OS ADVERSÁRIOS

A conquista da América

Abel Braga havia sido muito claro antes de o Inter entrar em campo contra o São Paulo no Beira-Rio. Era preciso parar o Mineiro, gaúcho e herói do adversário na conquista do mundial no ano anterior. E o Inter o parou.  Confira o que pensam os adversários da campanha de 2006 que viram o Inter campeão.

Martín Lasarte

(técnico do Nacional à época)

Curiosa é a trajetória de alguns clubes e suas histórias. Em 1980, o Nacional-URU derrubou uma geração de colorados e atirou o clube em um longo período sem grandes conquistas. O Inter tricampeão brasileiro invicto um ano antes, perdeu a final da Libertadores para os uruguaios. E viu, três anos depois, o seu grande rival ganhar a América e o mundo. Pois em 2006, o Nacional voltou a confrontar o Inter e se tornar um duro obstáculo à frente dos colorados e da tentativa deles de voltar aos feitos relevantes.

Pois na Libertadores de 2006, o Nacional do técnico Martín Lasarte e do atacante Luís Suárez surgiu como um gigante nas oitavas de final. As duas equipes já haviam se enfrentado pelo Grupo 6. O Inter goleou poor 3 a 0, no Beira-Rio e, no retunro, ocorreu um 0 a 0, no Parque Central.

— Depois da fase de grupos, aconteceu de reencontramos o Inter nas oitavas. Lembro que já havia em Porto Alegre um clima de apreensão da torcida colorada, uma coisa de obrigação de título, pois o Grêmio já havia sido campeão da Libertadores muitos anos antes. E é uma rivalidade como Nacional e Peñarol, como Boca e River. Sentia que o clube estava muito pressionado por essa primeira conquista — recorda Martín Lasarte.

Vencedor da Chave 6, o Inter teve o direito de jogar a segunda partida das oitavas em casa. Assim, o Inter voltou ao Parque Central, dessa vez, para um mata-mata. De virada, o time de Abel Braga bateu os uruguaios por 2 a 1. O gol de empate foi marcado pelo dublê de lateral-esquerdo Jorge Wagner, cobrando falta. O da virada, porém, foi antológico. Clemer deu um balão para a frente, a bola foi rebotada, Fernandão cabeceou para Rentería que, na entrada da área, deu um balãozinho no zagueiro Ignacio Pallas e, sem deixar a bola quicar, acertou o chute que encobriu o goleiro Bava. na comemoração, dançou o seu tradicional ruque-raque, provocando a torcida do Nacional e recebeu cartão amarelo. Depois, por impedir uma cobrança de falta, foi expulso. Ediglê entrou para recompor o time e, por falta dura em Suárez, também recebeu o cartão vermelho do árbitro colombiano Oscar Ruiz. Com nove em campo e uma pressão da torcida e do time uruguaios, o Inter deixou Montevidéu com uma enorme vantagem.

— O jogo de Porto Alegre foi um tanto distinto. Precisávamos fazer dois gols para passar. E fizemos. Marco Vanzini marcou dois, ambos anulados pelo árbitro Carlos Torres (do Paraguai). Fiquei em dúvida quanto ao primeiro (um cabeceio, após cobrança de falta, onde foi marcado impedimento). Mas o segundo foi gol claríssimo (Clemer falha ao soltar uma bola, Suárez passa para Vanzini chutar ao gol vazio, um lance ao estilo de Ceni com Eller e Fernandão, na final da Libertadores; o árbitro marcou falta no goleiro). São os golpes que o futebol te dá. Depois, o árbitro reconheceu que errou — recorda o treinador do Nacional de 2006 e também atual técnico do clube uruguaio, Martín Lasarte. — Quando você ganha, tudo passa e se esquece. Mas, quando se perde, a dor é muito grande e não te deixa esquecer desses momentos. Tínhamos um time em formação, dificilmente chegaríamos à decisão da Libertadores porque o futebol uruguaio só pensa em vender, vender e vender os jovens. Entendo que, apesar daquele jogo e da nossa revolta, por nos sentirmos prejudicados, o Inter foi um justo campeão da América, pelo conjunto de sua campanha — reconhece o treinador uruguaio.

Mineiro

(volante do São Paulo em 2006)

Herói do São Paulo na conquista do Mundial de 2005, o volante gaúcho Mineiro era peça-chave na equipe de Muricy Ramalho, que disputou as finais da Libertadores contra o Inter, em 2006. Ele e Josué formavam a base de um meio-campo, que ainda tinha Danilo e que contava com os alas Souza e Júnior — no sistema 3-5-2. Aos 40 anos, vive com a mulher e três filhos nas cercanias de Gelsenkirchen (ALE). Está lá desde 2009, quando defendeu o Schalke 04 — e não pretende voltar tão cedo. Natural de Porto Alegre, Mineiro começou a carreira nas categorias do base do Inter, de onde saiu aos 17 anos, dispensado, devido à baixa estatura, em meados de 1993.

Com muitos familiares colorados, sabia bem o que viria pela frente naquela decisão. No jogo de ida, no Morumbi, sofreu uma sequência de faltas logo no começo da partida. Uma delas, no tornozelo, praticamente o alijou da partida.

— Sabíamos que o Inter ia tentar neutralizar os nossos volantes, no caso, eu e Josué. Logo no início do jogo, o Edinho me fez uma falta, o que pesou muito, pois me machuquei. Segui o jogo todo, mas descontado — recorda Mineiro. — Não quero levantar polêmica. Por isso, prefiro acreditar que não foi nada intencional, que não houve maldade, e que nenhum jogador desrespeitaria a integridade física do outro. Trato aquele lance como casual, algo de jogo. O fato é que joguei as duas partidas das finais bastante descontado — acrescenta o volante do São Paulo de 2006.

Para Mineiro, a expulsão de Josué (que perdeu a cabeça, acertou um cotovelaço em Rafael Sobis) e a sua contusão foram momentos importantes para a derrota por 2 a 1 para o Inter, em casa — o volante colorado Fabinho seria expulso minutos depois de Josué, deixando os finalistas com 10 jogadores em campo de cada lado.

— Na prática, perdemos quase a metade do setor para o jogo da volta, no Beira-Rio, pois o Josué estava suspenso (foi substituído por Richarlyson) e eu joguei com dores. Estava longe dos 100%. Aliás, na véspera da final ainda não sabia ao certo se teria condições de jogo — conta Mineiro. — Depois da partida no Morumbi sabíamos que seria muito difícil reverter aqueles 2 a 1. Ainda assim, conseguimos fazer um bom jogo e, por pouco, não conseguimos levar a decisão para a prorrogação — diz Carlos Luciano da Silva, o Mineiro, lembrando o dramático 2 a 2 do Beira-Rio, que deu a Libertadores ao Inter.

Apesar da frustração por não ter conseguido manter o cinturão de campeão da América, tampouco de jogar o Mundial contra o Barcelona, Mineiro guarda na memória a agitação de Porto Alegre, naquele 16 de agosto de 2006:

— Mesmo sem a conquista, e queríamos muito ter vencido de novo a Libertadores, aquele foi um momento marcante. Afinal de contas, o campeão foi o time da minha cidade, o time dos meus irmãos e de parte dos meus tios, e o clube no qual comecei a carreira. O Inter soube explorar os contra-ataques no Morumbi e construiu uma grande vantagem.

Apesar da derrota, o São Paulo não teria muito tempo para se lamentar. Semanas depois, encaminharia o o título brasileiro, após vencer um jogo-chave: contra o Inter, no Morumbi.

— De certa forma, demos a volta no Brasileirão, ao derrotar o Inter, que também estava disputando o título nacional conosco, até então. Foi algo muito importnate para nós, e em especial para o Rogério (Ceni), que havia ficado muito chateado com a falha que teve no gol do Fernandão, no jogo de volta, no Beira-Rio. Ele já era um símbolo do São Paulo e merecia a conquista — finaliza Mineiro.

Os amuletos

A campanha