Publicado em 2 de agosto de 2016

Repórter fotográfico Germano Rorato encarou duas missões que misturam esporte, natureza e aventura na região central do Rio Grande do Sul

POR

Germano Rorato

germano.rorato@diariosm.com.br

Nossa aventura começa com a prática do canionismo em Júlio de Castilhos, às margens do Rio Piruva. Percorremos cerca de 10 quilômetros por dentro do rio, até chegarmos ao município de Ivorá. Pouco conhecido no Brasil, o esporte consiste na descida de cânions (também conhecidos como desfiladeiros), vales e na exploração progressiva de rios.

Para a prática da modalidade, são utilizadas habilidades aquáticas e verticais, como a marcha e a natação e, em alguns casos, rapel e outras técnicas de descida. Nossos guias foram Guilherme Rocha e Rafael Camilo. A dupla integra o Grupo Bandeirantes Serra (GBS). A equipe foi composta por oito integrantes e contou com o apoio do 4° Comando Regional de Bombeiros (4º CRB) e do Automóvel Clube de Santa Maria (ACSM).

_ A prática no Rio Piruva é considerada de nível fácil. No entanto, a duração da atividade é considerada longa. É sempre importante o acompanhamento de guias com conhecimento de técnicas anfíbias, de montanhismo e experientes em canionismo. Em parte do trajeto, encontramos paredes que se erguem por mais de 70 metros de altura. Para conseguir escapar de um lugar assim, somente com pessoas conhecedoras de montanhismo _ destacou o guia Guilherme Rocha, do GBS.

Um clima de suspense no ar, uma ansiedade que dava frio na barriga, mas muita disposição para enfrentar o longo percurso e fazer rapel em três cachoeiras. Logo no início da caminhada, em Júlio de Castilhos, deu para perceber que não seria fácil passar pelas águas do Rio Piruva. Encontramos muitas pedras e, na maior parte do caminho, permanecemos dentro da água. Precisávamos nadar bastante.

A cada curva do Piruva, as paredes de pedras, às margens do rio, ficavam mais altas, chegando a alcançar 20 metros de altura. As dificuldades eram esquecidas e enchíamos os olhos e o coração de alegria com as lindas paisagens que se revelavam. Chegando à Cachoeira do Piruva, aquele frio na barriga voltou, e a adrenalina tomou conta na primeira descida de rapel. Foram 25 metros de altura junto à queda d'água.

No decorrer do trajeto, descemos a Cachoeira Piruva, com 30 metros, e a Cascata dos Degraus, com 40 metros de altura. Foi uma sensação inesquecível descer apoiado por uma corda com a água batendo no rosto e uma visão incrível proporcionada pela beleza natural do lugar.

Chegou a vez de caminhar. E caminhar rápido, diziam nossos guias. O entardecer estava se aproximando e ainda tínhamos de passar pelo brete _ local onde as paredes do cânion ficam mais próximas, e o Rio Piruva passa pelo meio delas. Quando pensei que o momento de maior adrenalina tinha passado, chegamos ao brete.

Já era noite. Passar pela garganta do Piruva apenas com luzes de lanterna e nadando foi o momento mais marcante da aventura. Logo depois, chegamos ao ponto de resgate no Centro Comunitário Piruva, em Ivorá. Cansados e molhados, mas com sorriso no rosto.

Como foi

Para chegar até o local de nossa segunda aventura, saímos de carro do centro da cidade em direção à Região Nordeste de Santa Maria. Cerca de vinte minutos depois, chegamos aos pés do Parque do Morro, no bairro Campestre do Menino Deus. Já com as mochilas nos ombros, o nosso guia Wendel Soares nos dá as primeiras instruções da trilha que vamos seguir pelo morro, até chegar ao Costão. É ali que vamos realizar nosso maior desafio: a escalada esportiva nas paredes de rocha do Parque do Morro.

Iniciamos a caminhada e logo percebemos que a subida do morro já começou. Para percorrer a trilha morro acima, caminhamos cerca de um quilômetro em trinta minutos. Paramos por alguns minutos para apanhar bergamotas, descansar e contemplar a linda paisagem que o Parque do Morro nos oferece, uma visão panorâmica do Vale do Menino Deus.

Chegando ao Costão, nós nos deparamos com uma imensa parede de rocha. Sou, então, apresentado à via (trajeto pela parede de rocha a ser escalada), que foi batizada de "Big Head" e tem cerca de 30 metros de altura. Escutando atentamente as instruções de Wendel sobre como escalar, como é a preparação dos equipamentos e quais são as medidas de segurança, o nervosismo e aquele frio na barriga já tomaram conta.

Wendel começa a subida mostrando todas as pedras, apoios de pés e mãos, assim como as fendas na rocha que eu iria usar para escalar a via. Chegou a minha vez de começar a subida. Antes disso, encho as mãos de pó de magnésio, para não ter perigo de resvalar, e vamos para cima. A subida é lenta: primeiro as mãos, depois os pés, prestando muita atenção nas orientações que vinham do guia que já tinha concluído a primeira etapa da escalada.

Com os primeiros 15 metros de altura subidos, ficamos por alguns minutos parados, ancorados em uma rocha. Mais algumas orientações e vamos para a última investida para completar o desafio de chegar até o fim da via. Wendel faz a frente, sempre mostrando os apoios que tenho de usar na minha própria subida. Recomeço um pouco mais calmo, mas não por muito tempo.

A segunda parte da subida é um pouco mais difícil. Quando paro um pouco para descansar, dou uma olhada na paisagem. Só então me dou por conta da altura em que estávamos. Outro susto foi a visão impressionante do Vale do Menino Deus por cima das copas das árvores. Mesmo sabendo que todas as medidas de segurança eram seguidas ao pé da letra, não tinha como não sentir novamente aquele frio na barriga.

Respirar fundo, concentrar-se e seguir, mãos na pedra de cima, pés na fenda da rocha e impulso para o alto. Depois de quarenta minutos, concluímos com êxito nossa escalada, um esporte do mais puro contato com a natureza, um sentimento de superação e uma felicidade que se esparramavam por todo o vale.

Como foi

Duas aventuras no coração

do Rio Grande do Sul

O segundo desafio foi superar as paredes de rocha do Parque do Morro, localizado no bairro Campestre do Menino Deus, região nordeste de Santa Maria. A aventura começa com uma linda trilha de pouco mais de um quilômetro, percorrida em aproximadamente 30 minutos até o pé do morro.

O local, conhecido como Costão, também chamado de campo-escola, porque é ideal para iniciantes na escalada e fica a cerca de sete quilômetros do centro da cidade. Há cerca de 120 vias (caminho já traçado e que é percorrido na escalada). A que escolhemos tem 33 metros de altura.

Há outros locais externos para a escalada em Santa Maria. No entanto, as vias do Parque do Morro são catalogadas pela Associação Santamariense de Escalada, que cuida da conservação e manutenção do local, tornando-o mais seguro.

A equipe foi composta por cinco integrantes, entre eles os guias Wendel Soares e Beatriz Toniollo, ambos do grupo Bruxos Turismo e Aventura. A Associação Santamariense de Escalada, representada por Viviane Durigon e Vinicius Lima, também se fez presente.

Escalada no Parque do Morro

EQUIPAMENTOS

 

De um cânion para outro, os equipamentos de segurança exigidos variam. Para a descida do Rio Piruva, é aconselhado usar roupas leves e de secagem rápida e tênis ou botas resistentes à água. Em alguns casos, dependendo da temperatura e do clima, é aconselhado o uso de roupa de neoprene (espécie de roupa térmica). O capacete é item obrigatório. Para as descidas de rapel, é preciso ter equipamentos próprios.

Grupo Bandeirantes Serra (GBS)

Contatos: bandeirantesdaserra.org.br, contato@bandeirantesdaserra.org.br e
(55) 9927-6167 e 9927-6162.

A ESCALADA ESPORTIVA

 

É um esporte que explora as potencialidades físicas, técnicas e psicológicas do praticante. O principal objetivo é escalar uma parede rochosa, um bloco ou um muro de escalada do chão até o topo, vencendo as adversidades. Na modalidade, o esforço do escalador é total em seu desempenho, não podendo cair nem se apoiar na corda ou nos grampos, concluindo a escalada até o final do percurso.

Bruxos Turismo e Aventura

Contato: bruxosturismoeaventura@gmail.com ou (55) 9967-0798

Escalada para iniciantes tem o custo de R$ 50, com guia e equipamentos de escalada inclusos

Quem gostou da escalada e quiser melhorar sua prática pode procurar o curso básico de escalada esportiva. Os valores variam entre R$ 400 e R$ 500

Missão no Rio Piruva