Em movimento: pesquisa mostra que gaúcho se adapta ao mundo em transformação sem abandonar a tradição

Levantamento inédito encomendado pelo Grupo RBS mostra como os moradores do RS se abrem ao novo e apresenta perfis de diferentes gaúchos

Lenço, camisa, bombacha, bota, chapéu e cuia na mão. Essa é a imagem do gaúcho que tradicionalmente vem à cabeça de muitas pessoas, sobretudo de fora do Estado. O morador do Rio Grande do Sul, porém, não se restringe a esse retrato: possui também diversas outras facetas e camadas. Ainda que continue emoldurado pela tradição, o gaúcho muda, acompanhando o ritmo da vida contemporânea, abrindo-se ao novo e adaptando-se, em maior ou menor grau. Um gaúcho em movimento.

A percepção de parte dos brasileiros e dos próprios nativos é de um gaúcho conservador, batalhador, de caráter forte e dedicado à família. Agora, um estudo inédito encomendado pelo Grupo RBS e realizado em parceria com as empresas de pesquisa Coletivo Tsuru e Cúrcuma, intitulado Persona, busca trazer à tona elementos que estão por trás de uma imagem consolidada sobre o povo do Rio Grande do Sul – e o que se transformou.

O objetivo é entender os perfis, comportamentos e hábitos de consumo do gaúcho em meio às mudanças contemporâneas. A pesquisa revela o quanto os gaúchos são abertos ao mundo e a novas ideias, mesmo mantendo determinados rituais. Com base nos resultados, foi possível mapear três perfis de gaúchos e suas características: Guardião, Conciliador e Explorador. Os perfis de abertura se diferenciam em diversos aspectos comportamentais.

Um breve panorama das tradições

De acordo com o estudo, a maioria dos gaúchos continua bastante próxima às tradições. Para 92,8%, elas vão além do churrasco, do chimarrão e das vestimentas, incluindo um senso de pertencimento. Além disso, 86,5% creem que os costumes estão evoluindo com o passar do tempo, mas ainda mantêm suas raízes. Para 56%, o tradicionalismo não é importante, mas há compreensão de sua importância para o Estado. Já 6,8% dos entrevistados rejeitam todas as tradições.

A importância de manter os costumes do RS vivos é reconhecida por 92% dos gaúchos. A tradição mais importante é a gastronomia, citada por mais da metade dos entrevistados. Diversificada, engloba desde pratos típicos ligados ao nativismo até as influências dos imigrantes alemães, italianos e as especificidades das regiões. A música e a dança aparecem em segundo.

Em menor ou maior escala, a tradição, portanto, segue sempre presente – para todos, conforme evidenciou a pesquisa. As danças, os trajes, o churrasco, o chimarrão, as artes e os times do coração ainda são os principais símbolos da identidade do gaúcho. Eles podem ser mais ou menos reverenciados ou presentes na rotina, mas o fato é que o gaúcho preserva rituais.

A pesquisa também apontou o chamado "lado B" dos gaúchos a partir da sua perspectiva, considerando limitações e características que podem ser melhoradas, como o bairrismo, a grosseria, o machismo e a dificuldade de lidar com o diferente, por exemplo.

Abertura gradual

O estudo mostrou que a moldura da tradição parece não dar mais conta de apresentar o gaúcho no seu todo, pois pode aprisioná-lo e fechá-lo para o novo, ao passo que o mundo se conecta e se transforma – e o RS, é claro, não fica de fora, pois não está isolado. Ou seja, também se movimenta.

Os valores que movem o povo do Rio Grande do Sul são a família, o trabalho, o conhecimento, bem como o desejo de honrar suas raízes, segundo o Persona. Porém, a moldura da tradição não é necessária para ser gaúcho. Do mesmo modo, não é preciso ser “menos gaúcho” – deixar de tomar chimarrão ou gostar menos de churrasco, por exemplo – para reconhecer valores que precisam ser reconsiderados e para se abrir ao mundo, como mostrou a pesquisa.

— O que a gente vê é que independentemente do perfil aberto para o mundo, você pode ter e manter o chimarrão ou o que quer que seja, alguns folclores gaúchos, mas em relação aos valores e ao desenvolvimento das coisas que estão acontecendo no mundo, ter um gradiente diferente de abertura e comportamento — explica Mari Zampol, do Coletivo Tsuru, uma das empresas responsáveis por desenvolver o estudo.

Os gaúchos estão sedentos pelo novo, em seu devido tempo, de acordo com as coordenadoras da pesquisa. Neste sentido, uma das descobertas mais importantes é a conclusão de que eles se deixam abrir para as mudanças no mundo por meio dos laços de afeto – ou seja, das relações.

O RS, porém, ainda é um Estado resistente às mudanças de comportamento, na visão de Rodolfo da Costa, consultor de marketing, músico e especialista ouvido pela pesquisa. Além das relações, em sua opinião, o gaúcho também se abre pelo trabalho – as empresas estão se vendo obrigadas a mudar de cultura, pois, se isso não ocorrer, pode comprometer processos e a força de trabalho. É mais fácil o gaúcho aceitar o novo enquanto processos inovadores, opina.

— É ruim dizer isso, mas eu acho que o gaúcho aprende mais na dor do que pelo amor. Mas é assim em qualquer lugar do mundo. O que eu acho é que tem um tempo e porquês diferentes — ressalta.

Apesar de a abertura ter melhorado, no caso do tradicionalismo, Costa vê um excesso de regras no zelo para preservar. Por outro lado, para ele, os artistas são as pessoas mais abertas às mudanças.

— Se alguém diz “isso aqui é o jeito errado de ser gaúcho”, de onde é que saiu isso? — indaga.

Secretária-adjunta de Estado da Cultura, primeira mulher trans a ser homenageada pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e especialista consultada na pesquisa, Gabriella Meindrad destaca que vê uma abertura e acolhimento do povo gaúcho ao que é novo – e no tradicionalismo, por exemplo, valores como respeito, disciplina e olhar fraterno estão entre aqueles reforçados.

— É um povo muito diverso, cada região vai receber de uma forma, mas rapidamente, já estão abraçando, oferecendo um mate e acolhendo – afirma, inclusive em termos de diversidade.

Além disso, um fator atribuiu ainda mais intensidade a esses movimentos: a pandemia de covid-19. Após o auge da crise sanitária, os gaúchos mergulharam em sua essência e refletiram sobre relacionamentos, comportamentos, seu lugar no mundo e sua cultura, conforme o Persona. Nesse sentido, 74% dos gaúchos relatam ter feito mudanças em suas vidas nos últimos três anos – e os jovens afirmam terem sentido mais do que os mais velhos.

Medo da traição

Existe medo, por parte das empresas, de mostrar um retrato diferente do gaúcho e serem rechaçadas. Concomitantemente, o maior medo do povo do RS ao se abrir ao novo, de acordo com a pesquisa, é de trair seus valores – esse cenário resulta em uma tensão entre o desejo de viver outras experiências e o de não trair o gaúcho e suas marcas.

A pesquisa Persona serve, desta maneira, para mostrar que não se trata de ferir ou trair, mas de retratar pessoas em movimento, que continuam a ser gaúchas. É possível manter os valores que constroem a identidade – e que se renovam. O gaúcho não está fechado ao mundo: pelo contrário, está se reinventando. Trata-se de um momento oportuno para identificar e legitimar esse movimento, conforme Mari:

— Em termos de negócio e da própria autoestima, apresentar um gaúcho que está em movimento é muito importante para o marketing das empresas e para os gaúchos legitimarem que ser aberto não é negar suas tradições e seus valores.

Sobre o Persona

O estudo Persona foi realizado de maio a novembro de 2023, com mais de 5,5 mil gaúchos e um grupo controle em São Paulo. Foram utilizadas metodologias qualitativas e quantitativas, com questionários por telefone, abordagens presenciais na rua, entrevistas em profundidade, grupos de discussão online e questionários online. Além disso, o mercado publicitário e especialistas também foram consultados.

Foram feitas pesquisas em todas as sete mesoregiões do RS, com amostras representativas em cada uma delas.

Gaúchos estão felizes, otimistas e desejam permanecer no Estado, indica pesquisa Persona

Relações de afeto movem os moradores do RS e proporcionam alegria, segundo o trabalho

O gaúcho está em movimento, adaptando-se a um mundo em transformação, ao qual está conectado. Ao mesmo tempo em que se abre para o novo, preserva as tradições, em maior ou menor grau: há um desejo genuíno de mantê-las vivas, bem como de reverenciar sua história, suas raízes e sua família. Em meio a esse cenário, os moradores do RS relatam maior satisfação com a vida atualmente, aponta a pesquisa Persona, realizada pelo Grupo RBS para entender os perfis dos gaúchos.

Cerca de 60% dos moradores do RS se consideram felizes. Essa felicidade está, em grande parte, ligada ao sentimento de tranquilidade e à paz de espírito encontrada no grupo familiar. Família unida e em harmonia parece ajudar as pessoas a blindar o pessimismo e afastar o isolamento que pode atrair tristeza, conforme os estudos conduzidos junto à população de diferentes regiões. Como as relações de afeto movem os gaúchos, são elas, junto às conquistas, que proporcionam alegria.

Além do sentimento positivo, há uma sensação de que vai melhorar. Cerca de 60% dos gaúchos estão otimistas em relação ao Estado nos próximos três anos – com destaque para os mais jovens, as mulheres e as classes sociais mais baixas. Isso se traduz em uma percepção de que o RS está melhorando e de que a pandemia trouxe união à família – fatores que parecem ter contribuído para fortalecer o estado de espírito dos moradores do Rio Grande do Sul.

Família é o centro

A família, como constatado, é uma instituição para os gaúchos – que estão dispostos a se abrir ao novo justamente com e por suas pessoas queridas. Neste sentido, o maior sonho do povo gaúcho está relacionado à família e ao relacionamento (54%). Em segundo lugar, vem lazer/viagens (15,3%), e, em terceiro, trabalho/carreira (10,9%). A educação formal, por sua vez, não é encarada como um sonho, mas uma necessidade para aproveitar oportunidades.

Em relação ao futuro, mais de 80% dos habitantes já passaram ou pretendem passar seus valores e tradições para as novas gerações, sendo ativos na manutenção da cultura. Esses rituais costumam estar vinculados a uma dimensão emocional: estar junto, ouvir, falar.

A pesquisa reforça que os gaúchos apreciam a honra, honestidade, esforço, conhecimento e reconhecimento. As pessoas que chegaram de diferentes partes do mundo se misturaram com os povos originários e, juntos, colocaram o trabalho e o desenvolvimento da comunidade como objetivos comuns, criando raízes.

Além do trabalho, a educação também é um valor de respeito e consideração no RS, com a educação formal sendo encarada como um legado a ser deixado para filhos e netos. A religião, por sua vez, representa um norte para o gaúcho: são valores que contribuem para fortalecer os indivíduos e a família. A fé é vista como algo que alimenta a positividade.

Vínculo com a terra ainda impera

Onde quer que estejam, nativos do RS são gaúchos em primeiro lugar, depois brasileiros, conforme os resultados do Persona. Qualidades, defeitos, hábitos e costumes particulares os distinguem dos outros brasileiros, em suas percepções. A identificação com a terra torna-se evidente: 90% dos gaúchos vivem a vida toda no Estado, tendo nascido e se criado no RS.

Ainda, a grande maioria relatou não ter feito planos para morar fora do Estado nos últimos 12 meses. Cerca de ¼ planejou-se, sendo a maior parte para mudar de Estado, permanecendo no Brasil. Apenas 7,2% pensam em deixar o país.

Quiz: faça o teste e descubra em qual perfil de gaúcho tu te encaixas

Estudo inédito do Grupo RBS indica que 21% da população do RS corresponde ao Guardião; 53%, ao Conciliador; e 26%, ao Explorador

Os gaúchos estão em movimento. De acordo com a pesquisa Persona, encomendada pelo Grupo RBS, os moradores do RS podem ser classificados em três perfis: Guardião, Conciliador ou Explorador. O estudo indica que 21% da população corresponde ao primeiro; 53%, ao segundo; e 26%, ao terceiro. Os perfis revelam o quanto os gaúchos são abertos ao mundo e a novas ideias, mesmo mantendo determinados rituais.

O Guardião é mais fechado às mudanças. Já o Conciliador abre-se aos poucos. O Explorador, por sua vez, é mais aberto às transformações. Faça o quiz abaixo e descubra em qual perfil tu te encaixas.

Idade e gênero

Há uma relação com a idade: quanto mais jovens, maior a presença do Explorador – 50% das pessoas de 18 a 24 anos se encaixam nesse perfil. Embora apresente mais faixas etárias avançadas, o perfil Guardião é o que tem a menor variação entre as diferentes idades. No Conciliador, pessoas mais velhas estão em maior número.

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Preservar a tradição e viver para sempre no RS: conheça o perfil do gaúcho Guardião

Em todo o Estado, o defensor dos valores da terra representa 21% da população, conforme o estudo encomendado pelo Grupo RBS

Se as tradições atravessam em maior ou menor grau os três perfis traçados pela pesquisa Persona, é no coração do Guardião que elas ocupam um amplo espaço. Em todo o Estado, este perfil, defensor dos valores da terra, representa 21% da população. Esses gaúchos não se veem fora de onde moram, longe das pessoas queridas, de acordo com os relatos colhidos pelo estudo encomendado pelo Grupo RBS. Preferem a casa, a terra, os passeios por lugares que têm a ver com a família.

— Sou muito apaixonada por tudo o que é nosso, no sentido de preferir conhecer uma cidade gaúcha a viajar para outros Estados como turista. Temos tudo aqui, mas a trabalho já estive em SP, MS, SC e PR, levando a nossa trova gaúcha — enfatiza Tetê Carvalho, 56 anos, advogada, compositora, radialista, primeira pajadora do Brasil e uma das raras trovadoras em um meio ainda predominantemente masculino.

O mais importante, para o Guardião, é preservar valores e símbolos da cultura gaúcha – trata-se de alguém que conserva costumes.

— É a nossa história, é quase como “de onde eu vim” e “para onde eu vou”. E eu vou deixar tudo aquilo que eu aprendi, amei e cultivei ir fora? Não. Eu tenho de lutar para que, pelo menos, um bom percentual se conserve — defende a moradora de Porto Alegre, nascida em Caçapava do Sul.

Apesar disso, há a consciência de que as mudanças estão acontecendo e que é difícil manter crenças e disciplina. O ritmo acelerado das transformações pode soar ameaçador. A obrigação de ter de aprender, adaptar-se e abrir mão de credos representa sair de um ambiente seguro e acolhedor. Pode haver, portanto, pouco espaço para flexibilidade: tendem a ser pessoas mais resistentes e menos abertas a mudanças, conforme o estudo. Mais presente nas faixas etárias mais avançadas, o perfil Guardião é o que tem a menor variação de idades.

Jefferson Botega / Agência

O Guardião é preocupado com a maneira de viver e educar os filhos e netos em um contexto mais globalizado e tecnológico. Importa-se, igualmente, com manter as histórias vivas, para que não se percam com o tempo. Sente-se responsável por preservar um mundo “melhor e mais protegido” para a sua família. Por conta disso, tende a viver com a cabeça no passado.

No caso de Tetê, a principal batalha travada é em relação ao uso desmedido do celular. Apesar de entender a praticidade que ele fornece no acesso a informações, defende um melhor aproveitamento do momento presente. A pajadora percebe os jovens mais apáticos e sedentários na atualidade. Além disso, enquanto seus filhos não se veem sem internet, ela, por outro lado, necessita de anotações em papel. Mas é preciso lidar, ressalta:

— A gente vem de uma outra geração, e os valores eram um pouco diferentes dos de hoje. Então, a gente tem de cuidar muito para se dirigir ao nosso público. O que eu dizia 10 anos atrás, eu não posso dizer hoje. Não é que eu seja contra nem a favor, eu tenho de sobreviver nesse meio.

Em meio a tantas transformações, o próprio movimento tradicionalista tem perdido força, na opinião de Tetê, e precisa ser melhor cuidado. Em face desse cenário, existe um medo de abrir-se para o que é novo e diferente e, assim, perder a identidade, segundo o estudo.

— Com essa globalização, as tradições, principalmente aquela tradição mais terrunha, mais antiga, vão se perdendo. E muitos dos nossos jovens só vão conhecer por meio dos livros, se não ouvirem uma pessoa mais antiga contar. Tem o medo, sim, de que as coisas se percam — lamenta.

Jefferson Botega / Agência

Família em primeiro lugar

Este perfil se sente responsável por cuidar e prover a família, mantendo todos unidos – família bem e unida é sinônimo de felicidade. Assim, os momentos se transformam em histórias para guardar e contar com carinho. Os parentes se reúnem em comemorações, datas tradicionais gaúchas, lazer e viagens. Junto aos amigos mais próximos, são o principal núcleo de relacionamento e razão de existir do Guardião. As avós e mães tendem a ser o centro de referência desse perfil, com habilidades de criar situações para juntar as pessoas, desarmar desentendimentos e manter a família coesa. No seio familiar, o papel do Guardião é preservar elementos que construíram a identidade da família.

Noções de responsabilidade, honestidade e integridade, herdadas de seu pai, são alguns dos princípios que Tetê busca repassar aos descendentes. Seu núcleo familiar é composto por ela, seus filhos de 19, 25 e 37 anos e seus netos. Nele, a trovadora assume o papel de responsável e referência.

— Meus filhos, sempre que podem, estão comigo, estão nos festivais de trova e participam ativamente, assistem e gostam da música tradicionalista. Meu filho Victor é por causa do Teixeirinha. Isso a gente passa, não adianta, eles podem até ouvir outros tipos de música, mas eles têm a raiz bem forte, tradicionalista — conta.

Cartilha dos costumes

As ações precisam resultar em um bem maior, na visão do Guardião. Ele espera ainda que as pessoas sigam uma "cartilha dos costumes”, na qual devem também priorizar os compromissos em família. A cartilha é encarada como um caminho seguro, marcado por ordem, disciplina, senso de justiça, certo e errado.

Para os Guardiões, os objetivos têm conotação de missão. Eles assumem o compromisso de envolver as novas gerações na continuidade dos seus valores. Já os sonhos são desafios e estão relacionados à estabilidade, com condição financeira para proporcionar algo especial à família. O maior sonho e preocupação de Tetê é, precisamente, amparar e guiar os filhos para que estudem, trabalhem e se tornem responsáveis e autônomos financeiramente.

Respeitar os valores e compor com o novo: entenda o perfil do gaúcho Conciliador

Dos três perfis mapeados pela pesquisa Persona, encomendada pelo Grupo RBS, este é o que mais representa a população do RS (53%)

Respeitar os valores e rituais do passado, mas compor com o novo. Esse é o mote do Conciliador. Dos três perfis mapeados pela pesquisa Persona, encomendada pelo Grupo RBS, este é o que mais representa a população do RS (53%). O mais importante, para os gaúchos que carregam esses traços, é saber viver bem a vida.

Os Conciliadores estão sempre aprendendo. Suas histórias tendem a ser de superação, empenho e determinação – eles acreditaram nos próprios talentos, mas, especialmente, na persistência. Da Restinga para o tribunal, no caso do advogado Leandro Soares, 46 anos, cuja criação foi dura – às vezes, sem o café da manhã para tomar –, mas repleta de amor. Oriundo de uma família pobre e negra, sempre sonhou em ser advogado. Porém, foi por meio da realização de outro anseio, o de jogar basquete, que as oportunidades começaram a surgir em sua vida e, com esforço, os sonhos se tornaram realidade.

Ao mesmo tempo em que não há o desejo de correr riscos, o Conciliador não se encontra em posição de negação. Entende que se adaptar é preciso, no seu próprio tempo. Há, portanto, disposição em ter flexibilidade. Conhece, experimenta, duvida e aceita, trazendo vivacidade – sempre com os pés no chão. Sem ousadias nem aventuras.

— Eu analiso sempre e não sou um reacionário pelas questões das mudanças, elas são necessárias. Nós não podemos ficar inertes, parados, porque a mudança vai vir e vai te atropelar. Elas são importantes para o crescimento, para o desenvolvimento, mas sempre com muito pé no chão — declara Soares.

Jefferson Botega / Agência

Os Conciliadores são abertos às mudanças do mundo, mas sempre de um jeito calmo e cauteloso. Abrem-se à medida que são afetados pelo que é novo. Não são caçadores de novidades ou frisson. Tampouco se esquecem das suas origens. O Conciliador aceita aquilo que pode trazer oportunidades para a vida pessoal e profissional – isto é, crescimento no trabalho, melhores condições de vida, praticidade, segurança e acesso à informação, produtos e serviços proporcionados pelo mundo digital.

— A gente vai se adaptando, e, aos poucos, se abrindo para determinadas mudanças. Basicamente pelas pessoas, pela conversa. E se eu acreditar que aquilo é algo que vai ser bom para mim, para minha família, a mudança vai vir. Não sei se de imediato, mas com o tempo, sim — afirma Soares.

E como se dá essa mudança? Por meio das relações. A família e os amigos mais próximos são o principal núcleo de relacionamento e razão de existir do Conciliador. Por eles e para eles, mudam, abrem, adaptam-se. A partir do que os laços afetivos trazem, as pautas e as novidades vão ganhando espaço. E a opinião dos outros importa: querem ser vistos como pessoas que estão se abrindo, mas que lembram das origens.

Além disso, desejam garantir um futuro melhor para a família. São preocupados com como viver e educar os filhos para que sejam pessoas cada vez mais abertas, sem nunca ignorar as origens. O perfil Conciliador tende a se ver como um pilar importante da família – compreendida pelos pais, filhos e amigos muito próximos. Querem sentir-se úteis, estando disponíveis e dando apoio aos próximos. Sentem-se – e querem ser reconhecidos como – conselheiros, ouvintes, referência, o elo de segurança da família.

Jefferson Botega / Agência

Vida em harmonia

Os Conciliadores buscam harmonia e qualidade de vida. Desejam alcançar estabilidade financeira, realização profissional, boa educação para os filhos, bem como tempo e dinheiro para lazer e viagens em família. Preferem um estilo de vida com espaço para a calma. Nesse sentido, a natureza faz parte da sua essência, com destaque para a terra e os passeios em família e amigos. O Conciliador preserva um jeito de ser que evita a agitação desenfreada e a falta de tempo para estar com quem gosta.

Os destinos preferidos para passeios e viagens são parques, Gramado e toda a Serra Gaúcha, cachoeiras, cidades menores de Minas Gerais e praias de Santa Catarina. Um pé no RS, uma espiada por aí. Para este perfil, é difícil se enxergar vivendo longe da sua terra, das suas raízes, dos seus familiares. Mas, se houver uma oportunidade, especialmente para estar próximo das pessoas queridas, experimentam saídas fora do RS.

Os objetivos são aqueles com chances de serem realizados para proporcionar à família melhores condições de vida e, principalmente, preparar os filhos para que possam ter mais e melhores oportunidades. Os sonhos têm a ver com superação pessoal e conquistas que ficam para as pessoas queridas. Para Maria Eduarda, nove anos, Soares quer deixar valores de respeito e amor, bem como um futuro positivo. O pai compartilha com ela ensinamentos relacionados ao povo negro gaúcho, a figuras importantes na criação do Estado, como os Lanceiros Negros, e ao racismo.

— O maior sonho é que a minha filha tenha uma criação harmoniosa. Se eu disser que é livre de machismo, é impossível. Livre de preconceito racial, é impossível. Mas o meu maior sonho é que não existisse esse lance todo — pondera.

Aventuras pelo mundo sem abandonar as raízes: descubra o perfil do gaúcho Explorador

O ritmo acelerado das transformações soa interessante, excitante e libertador, segundo esse grupo

Os Exploradores pertencem ao mundo. Construíram suas bases no RS, mas nasceram para explorar o Brasil e outros países. Simbolizam um “chimarrão em movimento”. Para eles, o mais importante é, justamente, estar em movimento. Esse perfil de gaúcho – um dos três mapeados pelo estudo Persona, encomendado pelo Grupo RBS – representa 26% da população gaúcha, de acordo com os resultados da pesquisa. No seu próprio ritmo, querem sair e conhecer. Isso, claro, sem nunca abandonar as raízes ou esquecer da família e dos amigos.

O ritmo acelerado das transformações soa interessante, excitante e libertador para o Explorador. Uma das principais características deste perfil é transformar-se por meio de novas experiências. Há uma relação com idade: quanto mais jovens, maior a presença do perfil Explorador.

— A gente precisa estar sempre em constante movimento. Se a gente fosse se prender às coisas do passado, ia perder muita evolução, muitos direitos, muitos espaços, e a gente tem muito mais ainda para conquistar. As mudanças são necessárias para que isso aconteça — ressalta Deives Picáz, 22 anos, um jovem influenciador com deficiência, de Cachoeirinha, que conquistou a posição de conselheiro jovem do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre inclusão, acessibilidade e sustentabilidade.

Apesar de reverenciar o seu passado, o Explorador traz elementos novos e desconhecidos. Sente-se livre, mas respeita e tem orgulho de suas origens. Não nega as tradições gaúchas que aprendeu, mas não está preso a elas. O chimarrão, por exemplo, torna-se uma expressão de autenticidade para alguns, mais do que de tradição – projeta o jeito de ser, em qualquer lugar do mundo. E pode ganhar novos contornos – como menta. Vegetariano desde os 15 anos, Deives adapta alguns costumes, como o churrasco. Os Exploradores são gaúchos de nascimento, mas não se sentem presos a um rótulo ou estereótipo.

— Eu não me vejo usando as roupas tradicionais, a pilcha, andando a cavalo, não sou essa pessoa que reforça o estereótipo de quando alguém fala do gaúcho, não sou a pessoa que as pessoas vão lembrar, mas tem coisas que eu gosto — avalia Deives, que discorda de certos costumes das tradições gauchescas por considerar que reforçam estereótipos e preconceitos e excluem grupos.

Jefferson Botega / Agência

O Explorador tende a defender suas ideias e interesses com mais ênfase. Deives, por exemplo, utiliza suas redes sociais para combater o capacitismo – o preconceito e a discriminação contra pessoas com deficiência.

Apresentam-se como pessoas mais inquietas, de personalidade forte e autênticas. Buscam viver uma vida com aprendizados. Saem à luta, sem medo de reconhecer tropeços e com determinação para dar a volta por cima. A rede de apoio, a família e os amigos são o porto seguro do Explorador. É o único perfil que descreve de maneira intensa o tempo de reclusão vivido na pandemia, como um período de autoavaliação e abertura para mudanças de atitudes.

Os Exploradores valorizam a educação e têm interesse por novos conhecimentos. Querem ser vistos como exemplos a serem seguidos e inspiração – assim são as pessoas nas quais se espelham. Há também o desejo por reconhecimento em suas áreas de atuação. Para eles, o papel ideal, segundo a pesquisa Persona, é ser referência para os filhos e colegas como pessoas que se superaram. No caso de Deives, não quer ser visto como um exemplo de superação, já que sua deficiência não é algo a ser superado, e sim de representação.

Jefferson Botega / Agência

Aventura

Viagens e paisagens compõem esse perfil. Os cenários são lugares onde a aventura acontece – nunca sozinho, pois acreditam que as experiências se tornam mais intensas quando compartilhadas com as pessoas queridas. Os Exploradores têm interesses variados: espiritualidade, arte e cultura, natureza, informação e empreendedorismo.

Ter objetivos e sonhos é justamente o que os move – e correr atrás. Os objetivos combinam a busca por estabilidade financeira e a satisfação em fazer tudo aquilo a que se propõem. O trabalho representa fazer o que gostam, buscar crescimento e fazer a diferença. O futuro, por sua vez, é aberto e está sendo construído.

O Explorador pode ou não viver no RS. Sai do Estado, mas o Estado não sai de sua essência.

— Eu tenho um apego mais por esses laços que eu construí. Eu prefiro viajar, fazer o que eu tenho de fazer e voltar para cá. É muito bom estar fora, conhecendo uma cultura diferente, algo diferente, um país, mas é muito bom voltar — afirma Deives.

Esse perfil se sente vivo buscando caminhos e assumindo alguns riscos para ir ao encontro de uma vida conduzida por ele mesmo. Buscam conhecer o mundo, mas o porto seguro de ser gaúcho está sempre presente – são quem são onde quer que estejam.

— É impossível tirar algo que, imagina, eu fui nascido e criado aqui e dizer que não faz parte, excluir isso tudo, é impossível falar isso, porque de certa forma, ele intersecciona a minha personalidade, a minha maneira de me comunicar, o meu sotaque, de me expressar. Acho que não tem como não ter traços, na minha personalidade, do RS — resume.

Gaúchos optam pela qualidade das marcas produzidas no RS, e não apenas pelo bairrismo, aponta estudo Persona

Compras online abriram caminho para novas experiências de produtos; comprar bem, em termos de qualidade e preço, é o que importa

Ainda que, de modo geral, o gaúcho tenda a declarar preferência às marcas locais, isso não ocorre por simplesmente serem do RS – ou seja, por bairrismo –, mas pela qualidade. Os resultados são provenientes da pesquisa Persona, promovida pelo Grupo RBS, que apresenta o gaúcho em movimento – mudando em reação às transformações do mundo.

Os moradores do RS não preferem marcas gaúchas acima de tudo – apenas quando o produto ou serviço apresenta qualidade superior e bom custo-benefício. Assim, da mesma forma que há a escolha por marcas gaúchas, há também preferência por marcas líderes em suas categorias. Nesse cenário, a compra online parece ter acelerado a comparação de custo e benefício entre marcas. Comprar bem, em termos de qualidade e preço, é o que importa.

Os gaúchos demonstram consumir mais as marcas locais em comparação ao grupo controle. Além disso, 42% afirmam que existem marcas que representam o RS.

Quanto maior a classe social e menor a faixa etária, maior a preferência por marcas líderes em suas categorias, independentemente da origem do produto. A preferência por marcas gaúchas teve maior incidência nas classes sociais mais baixas e entre os mais velhos.

Compras no mundo digital

Com o interesse e a facilidade de navegar no ambiente digital impulsionados pela pandemia, as compras online abriram caminho para novas experiências de produtos e marcas – e, consequentemente, novas formas de se abrir ao mundo. Os gaúchos se conectaram ainda mais com o Brasil e outros países. A partir daí, rompeu-se com o paradigma de marcas gaúchas sempre em primeiro lugar, resultando em maior flexibilidade na compra.

Desta maneira, o estudo observou um gradiente de preferência por marcas no RS: aquelas que valorizam a cultura gaúcha, por vezes passadas de geração para geração; marcas de orgulho regional, de qualidade superior; novidades que entregam preço ou praticidade; e produtos que são referência em qualidade e credibilidade, independentemente da origem.

Marcas por perfil de gaúcho

Guardião

Há maior presença de marcas gaúchas, com preferência pelas conhecidas e por se manter fiel a elas. Opta-se pelo online pelo viés racional, quando o preço é mais baixo, mas existe maior seletividade, com compras em sites conhecidos.

Conciliador

Existe uma composição de marcas locais e de marcas consideradas referência de qualidade em suas categorias. Há preferência por marcas associadas a estilos clássicos e casuais. Para eles, comprar bem implica economizar. Por esse motivo, compras online refletem uma atitude inteligente de saber escolher produto e preço.

Explorador

Há menor presença de produtos locais como expressão do jeito de ser e um maior repertório de marcas no dia a dia. Existe curiosidade em conhecer e experimentar novidades. Além disso, destaca-se uma tendência a um estilo mais personalizado/individualizado, que demonstre o “jeito de ser". As compras online expressam acesso não somente à melhor oportunidade de compra, mas também ao diferente.

Em um aspecto, porém, não importa o perfil: o gaúcho é Grêmio ou Internacional, o que inclui os produtos comercializados pelos times.

Como representar o gaúcho

A maioria dos gaúchos (67%) não se vê representada nos comerciais que assiste (pouco, muito pouco ou somente em comerciais de marcas gaúchas). As marcas podem retratar melhor os gaúchos ao considerar como eles se veem – trabalhador; amigo/companheiro; e hospitaleiro/acolhedor – e ao levar em conta que a família está no topo dos valores.

Além disso, gastronomia, natureza e cultura são motivos de orgulho já consolidados, mas o gaúcho vê potencial de desenvolvimento das cidades, dos polos de inovação e tecnologia e da qualidade das instituições de ensino. As marcas podem assumir a frente nesses temas ao se relacionar e retratar o que orgulha os gaúchos e ao se engajar e promover o que eles enxergam como alto potencial, sugere o estudo.

Com os acontecimentos recentes, a saúde passou a ser a principal preocupação – em todos os recortes demográficos, com destaque para as mulheres (62%) e para a classe A (61%).

Nas prioridades de consumo dos gaúchos, há oportunidades para as marcas: 64% pensam em aumentar o conforto ou o patrimônio. Quanto maior a idade, mais priorizam o conforto. Quanto menor, maior o desejo de investir no futuro e aumentar patrimônio.

Como se relacionar com os gaúchos em movimento

  • Marcas importam: o gaúcho escolhe as marcas que vai chamar de “suas” – as melhores escolhas, experiências e marcas, que combinem com suas ambições de vida.
  • Os moradores do RS gostam que suas características sejam enaltecidas – não olhando apenas para o passado, mas também para oportunidades futuras.
  • O gaúcho quer ser retratado como alguém que honra as suas raízes, mas não está preso nem fechado a elas – e gosta de se sentir especial.
  • Evidenciar os afetos que colocam esse gaúcho em movimento, faz com que ele se permita descobrir e aceitar novidades e oportunidades.

Há, porém, um ponto de atenção: a ideia de apresentar o gaúcho em movimento pode incorrer na ameaça de descaracterizar a identidade gaúcha. O Persona observou, em graus diferentes, por parte das empresas, um receio relacionado a como retratar um "novo gaúcho" sem apartá-lo do retrato que simboliza a identidade do RS.

As coordenadoras da pesquisa ressaltam, porém, que não se trata de realizar uma apologia ao novo, mas de assumir os gaúchos em transformação. Não é negar a tradição, que se mantém presente, mas mostrar como ela convive com todo o resto – interesses, novidades, curiosidades e o futuro, que movimentam a vida.

— Já existe um desejo de sair desses quadrados, desses limites — afirma Mariana Kok, do Coletivo Tsuru, uma das empresas responsáveis por desenvolver o estudo.

MAPA: conheça as características dos gaúchos de diferentes regiões do Estado, de acordo com a pesquisa Persona

Para pesquisa inédita do Grupo RBS, foram visitadas sete localidades do RS, buscando entender os comportamentos dos moradores e a abertura para o novo e o mundo

Além dos três perfis de gaúcho identificados pelo estudo Persona, promovido pelo Grupo RBS, cada região do Estado possui características e particularidades que a tornam única e compõem, conjuntamente, o retrato do gaúcho – que está em movimento e transformação.

Para a pesquisa, foram visitadas sete regiões do RS, buscando entender os comportamentos dos moradores de cada local. Também foi analisada a respectiva abertura para o novo e o mundo. Confira as características de cada região:

particulares de cada região e eixo de abertura ao novo

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