
Uma obra gratuita que ajuda a entender como integrar a inteligência artificial à sala de aula e potencializar práticas pedagógicas. Esse é o intuito do livro O Professor Ampliado: Reimaginando o Papel Docente na Era da IA (Cátedra Unesco, 434 páginas), de autoria de Renato de Oliveira Brito, Rafael Parente e Maria Cristina Mesquita. Lançada em outubro, a publicação traz reflexões sobre os desafios e oportunidades da docência em um contexto transformado pela inteligência artificial.
O livro explora o impacto da tecnologia e da inteligência artificial generativa na educação, abordando a redefinição das relações entre professores, alunos e conhecimento, bem como a ressignificação do papel do professor na era digital.
A obra explora como a inteligência artificial pode transformar – sem substituir – a prática pedagógica, sempre mediada por humanos e orientada pela ética. Os autores discutem desafios de infraestrutura e as limitações da IA, propondo uma visão de docência ampliada que integra tecnologia e sensibilidade humana. O material inclui caminhos práticos, exemplos e um glossário para orientar educadores na incorporação crítica da tecnologia, inclusive em realidades de baixa conectividade.
A obra é voltada a professores, gestores, profissionais da área de educação, pesquisadores e formuladores de políticas públicas. A publicação está disponível no site da Cátedra Unesco.
Nesta terça-feira (4), às 19h, ocorre uma sessão de autógrafos de Rafael Parente na Praça de Autógrafos Maurício Sirotsky Sobrinho.

Formação gratuita
O Instituto Salto e o Instituto Jama estão selecionando 10 municípios gaúchos com até 100 mil habitantes para o Programa Gestão Escolar Ampliada 2026. A iniciativa oferece formação gratuita a diretores e equipes, com aulas ministradas por Claudia Costin e Rafael Parente, sobre temas como gestão democrática, inovação pedagógica, inclusão, formação docente, bem-estar escolar e uso de IA na educação.
A ação contará com mentorias e planos personalizados. As inscrições podem ser feitas até 15 de novembro pelo e-mail contato@institutojama.org.br.
Colunista de Zero Hora, PhD em Educação pela NYU, diretor do Instituto Salto, pesquisador da rede Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e um dos autores do livro, Rafael Parente conversou com a reportagem de Zero Hora sobre as novas competências esperadas dos professores, as possibilidades da IA na sala de aula e os desafios para uma transformação digital na educação.
Confira a entrevista com Rafael Parente
Quais são as principais competências do professor ampliado?
O professor não pode se compreender só como aquele que detém e transfere conhecimento. Precisamos, de alguma forma, de uma figura que nos auxilie a criar as perguntas e a buscar respostas. A mediação das experiências educacionais é feita por esse professor, que precisa se entender como uma figura mais complexa – inspiradora, única, influente na vida das pessoas, porque conduz ao entendimento de si, do mundo, dos sonhos, das ambições, e também emocional.
O professor sai desse lugar e vai para um outro, onde ele é um arquiteto de experiências de aprendizagem, um mentor. Mas, no fundo, é aquela pessoa que media e consegue nos levar a criar as melhores perguntas. Porque, no final das contas, se estamos entrando em uma era em que a IA consegue responder todas as perguntas muito rapidamente, então, a diferença vai ser criar as melhores perguntas.
Quanto mais estivermos em um ambiente com mais máquinas convivendo entre nós, vamos buscar aquilo que nos faz mais humanos, inclusive na educação. É aquele aspecto mais subjetivo, o socioemocional, o olho no olho, aquela figura que, quando paramos para pensar sobre quais foram as pessoas que mais nos influenciaram durante as nossas vidas, muitas vezes, são os nossos pais, alguns familiares, mas também professores.
Quando pensamos nesse lugar desse novo professor, é esse que também tem uma competência que está muito relacionada à ética. Porque, cada vez mais, vamos viver em um mundo em que não sabemos muito bem o que é verdadeiro e o que não é. Então, essa figura que traz as reflexões éticas e que desenvolve os valores éticos dentro do grupo de estudantes também vai ser muito importante.
Como se tornar um professor ampliado?
Não é simplesmente uma questão da ação de novas tecnologias, mas é uma questão de amadurecimento de repertório e de reflexão sobre a sua missão. Enquanto educador, é claro que existe um aspecto que é como conseguir utilizar a IA da melhor forma, mais saudável, crítica, consciente, que não nos leve, como no caso de outras tecnologias, a problemas com saúde mental ou ao que muitas pessoas estão falando, que é uma tendência de terceirizar os aspectos cognitivos ou o próprio pensamento para as máquinas.
Mas que seja um processo de amadurecimento profissional com muita reflexão, apropriação tecnológica, mas também de repertórios, inclusive culturais, de valores éticos e de visões ampliadas. Precisa ser um profissional ampliado. Então, que ele consiga utilizar essas novas tecnologias para ter uma escuta melhorada, ter competências pedagógicas melhoradas, as suas inteligências emocionais e sociais, a forma como ele se relaciona com as outras pessoas, também melhorada.
Essa parte de se apropriar das tecnologias é uma parte importante, mas mais do que isso é a forma como eu me entendo como um profissional da educação.
Como a IA pode potencializar a prática pedagógica?
De diversas formas, mas eu diria que, talvez, a mais importante para os professores seria no sentido de levá-los a fazer aquilo que já fazem: uma correção, um planejamento de aula, uma comunicação com a família, com o estudante, potencializando esses processos. E não se trata só de automatizar. Em alguns casos, vai ser uma automatização, por exemplo, um diário de aula com dados específicos sobre os estudantes ou como fazer um planejamento mais rapidamente, pensando em aspectos específicos. Obviamente, depois o professor vai precisar fazer a revisão, mas uma parte, pelo menos, desse planejamento pode ser feita com IA.
Muito do tempo do professor hoje é dedicado à correção de tarefas e de provas, e uma boa parte, pelo menos, desse tempo dedicado à correção vai ser tomada pela IA. A IA vai ser como se fosse uma parte extra do professor, uma ferramenta extra para esse profissional, para que ele consiga fazer aquilo que já fazia, mais e melhor, mas, principalmente, para que ele dedique mais tempo àquilo que realmente importa, que é a relação um a um com seus estudantes.
Quais são os principais desafios dos professores na era da IA?
É sempre a formação. A forma como a formação não chega. É um desafio em todo o país essa questão de conseguir oferecer experiências formativas de qualidade e que, de fato, levem a uma transformação das práticas dos professores. Então, o desafio dos nossos professores está em realmente conseguir ter acesso a boas oportunidades de formação.
Como garantir essa transformação digital e potencialização do ensino em meio às desigualdades de infraestrutura, acesso e financeiras do Brasil?
Colocamos um capítulo inteiro do livro só para tratar das desigualdades. E o que dizemos é que o ideal é que trabalhemos sempre com políticas afirmativas. Quando estabelecemos políticas, ações, projetos, programas de estímulo, de incentivo, de investimentos novos em tecnologia, que sempre comecemos por aqueles que mais precisam e não por aqueles que já têm algum tipo de tecnologia ou de apoio. Não reforcemos aqueles que já têm muito.



