SAMU sob ameaça

Antes de se espraiar pelo Brasil, o Samu nasceu em uma pequena sala do 5º andar do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Foi ali que, em novembro de 1995, a partir de um acordo com a França, implementou-se um projeto-piloto do Service d’Aide Médicale d’Urgence (Samu). O modelo francês foi escolhido por ser considerado um dos mais eficientes em todo o mundo, diferenciando-se pela presença de médicos nas equipes de atendimento em ambulâncias. A iniciativa espalhou-se por outros municípios do país e, em 2003, foi lançada em nível nacional pelo Ministério da Saúde.

O serviço é organizado a partir de centrais, que recebem os chamados. No Estado, são cinco centros de regulação: em Porto Alegre, Caxias do Sul, Bagé, Pelotas e um estadual, que recebe ligações de 243 municípios e aciona ambulâncias de mais de 130 bases.

Quando uma ligação para o 192 cai na central de Porto Alegre, passa por uma rápida triagem, em que serão registrados dados como o endereço onde está a vítima. Na regulação, um médico verifica a gravidade do caso e, se necessário, aciona o deslocamento de uma equipe, em unidades de suporte avançado (UTI móvel) ou básico – o que muda é que, na primeira, há a presença de um médico, além do técnico em enfermagem ou enfermeiro e do condutor. A ambulância partirá da base mais próxima à vítima. Na Capital, em 2015, devido ao trânsito, às distâncias e à má sinalização de ruas, o tempo médio de resposta para os mais de 40 mil chamados foi de 15 minutos – que, para vários dos atendidos, representaram a diferença entre a vida e a morte.

O serviço, inteiramente gratuito para o paciente, poderá sofrer o impacto da redução de R$ 5,5 bilhões no orçamento do Ministério da Saúde. A gestão anterior da pasta já havia afirmado que a verba para o Samu seria suficiente somente até agosto. O novo ministro da Saúde, Ricardo Barros, comprometeu-se a buscar dinheiro junto ao Planejamento, mas não informou onde seriam feitos os cortes, se necessários. No Samu de Porto Alegre, por exemplo, o repasse mensal do governo federal cobre, em média, 10% do total dos custos. O restante é subsidiado pelo Estado e, em maior parte, pela prefeitura – cerca de 80%.

 

QUANDO CHAMAR?

Um dos maiores problemas enfrentados por funcionários do Samu é o número de trotes, enganos ou pedidos de informações que não dizem respeito ao serviço – somam 40% das ligações. Para que o atendimento seja rápido, o 192 só deve ser acionado em casos que possam levar o paciente ao sofrimento, sequelas ou mesmo à morte. Entre eles, estão ocorrências como acidentes, choque elétrico, falta de ar intensa, suspeita de infarto e acidente vascular cerebral, afogamentos, queimaduras graves, urgências psiquiátricas e situações em que a vítima estiver inconsciente.