
A decisão do governo norte-americano de proibir alunos estrangeiros na Universidade de Harvard vem gerando apreensão por parte dos estudantes. Nesta quinta-feira (22), o governo anunciou a revogação da certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio para Harvard.
A Justiça dos Estados Unidos (EUA) revogou a decisão nesta sexta-feira (23). No entanto, o governo Trump vem impondo restrições às universidades há meses, com cortes orçamentários e decisões arbitrárias. Com isso, o cenário segue incerto para alunos de fora dos EUA.
— Muita gente está sem saber o que fazer. Eu tinha planos de voltar para o Brasil agora nas férias, visitar minha família, talvez passar um tempo trabalhando na Europa. Mas agora não tem como, não quero comprometer meu diploma. Decidi ficar no país até que essa situação se resolva — conta um estudante gaúcho que faz mestrado em Harvard e preferiu não se identificar.
O aluno de 29 anos é de Porto Alegre e ingressou na pós-graduação em setembro de 2024. Ele tem outro ano de curso pela frente, mas não sabe se será possível permanecer matriculado no próximo semestre. A decisão do governo Trump, caso seja mantida, dificulta a permanência de estudantes estrangeiros no país como um todo.
O Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio permite que as universidades emitam documentos para que estrangeiros solicitem vistos de estudo. Sem a possibilidade de renovar o chamado formulário I-20, que funciona como um certificado de elegibilidade para o visto de estudante, o “status legal” de alunos já matriculados fica comprometido.
Todo mundo está assustado, por mais que não esteja fazendo nada de errado. Minha sensação, como estudante internacional, é de que nosso direito de livre expressão ficou contido.
ESTUDANTE DE MESTRADO EM HARVARD
Por isso, mesmo que os alunos de Harvard consigam transferência para outras instituições, a situação é delicada, de acordo com o estudante ouvido pela reportagem. O pesquisador conta que pretendia permanecer nos EUA por mais tempo, para trabalhar, mas terá de rever os planos. Atualmente, ele mora em Cambridge.
— É um desgaste desnecessário, uma perda de tempo. Todo mundo está aqui para estudar, para pegar seu diploma. E o visto nos permite ficar trabalhando até três anos no país, depois de formados, para justamente contribuir com a economia do país. Não é pegar o diploma e depois ir embora. Essa perseguição toda não é saudável para o próprio país — relata.
Escalada de tensão
Ele conta que Harvard tem uma ampla comunidade de estrangeiros na pós-graduação, mas que, em geral, boa parte dos colegas não se sente à vontade para expressar opiniões abertamente, por medo de retaliação.
— Todo mundo está assustado, por mais que não esteja fazendo nada de errado. Minha sensação, como estudante internacional, é de que nosso direito de livre expressão ficou contido. Prefiro não me expressar sobre as coisas, tenho receio de ser mal interpretado e acontecer alguma coisa — afirma o gaúcho.
Ele diz que boa parte dos brasileiros com quem convive sentem que não são mais bem-quistos no país. Harvard emitiu um comunicado aos estudantes nesta sexta-feira (23), ressaltando que os estrangeiros são "membros vitais" da comunidade acadêmica (em tradução livre). A universidade processou o governo Trump após a decisão contra alunos estrangeiros.
"São os nossos colegas e amigos, nossos mentores, nossos parceiros no trabalho desta grande instituição. Graças a vocês, sabemos mais e compreendemos melhor, e o nosso país e o nosso mundo são mais esclarecidos e mais resistentes. Vamos apoiá-los enquanto fazemos o nosso melhor para garantir que Harvard continue aberta ao mundo", diz o comunicado assinado pelo presidente da instituição, Alan Garber.