O amigo
Gerson Athayde
Ex-assessor
"Ele é daqueles gringos que encasquetam numa coisa e dizem que é possível fazer"
"É um cara extremamente simples. É um cara muito generoso. Muito generoso. Ele tem uma atenção com os filhos, sempre zeloso. Desde pequeninhos, sempre foi muito apegado. É muito delicado no trato com as pessoas.
É um cara que lê demais. Ele não é um sujeito que tenha, assim... Eu sou um cara muito mais popular. Sou um cara que tenho amigos em tudo que é lugar. Esse não é o perfil dele. É um sujeito muito mais reservado, na dele. A vida social dele é muito mais recatada. É um cara que gosta muito de ler. Lê muito. Está sempre rodeado de livros. E gosta de cozinhar. É meio metido a cozinhar — embora não seja grande coisa. Teve um período que ele nos incomodou muito com as tais parreiras que resolveu plantar. Mas é uma coisa que ele diz... É possível fazer. Esse é um ensinamento dele. Ele é gringo, né? Daqueles gringos que, assim, encasquetam numa coisa e dizem que é possível fazer. Ele disse que ia fazer vinho. E fez. Mexeu na terra, teve que corrigir a terra... Gastou dinheiro com isso, análise de solo. Se incomodou até com os passarinhos, que comeram a metade das uvas dele. Acho que desistiu porque descobriu que a vida de quem produz uva e vinho não deve ser fácil mesmo. Mas foi uma experiência... A experiência dele é saber que é possível fazer. E ele bota na cabeça, diz que vai fazer e faz.
Tenho o maior orgulho da amizade e intimidade que eu tenho com ele. Eu sou um fiel depositário das reações dele. O que me dá muito orgulho. Mas, também, muita responsabilidade."
O aliado
Raul Pont
Ex-prefeito de Porto Alegre
"Tem essa marca de agregação, capacidade de pensar globalmente e ouvir"
"O Miguel tem uma capacidade agregadora muito grande. Eu acho que é um elemento necessário para quem quer governar. Quando eu digo agregador, não é só capacidade de reunir forças, mas também de compreender que, para dar certo qualquer governo, você tem que ter uma capacidade de diálogo. De diálogo. De ouvir. O que é uma coisa que falta para muitos governantes. Os nossos adversários sempre dizem que nós somos os donos da verdade, que somos muito sectários, que não sei o que. Isso não procede. Essa marca de agregação, capacidade de pensar globalmente e ouvir... Talvez isso venha da longa experiência sindical. Nos sindicatos, a gente também aprende muito a ter que ouvir, dialogar, sentar, negociar. Eu acho que isso dá ao Miguel uma condição. E já ter passado por experiências legislativas, administrativas, vice-prefeito e vice-governador. Nos nossos governos, o vice acompanha. É a nossa tradição. E isso nos dá uma capacidade de, quando se assume, estar preparado.
Bem, eu fui um dos que defenderam a candidatura dele dentro do partido. E veja, mesmo o Olívio (Dutra), que era uma unanimidade dentro do partido, passou por prévias internas. Ninguém do PT, nem eu, nem o Tarso (Genro), só por ser o prefeito, estava garantido. Tinha disputa. O Miguel foi escolhido por unanimidade. Não houve nenhuma contestação, nem ensaio de que alguém também ia se candidatar para uma prévia. Ouvimos todos os principais dirigentes, os deputados, as correntes do PT. Todos concordaram que o nome do Miguel era o que melhor representaria o PT. Isso é um exemplo do reconhecimento. Da capacidade."
O adversário
Paulo Odone
Ex-deputado estadual pelo PPS
"Não se afastava um minuto da posição política-ideológica. Ele não era um que viesse conciliar"
"Quando era vice-governador, o Rossetto era um cara forte. Agressivo no discurso, como foi essa época muito radical do PT. Era um dos linhas-duras. Muito combativo.
Um momento que foi duro foi o da Ford. Eles tinham herdado o projeto da Ford e houve uma decisão interna, no PT, no governo, que tinham que honrar o discurso que eles tinham feito para ganhar as eleições, condenando a política de trazer as multinacionais. O PT queria os pequenos empresários, as pequenas indústrias. Para eles, esse negócio de multinacional era coisa de neoliberal. Parece que a luta era: 'Não vamos entregar para os americanos e para as multinacionais'. E com essa discussão simplista e ideológica, dentro do PT, votaram — diz que foram umas 16 pessoas — e decidiram em dizer não. Isso deu uma reação tão forte... E o Rossetto acompanhou essa posição, denunciando o favoritismo da Ford. Mas, nesse negócio, eles foram radicais, contra os incentivos que estavam se dando para trazer uma grande empresa. Isso era uma barbaridade. Se perdeu a Ford por uma questão ideológica.
Até o fim do governo, foi essa discussão, querendo separar as coisas entre os neoliberais e os progressistas. Eu dizia que, na realidade, eram o pessoal do atraso. E o Rossetto era dos duros do PT, não tenho dúvidas. Não se afastava um minuto da posição política-ideológica. Ele não era um que viesse conciliar. Fazia parte do que podemos chamar de núcleo duro do PT, na época, sob o ponto de vista de serem os firmadores da ideologia política e da combatividade. Era o nosso PT daqui. Muito duro. Ortodoxo."