Como melhorar o trânsito

Em um cenário em que o desrespeito às normas gera transtornos para toda a população, mudar hábitos pode deixar as ruas mais seguras, fluidas e alegres

Role a página e veja 15 medidas para melhorar o trânsito

REPORTAGEM

Marcelo Gonzatto

EDIÇÃO

Eduardo Rosa

DESIGN | ILUSTRAÇÃO

Leonardo Azevedo

PROGRAMAÇÃO

Hermes Wiederkehr

Em um ano, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) recebe, em média, cerca de 60 mil ligações telefônicas em Porto Alegre. Metade desses telefonemas são pedidos para que um agente multe alguém por algum tipo de infração flagrada naquele momento como estacionar em local proibido. Essa cifra demonstra que o desrespeito às normas gera um transtorno significativo para toda a população, mas também reafirma uma característica comum aos moradores da Capital: há muita gente capaz de apontar os erros dos outros, mas poucos dispostos a mudar os próprios hábitos a fim de deixar as ruas mais seguras, fluidas e alegres.

De janeiro a outubro, somente as seis infrações mais frequentes registradas pelos fiscais de trânsito somaram nada menos do que 322,5 mil casos — com destaque para excesso de velocidade, estacionamento irregular e (sinal dos tempos) conduzir manuseando o celular. Para o diretor de Trânsito da EPTC, Fabio Berwanger Juliano, todas as diferentes autuações registradas dia após dia tem uma mesma origem de fundo psicológico: egoísmo. Esse componente ajudaria a amplificar tanto o desrespeito à legislação viária quanto a falta de cordialidade sobre o asfalto.

— Sentimos falta de um trânsito mais humano, feito por quem se coloca no lugar do outro. Na comparação com outras cidades, mesmo de dentro do Brasil, acredito que o porto-alegrense, o gaúcho, é muito individualista e mais agressivo — opina Juliano.

O diretor dá um exemplo de como, segundo ele, os condutores da Capital costumam andar na contramão da civilidade:

— Em muitas outras cidades, quando alguém dá pisca para entrar (na faixa), os outros motoristas freiam, deixam entrar. Aqui, a maioria acelera.

A analista-pedagoga Laís Elisabeth Silveira, chefe da Divisão de Educação e da Escola Pública de Trânsito do Detran, afirma que a qualidade do trânsito depende de infraestrutura, fiscalização e educação. Os condutores e pedestres costumam reclamar do Estado por deficiências nos dois primeiros itens, mas também falham ao fazer sua parte. Não é por falta de conhecimento que ocorrem as infrações, segundo a especialista, mas de preocupação em respeitar as regras.

— As pessoas transgridem as normas apesar de saber quais são e que deveriam ser seguidas. É preciso uma mudança cultural — opina Laís.

A melhor forma de promover essa mudança, conforme o presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores (SindiCFC) do Estado e vice-presidente do Conselho Estadual de Trânsito, Edson Luis da Cunha, é dar o exemplo.

— Por que em Gramado a faixa de pedestres é respeitada, e em Porto Alegre não? Você vê que o meio onde está inserido respeita, então segue o exemplo. Se cada um fizer a sua parte, dando exemplos aos demais, aos poucos nós vamos mudando essa cultura do desrespeito às leis de trânsito.

Veja, a seguir, as principais recomendações feitas por especialistas de medidas práticas — sob responsabilidade de motoristas, pedestres, motociclistas e ciclistas — capazes de tornar as vias públicas da Capital mais seguras e cordiais.

NO VOLANTE

CONDUTOR

PLANEJE O PERCURSO

Isso evita que você prejudique o trânsito ao ficar em dúvida sobre o melhor caminho a seguir, procurando local onde estacionar ou fazendo mudanças bruscas de rumo, por exemplo. Esse planejamento pode incluir três etapas básicas:

1. Horário
Se você não tiver um compromisso com horário pré-definido, escolha um horário do dia com menos movimento nas ruas. Fica melhor para você e para os outros. Horários a serem evitados em dias de semana:
Manhã: 7h às 9h
Tarde: 17h às 19h30min

2. Rota
Defina com antecedência o melhor trajeto e se familiarize com ele. Assim, você pode se colocar na melhor faixa para eventuais conversões com antecedência, por exemplo, e evita dúvidas de percurso que podem deixar a condução muito lenta ou sujeita a mudanças bruscas de direção.

3. Estacionamento
Onde você vai deixar o seu carro? Se é uma rua onde é difícil conseguir vaga, veja quais são as opções próximas. Podem ser ruas perto onde há mais espaço, estacionamentos privados etc. Isso reduz o risco de você dirigir lentamente em busca de uma vaga ou ficar dando voltas na quadra.

DE OLHO NA SINALIZAÇÃO

A grande maioria dos condutores conhece as regras, mas escolhe não cumpri-las. De todas as multas aplicadas na cidade neste ano (até outubro), as duas mais comuns envolvem desrespeito à sinalização: excesso de velocidade (153 mil) e estacionamento em local proibido (54,6 mil). Correr demais aumenta o risco de acidente, e estacionar em local proibido dificulta a circulação das outras pessoas.

As infrações mais comuns

153,7 mil

Excesso de velocidade

54.651

Estacionamento em local proibido

37.912

Conduzir manuseando ou falando ao celular

32.406

Ultrapassar sinal vermelho

24.927

Não indica mudança de direção (pisca)

18.987

Condutor sem o cinto de segurança

DEIXE O CELULAR DE LADO

Conduzir manuseando o celular ou falando ao aparelho já é a terceira infração mais comum na Capital. A cada 11 minutos, em média, um motorista é flagrado com o telefone em mãos enquanto dirige. As recomendações básicas são:

- Se o seu carro tem esse recurso, habilite a conexão via bluetooth para poder falar sem tirar as mãos do volante.

- Evite digitar ou ler mensagens enquanto aguarda o sinal verde na sinaleira. Frequentemente, o condutor não percebe que o sinal abriu e atrasa a partida.

USE A LUZINHA

Acionar o pisca para avisar que você vai mudar de direção é uma medida simples e eficaz para dar fluidez ao tráfego e reduzir o risco de acidentes. Ainda assim, muitos motoristas teimam em não acioná-la. Entre janeiro e outubro, a cada dia 83 motoristas foram multados, em média, por não indicar mudança de direção na cidade. Essa medida é importante em situações como as seguintes:

- Antes de mudar de faixa, acionar o pisca permite aos demais motoristas manter a distância necessária para que você conclua a manobra com segurança.

- Antes de fazer uma conversão, a sinalização permite que os carros que vêm atrás reduzam a velocidade e evitem uma colisão. Isso também alerta os pedestres de que você vai dobrar naquela rua.

GENTILEZA GERA GENTILEZA

Se um condutor der pisca sinalizando a intenção de mudar de faixa ou fazer uma conversão, por exemplo, reduza a velocidade e facilite a manobra. Tente se colocar no lugar do outro. Outros exemplos de gentileza que podem fazer do trânsito um lugar mais humano:

Não corte outros veículos
Veículos maiores dão preferência a veículos menores, e ciclistas dão preferência a pedestres
Use a buzina somente em caso de necessidade
Respeite a preferência do pedestre na faixa
Não cole na traseira do carro à frente
Respeite a distância mínima de 1,5 metro ao passar por um ciclista

DIGA NÃO À FILA DUPLA

Não pare em fila dupla, mesmo que seja "só por um minutinho", para desembarcar ou embarcar alguém. Esse hábito, frequente diante de escolas, tranca a circulação. Algumas ações que podem ser tomadas para driblar a fila dupla:

Tente chegar antes do horário de pico para aumentar a chance de conseguir uma vaga junto ao meio-fio
Procure um outro ponto na quadra onde possa deixar o passageiro, se for essa a razão da parada.
Em casos mais crônicos, procure a direção da escola (quando for esse o problema) para verificar se não há soluções alternativas que possam ser colocadas em prática — como liberar um espaço para embarque e desembarque rápido na área do estabelecimento.

CARRO NA GARAGEM

Sempre que possível, procure dar preferência ao uso do transporte público. Menos carros nas ruas deixam o trânsito mais fluído e menos poluente.

MOTORISTA DE APLICATIVO

ENCOSTE PARA O EMBARQUE

Segundo a EPTC, muitos motoristas de aplicativo estão parando no meio da via para embarcar o passageiro, em vez de encostar junto ao meio-fio. Além de representar uma infração, isso torna o trânsito mais lento e aumenta o risco de acidente.

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LONGE DA DIREÇÃO

PEDESTRE

SEMPRE NA FAIXA

Muitos pedestres ainda atravessam a rua longe da faixa, mesmo que exista uma a poucos metros de distância. Atravessar na faixa aumenta a segurança, pois é um ponto mais visível aos motoristas. Mas atenção: onde houver sinaleira, aguarde o sinal vermelho para os veículos.

- Em 2017, 44 pessoas morreram atropeladas na Capital.

CUIDADO NO CORREDOR

Se for usuário de transporte público, jamais atravesse o corredor de ônibus (principalmente correndo) para embarcar ou logo depois de desembarcar de um veículo. Vá para o espaço destinado à travessia.

MOTOCICLISTA

EVITE "COSTURAR"

Segundo a EPTC, as motos representam apenas 11% da frota na Capital, mas se envolvem em 30% dos acidentes com morte. A principal recomendação dos especialistas é não fazer ziguezague entre os automóveis com o trânsito em movimento.

CICLISTA

PREFERÊNCIA À CICLOVIA

O Código de Trânsito estipula que as bicicletas devem circular, de preferência, nas ciclovias e demais espaços destinados a elas. A separação do trânsito aumenta a segurança do ciclista. Quando não for possível, nas margens das pistas (não sobre a calçada, exceto onde houver sinalização para isso).

RESPEITO À SINALIZAÇÃO

Não há registros oficiais, mas agentes de fiscalização dizem que é comum ciclistas não respeitarem regras gerais como parar no sinal vermelho ao circular em uma via pública. Embora não seja um veículo automotor, a bicicleta fica sujeita às mesmas normas de trânsito.

NÃO À CONTRAMÃO

Muitos ciclistas preferem andar na contramão das vias, pois assim veem os carros se aproximando. A Divisão de Educação do Detran orienta a seguir sempre no sentido do fluxo da via. Circular no sentido oposto aumenta o risco de acidentes mais graves.

USUÁRIO DE APLICATIVO

FACILITE O EMBARQUE

Ao chamar um veículo, marque um endereço onde o carro possa parar — ou seja, onde não houver placa de proibido parar e estacionar.

NÃO ENROLE

Tente já estar pronto para o embarque quando o carro chegar. Assim, ele não precisará ficar parado na via atrapalhando o trânsito ou ocupando uma vaga de estacionamento.