De Lara e Gessy a Mari, Miriam e Gabi

uruguaiana

O s guris vão chegando aos poucos, ainda com cara de sono. Entram por um portão lateral do Estádio Felisberto Fagundes Filho e se dirigem a Marivânia, Miriam e Gabrielle.

Abraçam e beijam cada uma delas e vão para o vestiário colocar o fardamento de treino.

– Aqui, eles recebem mais do que treino físico e técnico. Sobram carinho e atenção com esses meninos – destaca a presidente Marivânia Pinto Vera, 50 anos, uma das mulheres fortes do E.C. Uruguaina, o clube jaldinegro da Baixada, que revelou para o futebol dois nomes históricos do Grêmio: o goleiro Eurico Lara, que surgiu em 1919, e o meia Gessy, que apareceu em 1953.

Recentemente, Mari encarou o desafio proposto pelo irmão Grimaldo Vera, ex-presidente.

– Dá um certo medo, não pelo trabalho, mas por toda a responsabilidade que temos com essa meninada. Nossa meta, antes de tudo, é ajudar a transformá-los em boas pessoas – afirma a presidente. – Exigimos que todos que estão aqui estudem. Do contrário, não entram.

Miriam, Marivânia e Gabrielle dirigem o Uruguaiana

O trio não tem uma tarefa fácil. O dinheiro é escasso no clube que foi vice-campeão da Série B do Gauchão em 1966, o melhor resultado do clube. A arrecadação é pouca. Nem todos os pais dos garotos das categorias de base conseguem pagar.

– A verdade é que contamos com a bondade das pessoas. O técnico não cobra nada para trabalhar aqui. Ele tem um armazém por perto. Quando alivia lá, ele vem para orientar treinamento. Quando alivia aqui, ele corre para o armazém – conta a diretora de futebol Miriam Vera, 48 anos.

Éder Santos, o treinador, 38 anos, balança a cabeça e confirma a história de Miriam:

– Mas eu gosto. Era jogador, guri como eles. Sei das dificuldades, ainda mais na nossa terra, longe de tudo.

A vice-presidente, Gabrielle de Araújo Porto, 26 anos, também se divide entre o trabalho na loja de atacado da família e o Uruguaiana. Durante os treinos do irmão no clube, Gabi acabou se envolvendo e resolveu juntar-se às irmãs Vera.

– Tem dias que fico mais aqui do que lá. Já que abracei a causa, vou até o fim – comenta Gabi.

Os meninos mostram admiração e respeito.

– Elas são demais, guerreiras – elogia o meio-campo Leonardo, 16 anos.

– As tias são muito parceiras – afirma o volante André, também de 16 anos.