O time do frigorífico

não se dá por vencido

E ra junho de 1981, e o Grêmio estufava o peito com a inédita faixa de campeão brasileiro, recém conquistada, em maio, contra o São Paulo. Reluzia com estrelas como Emerson Leão, Hugo De León, Paulo Isidoro, Tarciso e Baltazar. Destaque dos juniores, Renato Portaluppi também entrou em campo. Do outro lado, estava o valente time do Armour. Tinha Feco no gol, Curinga e Astronauta no meio-campo e Boneco no ataque. Fazia frio, mas o Estádio Miguel Copatti fervia com 11 mil pessoas. Difícil apostar na equipe de Livramento, que retornava à elite do Gauchão depois de quatro anos.

– Saímos atrás no placar, mas conseguimos o empate. Uma grande façanha comemorada até hoje – afirma o então lateral-direito Rodnei, hoje técnico das equipes de base do clube de Livramento.

O 1 a 1 diante do Grêmio é mesmo motivo de orgulho para o time fundado em 1917 por funcionários do Frigorífico Swift Armour, empresa americana de embutidos.

– O estádio explodiu, todos queriam ver Baltazar, Tarciso e aquela turma toda. Não fizemos feio. Uma epopeia para os padrões da época – destaca o atual presidente do clube, Aimoré Belmonte, 60 anos, zagueiro do Armour de 1975 a 1977.

Aimoré Belmonte, presidente

do Armour

 

Belmonte é armourista desde pequeninho. Luta para não deixar o clube desaparecer. Em 2014, após 29 anos longe das competições profissionais do Campeonato Gaúcho – a última vez foi em 1985 –, ele ajudou a garantir a participação do Armour no Gauchão sub-19. No ano seguinte, levou o sub-17 à competição.

O ano pré-centenário, 2016, não foi fácil. A distância (“tudo fica longe de Livramento”), a falta de apoio e de dinheiro detonaram sonhos mais altos. Com suor e persistência, hoje o clube conta com escolinhas de seis a 12 anos e categorias de base sub-13, sub-15 e sub-17. A grana das mensalidades dos alunos assegura os salários  dos treinadores e a manutenção do estádio, R$ 3,5 mil mensais.

Há um esforço, mas o Estádio Miguel Copetti é o retrato da falta de investimentos: a grama é ruim, as arquibancadas de concreto quebraram. Dá uma melancolia imaginar que ali se viveu a alegria do futebol levada pela indústria que transformou o bairro Armour em uma potência econômica do Estado. O encerramento das atividades do frigorífico, no começo dos anos 2000, impactou todos os setores do município. O futebol também. Belmonte, que viu as portas da indústria se fecharem, não se dá por vencido. Acredita que a bola continuará rolando no gramado ralo do Miguel Copatti:

– Estamos lutando, mas é um embate duro – reconhece. – Enquanto houver paixão, o Armour não morrerá.

O time do frigorífico

não se dá por vencido