Bento Gonçalves.
Outra equipe de destaque estadual é o Charrua. Fundado em 2 de junho de 2001, é o primeiro clube gaúcho de rugby. Também é o primeiro campeão estadual da modalidade. Nas suas fileiras surgiram diversos praticantes que ganharam destaque nacional. Hoje, são duas atletas na seleção feminina de union e outra na de sevens.
Além de participar com seu time masculino de rugby union na principal competição nacional e de disputar o campeonato estadual nas duas modalidades, o clube de Porto Alegre também está representado na modalidade sevens feminino nos âmbitos nacional e estadual. A perspectiva é começar a competir com o feminino union no próximo ano.
O clube da Capital conta ainda com categorias juvenis, que ainda estão em desenvolvimento e não competem. Os treinos englobando juvenil, feminino e masculino adultos ocorrem às terças e quintas-feiras no Campo Ramiro Souto, na Redenção, a partir das 18h30min. Os times adultos também treinam aos sábados, em turnos inversos, no Parque Esportivo Ipanema José Trindade, na Avenida Cavalhada, 6.735.
Campeonato Gaúcho
O Campeonato Gaúcho de Rugby Union de 2025, disputado na modalidade masculina, teve início no final de março. São oito equipes participantes: Farrapos, de Bento Gonçalves; Colonos, de Marau; Serra Gaúcha, de Caxias do Sul; Planalto, de Passo Fundo; Charrua, de Porto Alegre; Centauros, de Estrela; Antiqua, de Pelotas; e Brummers, de Novo Hamburgo.
As equipes estão divididas em dois grupos, que fazem entre si apenas confrontos de ida. Os melhores de cada grupo farão a final em jogo único, enquanto os segundo colocados fazem a disputa de 3º e 4º lugar. As datas dos confrontos finais não estão definidas.
Tirar clubes do amadorismo é o desafio
A CBRu presta apoio às federações estaduais, desenvolvendo projeto de fomento e programas de apoio para categorias de base. A capacitação de profissionais é outra ação da entidade.
Um grande desafio enfrentado pela confederação é o fato de que todos os clubes no Brasil são amadores. De acordo com a CBRu, alguns jogadores até são remunerados, mas, na prática, o rugby nacional é amador.
Para viver da modalidade como atleta, é necessário fazer parte das seleções. Tiago, por exemplo, ainda precisa deixar os treinos do Cobras para, periodicamente, retornar ao Rio Grande do Sul e atuar como pintor industrial. No entanto, ele garante tratar-se de uma exceção na franquia nacional.
Guia rápido
Conheça os valores e as regras do esporte
Os pilares do rugby não estão propriamente ditos nas regras do jogo, mas sim em um conjunto de valores que devem ser exercidos por aqueles que praticam o esporte. São princípios que influenciam a conduta dentro e fora de campo, ajudando no desenvolvimento de atletas e cidadão. Confira quais são eles:
— Esses valores criam a conduta rugby. Sempre que a gente vai, por exemplo, jogar fora, tentamos deixar o vestiário da melhor maneira possível, o mais limpo possível. E fazer um jogo duro e limpo dentro das quatro linhas. A disputa mesmo é só em campo. Depois a gente vai para o “terceiro tempo”, que é uma confraternização com a equipe adversária e uma cultura do rugby — reforça Tiago Gonçalves dos Santos Júnior.
O atleta do Charrua e do Cobras salienta que os praticantes da modalidade acabam levando esses princípios também para a vida fora do esporte, tornando-se melhores cidadãos.
Entenda como se joga o rugby
Apesar do campo com dimensões parecidas com o de futebol e certa semelhança visual com o futebol americano, o rugby é um esporte completamente diferente. Desde a troca de passes, que quando feita com as mãos deve ser na mesma linha ou para trás, até as disputas por bolas por meio do scrum, formação com oito jogadores de cada lado que deve empurrar a formação adversária para conquistar a posse.
Além disso, assim como no futebol, há variantes com o número de participantes. Há o union (também chamado de XV), disputado por 15 jogadores de cada lado, e o sevens, disputado por sete atletas (a modalidade olímpica). Zero Hora compilou no infográfico abaixo os principais fundamentos do esporte.
Do campo para os videogames
Presença em jogo eletrônico dá moral ao esporte, aos clubes e aos atletas
Ser jogador de futebol é um sonho comum de crianças e adolescentes de todo o mundo. Estar presente em um jogo eletrônico da modalidade vem na esteira. E o rugby também marca presença no universo dos games.
O Charrua, de Porto Alegre, e o Farrapos, de Bento Gonçalves, estão licenciados no jogo Rugby 2025, o equivalente ao EA FC ou eFootball no futebol. Participam ainda outros 12 clubes brasileiros, além das seleções nacionais e da franquia Cobras.
Esse é um passo que dá visibilidade à modalidade no país e anima os atletas, que viram personagens jogáveis em um jogo eletrônico para consoles e computadores. Na vida real, eles trabalham em diversas áreas, como na indústria metalúrgica, na prestação de serviço (motoristas e entregadores) e até na colheita da uva na Serra.
— Imagina o mundo inteiro podendo jogar com o Fabio, que trabalha o dia inteiro e pratica o esporte dele como um hobby? É sensacional! Sempre joguei videogame e a gente imagina poder jogar consigo mesmo — confidencia Fabio Vargas, do Farrapos, que ainda não teve a oportunidade de jogar “consigo mesmo” por ter vendido o seu console após o nascimento da filha em razão do pouco tempo para jogar nele.
Rugby 2025 / Reprodução

Escudo, uniforme e jogadores do Farrapos estão no jogo eletrônico
Presidente do clube defendido por Fabio, Daian Cristian Zonatto recorda que foi lento o processo para fazer parte do jogo eletrônico desenvolvido pela Nacon, em parceria com a Big Ant Studios, foi capitaneado pela Confederação Brasileira de Rugby (CBRu). Foram mais de dois anos desde a assinatura dos contratos e direitos de imagem até o desenvolvimento do Rugby 2025.
Houve descrença de que os clubes estariam nos consoles, mas streamers da França começaram a contatar a equipe da Serra para mostrarem imagens do jogo eletrônico no qual o time aparecia. A confirmação, segundo Daian, causou euforia:
— Foi uma sensação única. Foi como se ganhássemos um título. A gente sabe o quanto isso é importante para o esporte, ainda mais para o nosso clube.
Conforme o presidente do Farrapos, estar no jogo eletrônico dá uma ótima visibilidade que, aliada às conquistas em campo, auxilia na captação de recursos e representa uma contrapartida para os patrocinadores. Daian reforça a importância deste retorno ao fazer os cálculos para manter a equipe no topo. Uma viagem para os jogos do nacional em Santa Catarina ou Paraná gira em torno de R$ 10 mil, por exemplo.
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Como diz o nosso lema: não está morto quem peleia. A gente está sempre peleando, sempre tentando arranjar dinheiro daqui, ajuda de pessoas ali. Então, para nós, acaba que a gente está sendo visto.
Tamara Ribas
capitã da equipe feminina adulta do Charrua
Um grande cartão de visitas
O histórico de conquistas e feitos do Charrua alia-se ao fato de o pioneiro da modalidade em solo gaúcho estar no Rugby 2025. Capitã da equipe feminina adulta, Tamara Ribas, 32 anos, acredita no crescimento da entidade com sua marca mais exposta, tendo nos seus atletas e na presença no jogo eletrônico um belo cartão de visitas.
— Como diz o nosso lema: não está morto quem peleia. A gente está sempre peleando, sempre tentando e arranja dinheiro daqui, ajuda de pessoas ali. Então, para nós, acaba que a gente está sendo visto — comenta e completa:
— Ter atletas (do Charrua) jogando na seleção e a questão do jogo (Rugby 2025) traz uma grande visibilidade que a gente acredita que vai nos ajudar bastante em outros setores, como de patrocínio.
A representante do clube da capital gaúcha conta que a presença da equipe masculina no jogo é divertida e motivadora. Além disso, é uma forma de mostrar que, estar na elite do rugby nacional, mesmo sendo uma equipe amadora, é um grande feito. E não pode ser visto como algo rotineiro ou comum.
Tamara crê que a presença no jogo eletrônico também dará mais visibilidade à modalidade como um todo, permitindo uma renovação dos atletas com a criação de uma nova geração de apaixonados pelo rugby. A capitã, que também gerencia as redes sociais do Charrua, conta que já há um interesse criado pela presença no Rugby 2025. Logo, o momento é de aproveitar a oportunidade para ampliar o número de praticantes.
Rugby 2025 / Reprodução

Tupis, nome dado à seleção brasileira masculina, é um dos times jogáveis
Equipes brasileiras representadas no jogo

Charrua (RS)

Farrapos (RS)

Desterro (SC)

Joaca (SC)

Curitiba (PR)

Pé Vermelho (PR)

Niterói (RJ)

Jacareí (SP)

São José (SP)

Piracicaba (SP)

Pasteur (SP)

Poli (SP)

Tornados de Indaiatuba (SP)

SPAC (SP)

Tupis
(seleção masculina)

Yaras
(seleção feminina)

Cobras
(franquia da CBRu que disputa a liga profissional Super Rugby Américas)
Sobre o Rugby 2025
O jogo eletrônico desenvolvido por Nacon e Big Ant Studios está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC. São mais de 140 equipes licenciadas, estádios lendários e diversas competições. Os jogadores podem optar por disputar as partidas na modalidade union ou na sevens. O Rugby 2025 custa R$ 259,99 para PC e a partir de R$ 220 para consoles.
Entrevista
“O rugby mudou a minha vida em todos os sentidos”, afirma Raquel Kochhann, destaque da seleção
SVNS/Divulgação

Raquel (de moicano) esteve em campo na vitória histórica sobre a Austrália
Raquel Kochhann, 32 anos, ainda acompanhava a trajetória da bola que ela havia chutado para fora do campo, encerrando a partida, quando suas colegas de seleção iniciaram uma celebração que esquentou a fria noite de 21 de fevereiro na costa oeste do Canadá — já madrugada do dia 22 no Brasil. As Yaras haviam batido a Austrália pela primeira vez na história.
A partida começou complicada para as brasileiras, que foram para o intervalo perdendo por 12 a 0. No segundo tempo, Yasmim brilhou com dois tries e o Brasil chegou aos 14 pontos. No final da partida, Thalia fez uma arrancada incrível para derrubar uma atleta australiana e impedir o que seria um try certo. Foi na disputa pela bola após esse lance que Raquel chutou a bola para fora e começou a festa brasileira.
O triunfo ocorreu na etapa de Vancouver do Circuito Mundial de Rugby Sevens. A vitória por 14 a 12 sobre a atual campeã mundial não foi o único feito das Yaras na competição. Elas terminaram a fase na melhor posição já conquistada até então: quinto lugar.
Na fase de grupos venceram Austrália e Espanha e perderam para o Canadá. Nas quartas, caíram para Fiji, que terminou na segunda posição, sendo batida pela Nova Zelândia. Na disputa do quinto lugar, as Yaras bateram a Grã-Betranha por 19 a 10. A campanha foi superior a de Dubai em 2021, quando elas alcançaram o sexto lugar.
Ambos os momentos históricos vão para o rol de oportunidades que o rugby deu para a catarinense que descobriu o esporte no Rio Grande do Sul. Foi a modalidade, aliada à sua história de superação de um câncer, que também a levou Raquel a ser a porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris no ano passado.
Atleta também do Charrua, clube de Porto Alegre, Raquel contou em entrevista à Zero Hora como o esporte que ela descobriu aos 17 anos mudou a sua vida de diferentes formas, destacou a evolução do rugby brasileiro e garantiu que novos praticantes serão recebidos de braços abertos.
SVNS/Divulgação

Atleta do Charrua também defende as cores da seleção
Confira a entrevista na íntegra
As Yaras tiveram no final de fevereiro um resultado histórico no circuito de sevens, tanto ao bater a Austrália quanto ao terminar a etapa de Vancouver em quinto lugar. Como foi participar desse momento?
Foi um torneio incrível. A gente começou bem. No primeiro jogo, contra as donas da casa, por mais que não tenhamos saído com a vitória, o time começou bem conectado, bem encaixado. Fizemos um bom jogo, perdemos no detalhe. Foram menos de sete pontos de diferença. Começamos com essa conexão muito boa e, quando a gente entrou contra a Austrália, foi na intenção de colocar o nosso melhor rugby dentro de campo e, felizmente, a saímos com a vitória. Acho que (o triunfo) leva muito isso, do quão forte está se tornando o nosso coletivo, uma arma a nível mundial.
E como é que tu vês a evolução do rugby brasileiro?
Em constante evolução. Quanto mais campeonatos e mais atletas de alto nível tivermos, maior será o nosso nível para competir a nível mundial. A gente vem melhorando os nossos campeonatos nacionais e, quando conseguirmos ter realmente um nível maior aqui, conseguiremos maiores conquistas lá fora.
Como foi o teu primeiro contato com o rugby e o que te fez se apaixonar por esse esporte?
Faz muitos anos. Quando eu estava morando em Caxias do Sul, eu tive um convite para conhecer o Serra Rugby Clube e foi literalmente amor ao primeiro contato. Um treino de contato, um dia meio chuvoso. Aí falei: “Cara, esse é meu esporte, é isso que eu quero praticar”. Desde então me dedico 100%. Tanto que, logo em seguida, consegui entrar na seleção e represento o nosso país há mais de 10 anos.
E já são quantos anos no rugby?
Eu comecei a jogar em 2009, fazem alguns anos (risos).
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O rugby é um esporte que merece atenção porque ele trabalha muito além do que só a modalidade dentro de campo. Ele trabalha os valores e faz com que a gente cresça como pessoas fora de campo também.
Raquel Kochhann
atleta das Yaras e do Charrua
Hoje, o que o rugby representa para ti e de que forma ele impactou a tua vida?
Representa uma transformação total. O rugby mudou a minha vida em todos os sentidos. Sempre tive esse sonho de ser atleta. Eu fui para Caxias do Sul em busca desse sonho, mesmo que ainda em outra modalidade (futebol, no Juventude). Quando conheci o rugby, consegui realizar esse sonho de vestir a amarelinha e me mudei para São Paulo. Hoje tenho a felicidade de viver desse esporte. É uma transformação total que me deu a felicidade de viver o meu sonho todos os dias.
Gaspar Nóbrega/ COB/ Divulgação

Kochhann foi porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris
E teve um momento bacana ano passado também nas Olimpíadas.
Fui escolhida como porta-bandeira na abertura dos Jogos Olímpicos. Foi uma conquista muito grande para o rugby brasileiro, que ainda não tinha chances claras de medalha. O rugby é um esporte que merece atenção porque ele trabalha muito além do que só a modalidade dentro de campo. Ele trabalha os valores e faz com que a gente cresça como pessoas fora de campo também...Um pouco sobre a minha história: fui escolhida (porta-bandeira) pela superação, por ter vencido um câncer. Então, por mais que eu pratique um esporte de contato, um esporte de altíssima intensidade, eu consegui voltar a praticar ele em nível internacional mesmo depois de um diagnóstico de câncer.
Neimar De Cesero/ Agência RBS

Após as Olimpíadas, Raquel participou de ação em escola onde estudou em Caxias do Sul
Tu moras em São Paulo, mas também fazes parte de uma equipe daqui de Porto Alegre, o Charrua. Como faz para conciliar?
No Brasil, os clubes são amadores. As únicas equipes profissionais são as da seleção brasileira. Então, meu trabalho é aqui em São Paulo, e nós jogamos representando o nosso clube quando somos liberadas. Eu, geralmente, sou liberada próximo a campeonatos nacionais. Quando o Charrua vai disputar um, a gente consegue treinar uma semana com o clube e voltar a representar a seleção depois.
Alexandre Loureiro / COB / Divulgação

Atleta vive em São Paulo, onde treina em tempo integral com a seleção
E como é que a rotina de treino na seleção?
Aqui é o nosso emprego. A gente tem uma rotina semanal bem puxada, treinamos de cinco a seis dias por semana. Começando todos os dias de manhã indo até metade da tarde, são quatro a seis horas diárias. É algo bem intenso para que a gente tenha condições de disputar a nível mundial.
Para quem se interessar pelo rugby, alguma dica?
Conheçam os clubes, entrem no site da Brasil Rugby (Confederação Brasileira de Rugby, www.brasilrugby.com.br). Eles têm indicação de todos os clubes cadastrados e federados. No Rio Grande do Sul temos grandes clubes que nos representam. Então, sempre que tiver interesse, independentemente da cidade, olha no Brasil Rugby qual é o clube mais perto que todos sempre vão estar de braços abertos para acolher quem tiver interesse em conhecer a modalidade.
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Reportagem
André R. Herzer
Edição
André R. Herzer
Eduardo Castilhos
Felipe Bortolanza
Lucas Henriques
Webdesign
Carlos Garcia
