
Depois dos cursos tecnólogos e de pós-graduação, a inteligência artificial (IA) vem avançando mais no Ensino Superior. Agora, instituições gaúchas contam com bacharelados focados em IA, atendendo a uma demanda crescente do mercado de trabalho.
A procura por profissionais da área deve aumentar em 150% no Brasil até o final de 2025, conforme levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes). Outra pesquisa, divulgada pela plataforma Statista, plataforma alemã focada em estatísticas, revela que o mercado global de IA deve alcançar valor de US$ 244 bilhões ainda neste ano.
A expansão passa por diversas áreas, inclusive pelas universidades, que passam a ofertar cursos aprofundados e com maior duração. É o caso da Universidade La Salle (Unilasalle), que lança, neste mês de junho, bacharelado de quatro anos focado em IA.
A instituição de ensino já conta com um núcleo de IA, cuja equipe atua construindo soluções envolvendo essas novas tecnologias.
Agora, para além dos projetos do núcleo e dos cursos de computação e Tecnologia da Informação (TI), a graduação presencial em IA busca complementar a formação dos alunos, desenvolvendo profissionais capazes de analisar e desenvolver soluções inovadoras em IA, bem como liderar projetos com consciência ética e impacto positivo na sociedade.
— Existem diversos cursos de ciência de dados e IA. No bacharelado, juntamos tudo isso e acrescentamos a computação. Não queremos que os estudantes simplesmente aprendam a usar a IA, mas sim que aprendam a construir sistemas usando IA — afirma o professor Mozart Siqueira, responsável pela coordenação do novo curso da Unilasalle.
Além da computação
Uma vez que são muito recentes, os cursos envolvendo IA ainda não contam com referenciais nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ministério da Educação (MEC). Para construir os currículos, as instituições de ensino se baseiam em orientações da Sociedade Brasileira de Computação (SBC).
Em geral, essas graduações são semelhantes aos cursos de Ciência da Computação, que já possuem disciplinas voltadas à IA e seus mecanismos. No entanto, são mais completos e direcionados para quem busca atuar nessa área, unindo computação, ciência de dados e conhecimentos ligados à IA.
Fundamentos da computação, deep learning, processamento de linguagens neurais, aprendizagem de máquina, algoritmo, engenharia de software, estatística e matemática estão entre os temas abordados nos currículos. Essas também são as áreas dos docentes.
— O aluno aprende a conceber soluções desde captação de dados, até a entrega de um modelo envolvendo tomada de decisões. Isso envolve diversos tipos de aprendizado, como machine learning, visualização de dados, criação de dashboards, sistemas de recomendação. E também a parte humana, de gerência de projetos — explica o coordenador do curso de Ciência de Dados e IA da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Daniel Antonio Callegari.
A instituição é pioneira no Estado, com o primeiro bacharelado dedicado à IA. Lançado em 2021, o curso teve a primeira turma formada em 2024. Hoje, conta com mais de 170 alunos. De acordo com o professor, os egressos atuam nas mais diversas áreas, muito além da programação:
— O curso tem atraído diferentes perfis, inclusive alunos buscando uma segunda graduação, de diferentes segmentos da indústria. Temos médicos, profissionais de finanças, marketing digital, do agronegócio.
Em sala de aula, a ideia é que os estudantes não apenas utilizem tecnologias criadas por outras pessoas, mas aprendam a conceber soluções completas, incluindo limpeza, armazenamento e processamento de dados, até a distribuição de modelos que façam a diferença em âmbito acadêmico e na sociedade.
UFSM lança curso de IA
As instituições públicas também estão aderindo ao modelo. Desde o início do ano, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) conta com um curso de Ciência de Dados e Inteligência Artificial, ofertado no campus de Cachoeira do Sul. Segundo o responsável pelo bacharelado, professor Adriano Quilião de Oliveira, a graduação tem alta demanda.
Quando abriu o processo seletivo, foi registrada procura de cinco alunos por vaga. Atualmente, são ofertadas 40 vagas por ano, com ingresso anual. Para o professor, o grande diferencial do curso de IA é a possibilidade de lidar com desafios reais e desenvolver soluções inovadoras.
— Somos muito fortes em projetos de pesquisa, seja em parceria com empresas, seja com focos específicos. Já temos um núcleo de ciência de dados, coordenado por mim. Devemos ter ao menos sete alunos nessa equipe, trabalhando com problemas reais de pesquisa em diferentes áreas — afirma.
Ele destaca que os egressos terão competências para atuarem como programadores, mas não só isso: o curso garante habilidades para trabalhar com redes neurais, permitindo projetar, treinar, implementar e colocar em prática sistemas de redes neurais artificiais.