Bora para Bora Bora?

 

Bora Bora se tornou o principal destino polinésio não tanto por suas belezas, mas porque, por muito tempo, teve o único aeroporto dos arquipélagos. Isso graças aos Estados Unidos, que, em 1942, construíram as pistas ali, por considerar o local um ponto estratégico na disputa contra o Japão na II Guerra Mundial. Foi só décadas depois que o Taiti ganhou seu próprio aeroporto.

 

O "presente" dos americanos contribuiu, claro, mas os turistas não iriam para lá aos milhares se o lugar não tivesse ganho fama mundial de ser um paraíso na Terra. E posso dizer que não me decepcionou.

 

Bora Bora tem uma ilha principal, onde fica o centro comercial (Vaitapé) e o Monte Otemanu, cujo desenho dá uma graça especial às fotos. A ilha maior é circundada por ilhotas, chamadas de motus. Nelas estão a maior parte dos resorts, cujos bangalôs entram mar adentro, criando o cartão-postal da Polinésia Francesa.

 

Tive duas experiências bem diferentes na ilha. Na primeira, a convite, fiquei no Le Méridien, no motu Tape (preço da diária parte de US$ 640, para casal e uma criança). Meu bangalô tinha 50 metros quadrados de muita comodidade entre os destaques, cama de casal king size, banheira e um deck com espreguiçadeira e acesso ao mar azul turquesa por meio de uma escada. O resort conta com algumas prainhas de águas calmas e límpidas e uma piscina infinita ao lado do bar a vista ao Otemanu é linda. Também conta com uma capela, para quem quiser casar por lá.

Ilhas visitadas por GaúchaZH

No hotel, eles têm um projeto bem legal que ajuda na reabilitação de tartarugas marinhas feridas (especialmente por caçadores). Os turistas podem acompanhar o trabalho e visitar os grandes animais em seus tanques se der sorte, até ver o momento em que devolvem algum paciente recuperado ao mar.

 

Minha segunda experiência foi por minha conta, em um pequeno hotel em Vaitapé (Oa Oa Lodge). Acabou não sendo a melhor escolha. Hospedar-se perto do centro comercial pode ser conveniente, mas você fica muito longe da praia pública de Bora Bora, Matira. Aliás, para explorar os recantos da ilha, é muito útil alugar carro, motocicleta ou bicicleta (tem até um carrinho automático para quem não sabe dirigir). Táxis são muito caros, uma corrida dificilmente custa menos de US$ 20.

Em dias comuns, Matira é bem tranquila, apesar de contar com muitos bares e restaurantes. A praia enche quando há algum navio de cruzeiro atracado, e os passageiros descem aos montes ao mesmo tempo, todos com toalhas iguais. Chega a ser engraçado. O bom desses dias é que colocam nas ruas umas jardineiras para transportar os turistas de Vaitapé a Matira por apenas 500 XPF (US$ 5). Para quem se hospeda nos motus, os resorts oferecem gratuitamente transporte de barco ida e volta até Vaitapé em alguns horários.

 

Independentemente de qual for a sua hospedagem, um passeio de barco é atração obrigatória. Há inúmeras empresas que oferecem o tour, mas a programação deles é praticamente a mesma. O que muda geralmente é o tipo de embarcação.

Fiz o passeio com a empresa Shark Boy, cujo guia é uma figura. Só não gostei muito do barco, que balançava demais e me deixou enjoada. Tanto que acabei nem pulando no mar para a melhor parte: o nado com os tubarões. Você pega um snorkel e observa os animais passando muito perto. Eles não são grandes e perigosos como o célebre tubarão branco e não atacam os humanos (mas é bom não provocar, né?).

O barco também para em um ponto raso onde podemos nadar com arraias. Aliás, a variação de profundidade é uma característica extraordinária da Polinésia Francesa, formada sobretudo de corais. No meio do mar, você encontra pontos rasos, que chegam até a dar pé. É interessante observar essas diferenças na cor da água, que varia conforme a profundidade (quanto mais forte é o azul, mais profundo é o lugar). Muitas vezes, passa de raso para profundo abruptamente.

 

A última parada do passeio foi no motu Tevairoa, que tem uma praia tranquila. Enquanto os turistas se divertem na água, taitianos fazem o nosso almoço, que é servido em um prato feito de folhas. No cardápio, a especialidade local, poisson cru (atum cru marinado em suco de limão com vegetais em cubo e leite de coco), frango, arroz, salada de macarrão e frutas. Também dá para fazer só o tour, sem a comida (o valor varia de 65 a 70 euros).

Aeroporto no meio do mar

 

Como o aeroporto de Bora Bora fica em uma ilhota, o transporte é feito por barco. Há uma balsa gratuita para Vaitapé (veja na imagem abaixo), de onde saem embarcações para os resorts. Os principais oferecem transfer com barco próprio, mas o serviço não está incluído na diária – geralmente, a carona sai bem caro.

Beleza e tranquilidade em Tikehau

 

Um dos pontos mais importantes do planejamento da viagem à Polinésia, ao meu ver, é não esquecer de colocar um atol no roteiro. Tikehau, situado a noroeste do arquipélago de Tuamotu, a 12 quilômetros de Rangiroa, é uma bela opção. São cem ilhotas de coral que, juntas, em forma quase circular, criam uma lagoa ao centro, em uma superfície total de apenas 20 quilômetros quadrados. A beleza, contudo, é imensa.

 

As características peculiares de um atol fazem com que a água de quase todas as praias voltadas à lagoa sejam calmas e límpidas, com aqueles tons de azul e esverdeado que encantam qualquer um. Também fazem com que o transporte acabe sendo realizado basicamente por barco.

 

Na linguagem local, Tikehau significa algo como "lugar pacato", o que não poderia ser mais verdadeiro. O estilo de turismo por lá é bem diferente de lugares como Bora Bora e Moorea. Com cerca de 200 habitantes, Tikehau conta com menos de 10 pousadas e somente dois resorts: o Ninamu e o Tikehau Pearl Beach, onde fiquei hospedada. Ali, o luxo é a tranquilidade em um ambiente preservado, sem hordas de turistas.

 

O Pearl Beach, por exemplo, tem só 37 bangalôs 24 sobre a água e 13 em frente à praia. Dá para passar longos períodos sem encontrar outros hóspedes na propriedade, que tem uma ilhota de 40 mil metros quadrados (o motu Tiano), coberta por coqueiros, só para ela. Dá para curtir o sol na areia, conhecer as águas da lagoa em um caiaque, aproveitar a piscina diante do bar ou um tratamento no pequeno spa, tudo sem ser perturbado. Vi, de longe, uma senhora idosa curtindo um topless na praia sem que uma alma a importunasse.

Tikehau, dizem, é um dos lugares com mais diversidade de peixes na Polinésia. Então, há excursões para snorkeling e mergulho, com possibilidade de ver tubarões em um entorno supercolorido.

Tetiaroa, a ilha de Marlon Brando

 

Nos anos 1960, Marlon Brando comprou Tetiaroa, um atol no arquipélago de Sociedade. Chegou a ter um hotel simples por lá uma época, mas foi só em 2014, 10 anos após a morte do ator americano, que o lugar ganhou um resort de luxo, chamado The Brando. Desde então, o empreendimento teve várias celebridades como hóspedes – Barack Obama e Michelle ficaram duas semanas por lá em março, acompanhados de Tom Hanks e Bruce Springsteen, e Leonardo DiCaprio passa um tempo no resort todos os anos (em novembro, diz-se).

 

Hospedei-me dois dias no Brando, mas esta experiência contei na revista Donna. Acesse a reportagem sobre o The Brando aqui.

Os abacaxis de Moorea

 

Uma das coisas que mais me deixaram boquiaberta na Polinésia Francesa pode parecer banal: o sabor do abacaxi. As primeiras mudas chegaram lá saídas do Brasil, mas é inacreditável como a fruta ficou doce em terreno polinésio. Parece que colocaram açúcar (aliás, até o grapefruit não é amargo no Taiti).

 

Na montanhosa ilha de Moorea, a visita a uma plantação de abacaxis está entre as atrações de um dos passeios mais populares. Esse tour também leva os turistas para o topo da chamada Magic Mountain, que oferece uma bela vista panorâmica (veja a foto abaixo), a ruínas de um templo antigo e à loja de outra "instituição" polinésia, a fábrica de bebidas Rotui. Os sucos de fruta da marca são onipresentes por lá – sugiro sempre pedir o "Excellence", de embalagem preta, que é 100% natural. Contratei o passeio por meio do concierge do hotel a US$ 45, mas, se você marcar diretamente com a empresa, paga menos.

O programa mais popular é, sem dúvida, uma visita ao Lagoonarium (lagoonarium.e-monsite.com), área ao redor do motu (ilhota) Ahi em que se pode nadar com tubarões, arraias e observar milhares de peixes em um jardim de coral incrível. Para ajudar os turistas, há cordas de segurança nos principais pontos, importantes especialmente quando os funcionários alimentam os animais.

A entrada custa 3,4 mil XPF (no Lagoonarium, a taxa de conversão é de 90 XPF por dólar – portanto, se quiser pagar com a moeda americana, sairá por quase R$ 38). O preço inclui o transfer de barco, o guia, a observação dos peixes e dos corais, caiaques, colete salva-vidas, pequenas cabanas (se houver vagas) e acesso às facilidades, como banheiros, cozinha e área para churrasco. Também há um bar.

 

Então, se você quiser, pode fazer um programa de dia inteiro por lá - o funcionamento é das 8h às 16h. Só fique atento caso contrate o passeio por intermédio do hotel. Além de ser mais caro, geralmente se fica só duas horas no local (o que é suficiente se você apenas quiser ver os animais).

Tubarões e arraias em Huahine

 

Nem Bora Bora nem Moorea: o lugar em que mais gostei de nadar com tubarões foi Huahine, ilha ao noroeste do Taiti. A experiência é o gran finale dos passeios de barco pela ilha (fiz pela empresa Huahine Nautique, a US$ 90). Lá, os animais são maiores do que os outros que vi, além de mais numerosos. Eles estão por todos os lados!

 

Os turistas ficam segurando uma corda, um ao lado do outro (e se batendo o tempo inteiro), observando com máscara e snorkel o guia alimentar os bichos com peixes. Como eles sabem que vão ter rango, aglomeram-se naquela área no horário certo. É impressionante! Às vezes, até dá para levar um susto. Um tubarão quase "me beijou" – pouco antes de encostar, fez um desvio ninja. Ufa.

No tour, também paramos em um jardim de corais, com muitos peixes lindos. Perto do meio-dia, almoçamos em um motu – o "chef" preparou toda a refeição na nossa frente, inclusive tirou o leite do coco ali mesmo. Depois, aproveitamos a prainha, com uma água maravilhosa. Muita gente leva pedaços de pão para alimentar os peixes – eles comem na sua mão!

 

O barco também para em uma "fazenda de pérolas", um bangalô no meio do mar onde os donos explicam como é o processo de obtenção das pérolas dentro das ostras. Ali, há ainda uma lojinha com preços razoáveis. No caminho de volta, uma das funcionárias nos ensinou a montar estilos diferentes de vestidos com os pareos, um dos principais suvenires da região – que, no fundo, nada mais são do que as nossas tradicionais cangas. Saímos da embarcação com uma coroa muito legal feita com folhas.

Por lá, o dia começa e termina muito cedo. Às 5h30min, o supermercado da ilha já está de portas abertas, por exemplo. Todo mundo acorda com as galinhas, literalmente – e você inevitavelmente acordará também. Há tantos desses animais soltos por todos os lados, que se forma praticamente uma sinfonia a partir das 5h. Até eu, que adoro acordar tarde, acabei me acostumando à rotina polinésia.

 

Huahine tem algumas pequenas praias espalhadas por sua costa. A melhor, dizem, é a Downtown Beach, que fica a uns cinco minutos de caminhada do centrinho de compras. Quando fui, o lugar estava muito tranquilo, com mais moradores do que turistas. Fui até o extremo dela, onde há um hotel – mas a praia é pública, claro. Passei um tempão lendo e curtindo o mar, que fica profundo abruptamente – nos primeiros três metros, já não dá pé.

Na ilha, há apenas dois hotéis maiores, os demais são pousadas familiares. Uma boa chance para conhecer um pouco mais da cultura local.

BORA BORA

TIKEHAU

TETIAROA

MOOREA

HUAHINE

Matira, praia pública de Bora Bora

Nosso almoço foi servido em um prato feito de folhas

Bangalôs sobre a água do Pearl Beach Resort, em Tikehau

Bangalôs sobre a água e praia do Manava Beach Resort

Downtown Beach, em Huahine

Em termos de praia, não achei uma das melhores opções – embora Moorea seja um dos destinos mais procurados da Polinésia (o fácil e barato acesso por balsa a partir do Taiti ajuda). Aproveitei basicamente a do resort em que me hospedei, o Manava Beach Resort & Spa, que também contava com uma boa piscina infinita (eu tinha, ainda, uma piscina privada no jardim do meu bangalô, uma maravilha!). A principal praia pública de Moorea é Temae, que fica ao lado do Sofitel. Recomendo alugar um carro ou uma bicicleta, porque, dependendo onde você ficar, o deslocamento complica um pouco.

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TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

TEXTOS, EDIÇÃO E IMAGENS

Priscila De Martini

ARTE

Brunno Lorenzoni

DESIGN

Amanda Khal de Souza

Bangalôs sobre a água e praia do Manava Beach Resort

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