VANDERLEI ALMEIDA , AFP, BD
SELEÇÃO BRASILEIRA

Luiz Zini Pires

luiz.zini@zerohora.com.br

Tite torna fácil sonhar com a Copa da Rússia

C om uma hipotética versão nacional da revista Time nas bancas de revista, Tite seria eleito o brasileiro do ano, o nome próprio de 2016 e não só no futebol que o faz estrela. Seu rosto decoraria postes, entraria em casas, forraria paredes de edifícios. Seria reverenciado. O serrano Adenor Bachi, que se esconde atrás do apelido de ex-jogador, conseguiu um milagre. Trouxe o torcedor para perto da Seleção Brasileira. Nosso time de camisa amarela parecia misturado aos homens da CBF, o líder deles procurado pelo FBI, a polícia federal americana. Todos olhavam, cada vez mais desconfiados para a sede da Barra da Tijuca, no Rio. Tite criou novo cenário enquanto a Justiça não chega. Ao trocar Dunga, que vinha atravessando péssimo momento em campo (era o sexto nas Eliminatórias da Copa de 2018 e foi eliminado pelo Peru na primeira fase da Copa América) e tem uma dificuldade imensa em se comunicar (além de guardar ranços antigos na gaveta da memória), por Tite, a antipática CBF levantou uma simpática taça. O treinador era o favorito do torcedor. Não só o preferido, mas o mais capaz para o cargo. Tinha uma carreira longa no futebol, uma vida inteira entre as chuteiras, o aprendizado de treinador e o banco de times pequenos, médios e grandes. Perdeu e ganhou em incontáveis jogos. Tocou em títulos regionais, nacionais e avançou. Com o Corinthians, ergueu a taça do Mundial de Clubes da Fifa no Japão, sua mais vistosa medalha, depois de passar pela icônica Libertadores. O segredo de Tite está no trabalho intenso e qualificado de excelente gestor de grupo. Junto, chega o tático. O que o faz um profissional especial entre muitos. Ele consegue fazer com qualidade a ponte entre a Europa, onde se joga o melhor futebol do mundo, e o Brasil, que é fonte de mão de obra qualificada. Captou ensinamentos. Praticou. Com Dunga, os jogadores reclamavam da má qualidade dos treinos de campo. Com Tite, eles repetem exercícios mais avançados que praticam quase todos os dias em seus clubes no outro continente. Tite ouviu os atletas. Abriu um diálogo. Trocou ideias. Quis saber quem joga em determinado lugar, como gosta, qual a posição preferencial, como treina. Não satisfeito com as posições dos jogadores, o treinador da Seleção contatou os colegas dos principais clubes europeus. Pediu pelos seus atletas. Ganhou um mapa rico em detalhes sobre o comportamento de cada um nos treinos e nas partidas. Meio ano depois de Tite assumir o cargo, o Brasil domina a tabela de classificação das Eliminatórias da Copa do Mundo da Rússia de 2018. Recuperou o Brasil do 7 a 1. Formou uma Seleção competitiva. Subiu no ranking da Fifa. Ofereceu ao mundo a certeza que o futebol brasileiro está de volta e em busca do protagonismo. Ser o melhor de novo é difícil. Mas dá gosto saber que o caminho está traçado. Com Tite, é fácil sonhar.
EPISÓDIOS MARCANTES A PERIGO Em março, após dois empates, contra Uruguai e Paraguai, a Seleção do técnico Dunga se vê na sexta colocação das Eliminatórias da América do Sul, fora da zona de classificação para a Copa do Mundo da Rússia, em 2018. ELIMINAÇÃO E DEMISSÃO Uma campanha constrangedora leva à eliminação na fase de grupos da Copa América Centenário, disputada em junho, nos Estados Unidos. O Brasil fica atrás de Peru e Equador em seu grupo. Resultado motiva a demissão de Dunga e a contratação de Tite. BELA ARRANCADA Início da caminhada de Tite na Seleção é marcado por atuações convincentes acompanhadas de vitórias diante de Equador e Colômbia, em setembro. Técnico firma Gabriel Jesus como titular e faz a equipe trocar passes com desenvoltura. O Brasil pula para a vice-liderança das Eliminatórias. ÍDOLO E LÍDER Tite transforma-se em ídolo na goleada de 5 a 0 sobre a Bolívia. Torcedores gritam seu nome em meio à grande atuação na Arena das Dunas. Depois, a vitória de 2 a 0 sobre a Venezuela, fora de casa, faz o Brasil assumir a liderança das Eliminatórias. GOLEADA NO CLÁSSICO Em novembro, com uma marcação forte sobre Messi e atuação brilhante de Neymar, Gabriel Jesus, Philippe Coutinho e Marcelo, o Brasil faz 3 a 0 sobre a Argentina no mesmo Mineirão que testemunhou o 7 a 1 da Alemanha. O ano se encerra com mais uma vitória, a sexta de Tite em seis partidas, diante do Peru fora de casa, resultado que garante vantagem de quatro pontos na ponta das Eliminatórias.