FÉLIX ZUCCO, BD BRUNO ALENCASTRO, BD
GRÊMIO NO CÉU, 
INTER NO INFERNO

Diogo Olivier

diogo.olivier@zerohora.com.br

A gangorra pendeu

de forma tão abrupta

L auro Quadros, o inventor do termo, deve estar rindo à toa. Não pelo fato de o Inter estar no chão e o Grêmio no alto. Refiro-me à imagem, uma sacada ao mesmo tempo culta e popular, de fácil compreensão. É mesmo difícil registrar um período na história da rivalidade Gre-Nal, e lá se vai mais de um século, em que os dois estivessem nas nuvens, discutindo qual grande taça recentemente erguida tem mais lustro. Em maior ou menor medida – às vezes até imperceptíveis –, um sempre está um tanto acima ou abaixo. Pois havia muito tempo que a gangorra não pendia para um lado de forma tão abrupta na Província de São Pedro como neste 2016 que será sempre lembrado pela dor da Chapecoense e dos amigos jornalistas mortos no voo da LaMia. Há menos de um mês, o Grêmio sofria com o constrangimento de 15 anos na fila. A torcida já evidenciava matizes traumáticos. Era uma geração sem saber como agir em festa com taça. E o lado vermelho da força, além da regularidade de troféus na década, ainda podia atirar: segunda divisão, nunca. Estava assim a gangorra. Não está mais. Agora o Inter não tem mais a virgindade da Série B como trunfo e terá de se virar com a obrigação – leia-se pressão – de voltar no primeiro ano do andar debaixo. E o Grêmio saiu da fila – leia-se fim da pressão – e vai para a Libertadores mais leve, em um grupo fácil na primeira fase. Na aparência, tudo muito rápido. Na prática, nem tanto. Há dois anos, o Grêmio fincou os pés no chão com Romildo Bolzan Jr. Cortou gastos. Profissionalizou o departamento de futebol. Matou no peito a cobrança da torcida por abrir o cofre e contratar a rodo. Pagou dívidas antigas tantas quanto foram possíveis, o que melhorou a imagem no mercado. Alongou contratos, mantendo jogadores-chave de um ano para outro. Apostou em um técnico emergente, talentoso e barato, Roger, que treinou o elenco ao ponto de seus alicerces permanecerem com Renato, outra escolha decisiva. Ele foi cirúrgico no mata-mata, tanto do ponto de vista tático quanto da injeção do chamado sangue no olho. A gangorra não se inverteria em favor do Grêmio sem Renato. O título da Copa do Brasil tem a sua assinatura: correções na bola aérea, Ramiro como meia-extrema pela direita e Douglas vindo aqui atrás comandar o jogo entre os volantes. Touché. E o Inter? O Inter fez o inverso. Vitorio Piffero passou dois anos com ares de monarca absolutista. Centralizou decisões. Trocou de técnico como quem escolhe bermuda no armário. Foram seis: Diego Aguirre, Odair Hellmann, Argel, Falcão, Celso Roth e Lisca. A gestão de futebol foi amadora, com reforços trazido na base da indicação do amigo. Alguns caros e fracos, como Ariel e Anselmo. Iludido pelo Gauchão e um começo falso de Brasileirão, ficou com Argel e seu estilo Balonismo FC tempo demais, destreinando o time ao ponto de se tornar vício. A Swat procurou a cura em Celso Roth, um remédio com prazo de validade vencido. O slogan arrogante, segundo o qual clube grande não cai, de mera frase virou crença. O epílogo da queda se deu com uma tentativa frustrada de ganhar pontos do Vitória no tapetão. O ano de 2016 termina com o Grêmio lá no alto, e o Inter lá embaixo. Mas a paixão do futebol se explica pela mistura única de ciência e imprevisibilidade. Assim, tudo pode mudar em 2017, e a gangorra do Lauro se mexer. Muito? Pouco? Nada? Até dezembro de 2017.
EPISÓDIOS MARCANTES A DESPEDIDA DO ÍDOLO Em fevereiro, D’Alessandro anuncia, entre lágrimas, sua saída do Inter para defender o River Plate. ASTRO ESTRANGEIRO Gremistas comemoram a contratação de Bolaños, em fevereiro. Em março, no primeiro Gre-Nal do ano, o equatoriano recebe cotovelada de William e fratura a mandíbula. ELIMINAÇÕES Em abril, com foco na Libertadores, Grêmio poupa titulares no primeiro jogo diante do Juventude e cai fora do Gauchão na semifinal. Em maio, é derrotado duas vezes pelo Rosario Central nas oitavas de final da Libertadores. HEXA Inter bate o Juventude no Gauchão. ARRANCADA No fim de maio, o Grêmio chega à liderança do Brasileirão. Em 16 de junho, o Inter ocupa o topo da tabela. TROCA DE COMANDO – PARTE 1 Em julho, após seis jogos sem vitória do Inter, Argel é demitido. Falcão é o substituto. TROCA DE COMANDO – PARTE 2 Em agosto, menos de um mês depois, Falcão é demitido. Celso Roth assume o comando. MUDANÇA NO GRÊMIO Roger não resiste a uma crise de resultados e pede demissão em setembro. Renato é contratado. TROCA DE COMANDO – PARTE 3 Em novembro, com o Inter no Z-4 a apenas três rodadas do fim do Brasileirão, Celso Roth é demitido e Lisca, contratado. ENFIM, CAMPEÃO Em dezembro, Grêmio vence a Copa do Brasil e encerra período de 15 anos sem títulos de expressão. Renato renova e vai treinar o time na Libertadores. SÉRIE B O empate com o Fluminense no RJ ratifica o primeiro rebaixamento do Inter. Antônio Carlos Zago é o novo técnico.