Carregando "O Maníaco do Cassino"

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Entre dezembro de 1998 e abril de 1999, a Praia do Cassino, em Rio Grande, foi marcada por uma onda de terror. Sete pessoas foram mortas e uma ficou tetraplégica em ataques a casais à beira-mar. O especial multimídia a seguir reconstitui os passos do assassino que ficou conhecido como Maníaco do Cassino. Em seis episódios, um podcast detalha a sequência de crimes, com testemunhos de moradores, veranistas, investigadores e sobreviventes. Você também pode acompanhar bastidores da produção, documentos do processo e a cobertura jornalística da época, além de textos, vídeos, ilustrações animadas e fotografias que eternizam um período sombrio da história gaúcha.

Ouça os episódios

A história contada em texto


Foto da praia do Cassino/Renan Mattos/Agência RBS

Com 254 quilômetros de orla, o Cassino é conhecido como a maior praia do mundo. (Renan Mattos / Agência RBS)

Felipe Martins dos Santos e Bárbara Simone Oliveira da Silva namoravam havia um mês. Aos 21 anos, ele cursava Direito em Bagé. Um ano mais velha, ela era instrutora de artes marciais e estava prestes a começar a faculdade de Educação Física em Pelotas. Na madrugada de 11 de dezembro de 1998, estavam na beira da praia do Cassino, em Rio Grande, quando foram abordados por um homem armado. Meia hora depois, estavam mortos com três tiros cada, a 15 metros do mar e sob uma fina garoa. Felipe e Bárbara foram as vítimas inaugurais do primeiro serial killer do Rio Grande do Sul no século 20, o assassino que ficou conhecido como o Maníaco do Cassino.

Esgueirando-se entre as dunas e protegido pela bruma da noite, o homicida atacava casais que namoravam à beira-mar. Matou sete pessoas e deixou uma adolescente tetraplégica, em uma onda de violência que aterrorizou a região e só cessou em abril de 1999, após caçada policial que mobilizou mais de 500 agentes das forças de segurança. Ao ser preso, o bandido ainda debochou dos investigadores:

— Suaram a camisa para me pegar, hein.

A série de crimes é agora detalhada por Zero Hora neste especial multimídia O Maníaco do Cassino. Com base nas mais de 3 mil páginas do processo, incluindo a confissão do assassino com detalhamento de como cometeu os crimes, e cerca de 30 entrevistas, um podcast dividido em seis episódios recupera como a temporada de verão 1998/1999 ficou marcada pelo medo.

Os ataques ocorreram entre dezembro e março, justo quando a população do balneário crescia exponencialmente, passando dos 20 mil moradores fixos para cerca de 150 mil habitantes transitórios. Usando quase sempre a mesma roupa e modus operandi, o assassino se valia de um tradicional costume local para abordar as vítimas.

Com 254 quilômetros de orla e conhecido como a maior praia do mundo, o Cassino tem como característica o trânsito de veículos pela beira-mar. No final dos anos 1990, essa prática era ainda mais acentuada, inclusive à noite, quando casais namoravam sob a luz do luar. Ao avistar os carros estacionados diante do mar, o maníaco atacava. (Conheça mais sobre o Cassino e o ataque inaugural no primeiro episódio)

A partir daí, as circunstâncias quase sempre se repetiam. Primeiro, o homem levava os casais para uma estrada de chão batido nos arredores da cidade ou para os molhes da barra, principal cartão-postal do balneário. Depois, amarrava os homens com os próprios cadarços e os colocava no porta-malas. Roubava os relógios das vítimas, o som automotivo e voltava para a praia. Obcecado com o risco de deixar impressões digitais, cobria a mão com uma meia ou usava luva cirúrgica, retirada do kit de primeiros socorros que à época era item obrigatório nos carros. Ao final, os rapazes eram mortos com tiros nas costas e as garotas alvejadas na nuca.

A morte de Felipe e Bárbara ocorreu um mês após um triplo homicídio cometido em novembro, na casa de professores da Fundação Universidade do Rio Grande (FURG) — um crime que já assustara a população, mas sem relação com a série de assassinatos que viria a acontecer. Depois disso, dois meses de relativa tranquilidade se passam até que, no começo de março, outro casal de namorados é sequestrado na beira da praia. Leandro Coll Farias, 23 anos, e a namorada, de 15 anos, são obrigados a circular pela praia sob a mira de um pistola, mas são soltos ilesos cerca de uma hora depois. Com medo, eles não registram ocorrência e o ataque é ignorado pelas autoridades policiais por quase um mês. (Acompanhe no segundo episódio o relato de Leandro)

Uma semana depois, porém, os estudantes de Direito Márcio Olinto, 30 anos, e Anamaria Xavier Soares, 31, são atacados quase no mesmo local que Leandro e a namorada. Obrigados a entregar dinheiro ao assassino, são levados a Pelotas, onde são mortos à beira da Lagoa dos Patos. Sem suspeitar de que há um assassino serial em ação no sul do Estado, a polícia trata a morte de Felipe e Bárbara como vingança, e a de Márcio e Anamaria como latrocínio, roubo com morte. Agentes de Porto Alegre se somam aos investigadores locais, gerando tensão entre as equipes. Em meio às intrigas policiais, o maníaco ataca novamente.

Por volta das 23h de 19 de março, Petrick Castro de Almeida, 18 anos, e Brenda Nascimento Graebin, 14, estão conversando sentados sobre as dunas. Um homem se aproxima caminhando, passa pelo casal e retorna. Saca uma arma e anuncia o assalto. Petrick é deixado amarrado e Brenda é levada para caminhar com o maníaco, que após percorrer 800 metros atira nas costas da garota. Ele volta e alveja Petrick, que morre na hora. (Saiba mais sobre esse crime no terceiro episódio)

Foto da praia do Cassino/Renan Mattos/Agência RBS

O crimoso transitava à noite pela praia em busca de casais de namorados que estacionavam diante do mar. (Renan Mattos / Agência RBS)

No alvorecer, dois amigos caminham pela beira da praia quando deparam com o corpo de Brenda estirado na areia. Acionado, um policial se aproxima e percebe que a adolescente está viva. Embora gravemente ferida, Brenda consegue fazer uma descrição do agressor. Pela primeira vez, a polícia tem um retrato falado do bandido: um homem alto, forte, bronzeado e com uma tatuagem de água no braço direito.

Assustada, a população protesta por mais segurança e 120 policiais civis e militares são enviados a Rio Grande e ao Cassino. Diversos suspeitos são presos, mas liberados por falta de provas. Os dias passam e a prefeitura cogita suspender a Festa do Mar, principal evento turístico do município. No dia da abertura oficial, com a cidade vigiada por mais 500 agentes e a presença do então governador do Estado, Olívio Dutra, o maníaco faz mais duas vítimas. Abordados enquanto estão dentro do carro na beira da praia, o gerente de vendas Silvio Luiz Klemberg Ibias, 36 anos, e a professora Adriana Nogueira Simões, 28, são mortos nos molhes da barra, o braço de pedra com quatro quilômetros de extensão mar adentro que forma o canal de entrada dos navios para o porto de Rio Grande. (Confira os detalhes no quarto episódio)

A ousadia do ataque aterroriza os moradores e soa como deboche às autoridades. A polícia enfim admite que há um serial killer caçando casais na beira da praia. Com medo, os moradores do Cassino evitam sair de casa à noite e há um aumento na compra de armas.

Sem avanços na investigação, a cúpula da Polícia Civil decide montar uma equipe com os agentes mais experientes de Pelotas. Após inúmeras diligências fracassadas e até um tiroteio, um dos inspetores lembra de uma pista surgida logo após a morte de Márcio e Anamaria à beira da Lagoa dos Patos. Na manhã seguinte ao crime, um homem em atitude suspeita havia sido visto saindo de um matagal e embarcando em um ônibus para o centro da cidade. Refazendo o trajeto, os policiais localizam uma testemunha que conhecia o passageiro mal encarado e descobrem que ele havia passado o verão na colônia de pescadores Z3, em Pelotas.

A prisão

Ao percorrerem endereços ligados ao suspeito, chegam a um apelido: Titica, um pescador de São José do Norte. No dia seguinte, o homem é detido e levado a uma delegacia de Rio Grande para averiguações. (A prisão de Titica, você ouve no quinto episódio)

Reconhecido por três vítimas - Brenda, Leandro e a namorada -, Paulo Sérgio Guimarães da Silva, o Titica, finalmente recebe voz de prisão. No início, nega ter cometido qualquer crime, mas acaba cedendo. Em mais de 10 horas de depoimento, Titica conta detalhes das mortes e revela onde jogou pertences das vítimas. Depois, leva os agentes aos locais onde cometeu os assassinatos.

O julgamento

Cinco meses após o primeiro ataque, a população enfim respira aliviada. Titica é transferido para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), onde aguarda julgamento. Após sucessivos atrasos, o pescador é submetido ao Tribunal do Júri em fevereiro de 2002. Ao final de dois dias de julgamento, Titica é condenado a 171 anos de prisão. Somando outras condenações recebidas meses antes por furtos e roubos cometidos entre os assassinatos, a punição alcança 184 anos e 10 meses. (No sexto episódio, ouça o momento da leitura da sentença)

Com a oitava maior pena do sistema prisional do Rio Grande do Sul, Paulo Sérgio Guimarães da Silva segue preso na Pasc. A previsão é de que seja solto em 2029, após completar 30 anos de cadeia, tempo máximo de prisão previsto na legislação brasileira.

As memórias do verão de 1999

No rastro do Maníaco do Cassino

Como o Maníaco agia

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A temporada do terror

Clique nas images para consultar extras sobre os crimes e a investigação, que se desenrolaram no verão de 1998/1999

Bastidores

O repórter Fábio Schaffner e o repórter fotográfico Renan Mattos contam como foi produzir a reportagem sobre o Maníaco do Cassino.