O Segundo Caderno abre a série com o melhor de 2016 destacando as melhores performances musicais do ano no Rio Grande do Sul. Entre a despedida do Black Sabbath e a força de Karol Conká, o momento inesquecível foi a apresentação dos Rolling Stones, sob um verdadeiro dilúvio, no estádio Beira-Rio. Confira, a seguir, uma compilação dos 10 melhores shows da temporada.

RETROSPECTIVA

2016

SHOWS

STONES CONTRA O TEMPO

Foi transbordante em chuva, suor, lágrimas e emoção o primeiro show dos Rolling Stones em Porto Alegre. Beira-Rio, 2 de março de 2016. Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood deram de ombros ao tempo e ao mau tempo para apresentar um espetáculo memorável em que transbordou também a energia juvenil que mantém ardendo um repertório recheado de hinos do rock. Na Olé tour, extensão do giro mundial iniciado em 2012 para comemorar os 50 anos de carreira, abriram a noite com Jumpin' Jack Flash e enfileiraram riffs de clássicos como (I can't get no) Satisfaction, Brown sugar e Start me up. O saltitante Jagger colocou a multidão para dançar com Miss you, comandou com sua gaitinha a febril versão de Midnight rambler, dançou sob a chuva com a vocalista Sasha Allen em Gimme shelter, fez as honras ao capeta em Sympathy for the devil e cantou com o coral da PUCRS a épica You can't always get what you want. Foi uma noite para não ser esquecida.

O DESFILE DE HITS DO AEROSMITH

Uma noite para celebrar seus clássicos sem esquecer dos hits. Esse pode ser o resumo do show que Steven Tyler, Joe Perry, Brad Whitford, Tom Hamilton e Joey Kramer trouxeram a Porto Alegre, em outubro. Em sua segunda passagem pela cidade, agora tocando no Anfiteatro Beira-Rio, o Aerosmith se concentrou em faixas do blues rock que o notabilizou no início da carreira, nos anos 1970. Entre elas, Kings and queens, Sweet emotion, Train kept a-rollin' e Back in the saddle. Na cota de sucessos radiofônicos entraram Cryin' e Crazy e I don't want to miss a thing (trilha sonora do filme Armageddon, 1998). Como de praxe, Tyler comandou o show escudado por Perry, mas sempre arrastando os holofotes para o restante da banda, em uma performance quase intimista. Foi o Aerosmith em seu melhor momento até agora.

SÓ DEU ELAS NO UNIMÚSICA

O projeto cujo mote em 2016 foi a sentença “sobre a palavra futuro” despediu-se apropriadamente com a cantora do milênio (título recebido em 1999 pela BBC): Elza Soares, que já havia estado em Porto Alegre em abril, voltou em novembro para fechar o Unimúsica. Elza vive aos 79 anos uma fase consagradora desde que lançou, no ano passado, o disco A mulher do fim do mundo – base do espetáculo apresentado no Salão de Atos da UFRGS. Espécie de contraponto à série Irreverentes, de 2015, que contou só com homens na programação, os shows do Unimúsica deste ano foram liderados por mulheres. A temporada iniciou-se em junho com Maria Bethânia, apresentando um espetáculo com poemas e textos selecionados por ela, mesclados a músicas pouco usuais em seu repertório. As atrações seguintes foram as cantoras Juçara Marçal, Marlui Miranda e Karina Buhr, além do show coletivo com Carina Levitan, Gisele De Santi, Gutcha Ramil e Vanessa Longoni.

O ADEUS DO SABBATH

Em turnê de encerramento de atividades, o Black Sabbath provou que nem mesmo a idade avançada, o passado de excessos de seus integrantes e um lugar inóspito como o Estacionamento da Fiergs conseguem arrefecer seu poder de fogo. Na segunda apresentação em Porto Alegre, em 28 de novembro, a banda mostrou um set list conciso, com Ozzy, Tony Iommi e Geezer Butler apresentando pedras fundamentais do heavy metal, como Black Sabbath, Paranoid, War pigs, Iron man e NIB.

A conexão com o público, estimado em cerca de 18 mil pessoas, foi completa do começo ao fim. Nem Ozzy errando a entrada em Children of the grave foi suficiente para abalar o ânimo dos fãs. Uma performance poderosa, genuína e histórica, apropriada para uma banda que, como poucas, sabe parar enquanto lhe sobra dignidade.

02/03 - Estádio Beira-Rio

11/10 - Anfiteatro Beira-Rio

03/1 - Salão de atos da UFRGS

28/11 - Estacionamento da Fiergs

ENFIM, O GUNS

Depois de duas visitas contando apenas com seu vocalista, o Guns N' Roses apresentou seu lineup (quase) original em Porto Alegre no dia 8 de novembro. Diante de um Beira-Rio com quase 50 mil pessoas, Axl Rose, Slash e Duff reprisaram o espetáculo que vêm mostrando desde que acertaram seus ponteiros, em abril. No repertório, clássicos como Welcome to the jungle, Sweet child o'mine e November rain, além de canções do álbum Chinese democracy, como This I love. Mesmo sem demonstrar entrosamento no âmbito pessoal, o trio de fundadores deu tudo de si em cima do palco, com destaque para os solos de Slash, momentos em que o público pareceu mais empolgado. Quem viveu o auge da banda e tanto aguardou por esse momento não esquecerá tão facilmente.

08/11 - Estádio Beira-Rio

LINIKER NO CLIMA DAS OCUPAÇÕES

Tomado pelo clima das ocupações, o Salão de Atos da UFRGS lotou no começo de dezembro para conferir uma das performances mais impactantes do ano. Vestindo uma calça boca de sino branca, regata justa e brincos enormes, Liniker, acompanhada do grupo Caramelows, deu início ao show com a poderosa Remonta, música que dá nome ao primeiro disco do grupo, lançado em setembro. Comandada por uma "mulher trans e preta", a banda formada em Araraquara (SP) que surgiu no YouTube em outubro de 2015 pedia passagem. Após milhões de visualizações nos vídeos das músicas Caeu, Louise du Brésil e Zero, que compõem o EP de estreia, Cru, o grupo deixava claro não se tratar apenas de um fenômeno passageiro da internet. No show, além das músicas com letras românticas, Liniker fez ainda uma linda homenagem às mulheres no bis, cantando Maria da Vila Matilde (Porque se a da Penha é brava, imagine a da Vila Matilde!), de Elza Soares.

CÉU É AQUI

Uma das mais importantes cantoras da nova geração, Céu apresentou em outubro na Capital o elogiado disco Tropix, consagrado no mês passado durante a premiação do Grammy Latino. Mais arrojado disco da carreira da paulistana, Tropix mostra a evolução da artista, que cresceu muito também no palco desde o lançamento de CéU, de 2005. O que se viu no Opinião foi uma cantora segura, que pouco lembra aquela menina do início da carreira, quando, por causa da timidez, chegava a cantar de costas para o público. Ao lado de músicos competentes, Céu mostrou aos porto-alegrenses um show dançante, no qual revisitou os seus maiores sucessos com uma pegada “eletrônica-tropical”. Uma das melhores surpresas da música brasileira deste ano.

02/12 - Salão de Atos da UFRGS

08/10 - Bar Opinião

O NOME DELA É KAROL

Vestindo uma camiseta branca semitransparente, Karon Conka começou o show no Opinião em 30 de novembro com o hit É o poder, para fazer jus ao título que ostentou ao longo deste ano: o de tombadora. Principal voz do hip-hop feminino do país, a cantora brilhou ao longo de 2016 e viveu o ponto alto de sua carreira na abertura dos Jogos Olímpicos, no Maracanã. Mas é no meio de seu "público louco", nas palavras da cantora, que Mamacita mostra a irreverência que a levou a ser apontada como sensação do ano. Na apresentação na Capital, além das letras sobre empoderamento feminino, não faltaram tiradas inteligentes.

Do show, encerrado com um cover de Back to black, de Amy Winehouse, vale destacar ainda uma dublagem de Beyoncé feita de improviso, com direito a dançarinos recrutados na plateia. Surpreendeu até os maiores fãs da artista.

CAETANO & TERESA

O fim da temporada de shows de 2016 foi em grande estilo com um lindo concerto duplo no último dia 15, que reuniu Teresa Cristina e o violonista Carlinhos Sete Cordas interpretando clássicos de Cartola e depois Caetano Veloso acompanhando-se ao violão e cantando seu variado repertório. Um excitadíssimo e cheio Araújo Vianna assistiu à comunicativa cantora carioca apresentar sambas antológicos como O mundo é um moinho e Cordas de aço. Em seguida, o cantor e compositor baiano passeou por sua trajetória, de Um índio até A luz de Tieta. O final apoteótico, no bis, foi com o trio interpretando Tigresa, Odara e Desde que o samba é samba.

30/11- Bar Opinião

15/12 - Auditório Araújo Vianna

PERSPECTIVA 2017

O ano nem terminou, mas já é possível vislumbrar um 2017 com vários grandes shows em Porto Alegre. Em janeiro, a Capital receberá o POA Jazz Festival, com suas atrações nacionais e internacionais. Na sequência, Andrew Tosh, filho da lenda do reggae Peter Tosh, trará a banda do pai para o espetáculo Peter Tosh celebration tour, no Araújo Vianna. Março abre a temporada de rock, com o vocalista do Supertramp, Roger Rodgson, no Pepsi On Stage. No mesmo mês, o casal Tuck e Patti estará no Bourbon Country. Em abril, será a vez de Bryan Adams e Korn estrearem em Porto Alegre, além da dobradinha Elton John e James Taylor no Beira-Rio. Em seguida, virão a jazzista Diane Schuur e a banda Rhapsody, com os norte-americanos do 10.000 Maniacs fechando o primeiro semestre.

MARSALIS EM CANOAS

Delfeayo Marsalis e sua banda fizeram no dia 27 de novembro, em Canoas, um dos melhores shows de jazz que Porto Alegre não viu. O trombonista norte-americano e seu baita conjunto – que incluía entre os ótimos solistas o baterista Marvin “Smitty” Smith – arrasaram no Canoas Jazz tocando versões de standards como Autumn leaves e My romance. Além de apresentar um tema empolgante do irmão Jason Marsalis, chamado Simon’s journey, o último cavalheiro sulista Delfeayo chamou no palco dois jovens músicos gaúchos: o bandolinista Elias Barboza e o violonista Mathias Pinto. Juntos, tocaram Corcovado e But beautiful. O concerto memorável terminou com Delfeayo, o ótimo saxofonista Khari Allen Lee e o acordeonista suíço Olivier Forel desfilando pela plateia tocando Down in New Orleans, antes do bis.

27/11 - Salão de Atos do Unilasalle/Canoas

Atualizado em 28 de dezembro de 2016

textos

Gustavo Brigatti

Marcelo Perrone

Rafael Balsemão

Roger Lerina

DESIGN

Thais Longaray