AFP, STRINGER, BD
REALIDADE AUMENTADA

Paula Minozzo

paula.minozzo@zerohora.com.br

Pokémon Go abriu

olhos e uniu pessoas

P okémon Go não precisou de uma tecnologia altamente avançada para tornar-se o jogo do ano. Com uma pitada de nostalgia, jogabilidade simples (o que é de se esperar de games mais populares para smartphones) e apelo a diferentes gerações, a produtora Niantic conseguiu inserir os princípios de realidade aumentada na rotina de milhões de pessoas – bastava ter um celular. Foi uma espécie de experimentação, um dos primeiros passos para o grande público sentir como a realidade pode ser alterada a nossa volta com nossos próprios dispositivos. Parecia deslumbrante ver um Charmander sentado na ponta da sua cama pela primeira vez – mas logo isso tornou-se normal. Viu-se com Pokémon Go que o chamado “mundo real”, para quem ainda faz essa distinção, poderia se tornar um tanto mais mágico, mesmo com pouco. O game tinha seus defeitos, mas essa foi sua principal marca: abrir as possibilidades de uso de tecnologias próximas da realidade aumentada para diferentes funções e mercados, como na saúde, na educação ou até para a venda de imóveis. Por suas características, o jogo incentiva a mobilidade – levou pessoas aos parques e gerou pequenas aglomerações em lugares públicos. As caçadas aos Pokémons fizeram estranhos conversarem sem vergonha sobre a busca a um Pikachu. Quem saía para passear com o cachorro unia-se a um pedestre próximo para caminharem juntos à procura de um Bulbasauro. A tecnologia não precisa ser centrada apenas quando se encaixa no nosso conceito de utilidade – essas pequenas coisas também a fazem valer a pena. Gastamos horas no Facebook, mas, do dia para a noite, nos tornarmos duros críticos do game. A propósito: com Pokémon Go, também discutimos a nossa parcela de culpa frente ao que a tecnologia nos proporciona, as concessões que fazemos para nos adequarmos ao ritmo da maioria (questões, aliás, muito bem trabalhadas em outro hit digital de 2016, o seriado britânico Black mirror). Com todo esse frenesi, enquanto alguns apenas se divertiam, outros instigaram debates sobre privacidade e uso de dados pessoais pelo programa. As brechas de segurança pareciam ainda mais assustadoras – e não se restringiam à questão tecnológica. Caminhar com os olhos grudados no celular não é uma prática tão recente, porém, com Pokémon Go, o hábito explodiu, e então, veio o medo, o sensacionalismo. Na maior parte das vezes, não há como provar o que alguém estava fazendo no smartphone quando foi atropelado. Não podemos dizer que Pokémon Go causou mais acidentes do que as mensagens de texto. Para jogar, nunca foi preciso se aventurar por becos durante a noite, mas na emoção, alguns caçadores pareciam ter esquecido certos limites. E limite é um termo com mais de um sentido no universo de Pokémon Go. No início, era visto como bastante inclusivo: não era preciso comprar novos aparatos para jogar, e com uma conexão 3G já dava para caçar os bichinhos. A realidade foi outra: há relatos de que jogadores mais afastados dos centros urbanos tinham menos acessos a Poke Stops e viam menos monstrinhos. Em cidades menores ou até na periferia, era difícil avançar no jogo devido ao mapeamento geográfico do game, que inseria os recursos em lugares mais centrais e populosos. Pokémon Go continua recebendo atualizações para manter os fãs desafiados, mas já perdeu parte da sua força com o grande público. O que não é inesperado. Modas adotadas por multidões tendem a diminuir na mesma proporção em que cresceram.
EPISÓDIOS MARCANTES O LANÇAMENTO Em julho, o jogo Pokémon Go é lançado – inicialmente, nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália. Logo a Europa e o Japão também entram no mapa. No fim do mês, o game atinge a marca de 100 milhões de downloads no mundo, deixando para trás aplicativos como Tinder, Netflix, Uber e Instagram. O APELO Em vídeo publicado no dia 19 de julho que logo torna-se viral, o ator Joel Vieira pede, entre lágrimas, que Pokémon Go seja disponibilizado no Brasil. O DESEMBARQUE No dia 3 de agosto, Pokémon Go é lançado no Brasil, após pedidos até do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para que chegasse ao país antes do início dos Jogos Olímpicos. O RECORDE Em apenas um mês de vida, o jogo desenvolvido pelas empresas japonesas Niantic e Nintendo fatura US$ 200 milhões, marca que ultrapassa o sucesso financeiro de Clash Royale (US$ 75 milhões). A REVOLTA Ainda em agosto, atualizações do jogo eliminam funções importantes, como a que permite economizar bateria do celular, e enfurecem fãs, que fazem duras críticas à Niantic nas redes sociais. O DECLÍNIO Primeiros sinais de queda no interesse pelo jogo começam a aparecer já em agosto. Após um pico de 45 milhões de usuários no meio de julho, número cai para pouco mais de 30 milhões. A QUEDA Reportagem da revista Veja em outubro escancara a queda livre nos downloads do jogo. Pokémon Go, que rapidamente havia tomado a dianteira no ranking dos aplicativos mais baixados para o iPhone, figura na 75ª colocação nos EUA e na 70ª posição no Brasil.