
O Colégio Marista Champagnat, em Porto Alegre, iniciou neste ano uma transformação na forma como lida com resíduos. Em parceria com a startup Green Thinking, a escola implantou o programa Rumo ao Lixo Zero, que pretende reduzir ao mínimo o volume de rejeitos encaminhados a aterros e formar uma comunidade consciente sobre o impacto do consumo.
A iniciativa será apresentada na 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática (COP30), em Belém. O Champagnat é uma das primeiras escolas Lixo Zero do Estado, aponta Lucas Fontes, fundador da Green Thinking. Ele explica que Lixo Zero é uma metodologia que propõe repensar hábitos e responsabilidades em relação ao descarte:
— O conceito Lixo Zero é uma metodologia que a gente usa para repensar o nosso consumo e para onde vai o material que a gente não vê mais valor. Uma organização, se é Lixo Zero, assume um compromisso sobre os resíduos que está gerando.
Compromisso coletivo
Conforme a diretora Shirley Cardoso, a ideia surgiu de uma inquietação pessoal e da demanda da comunidade escolar por ações concretas de sustentabilidade.
— Esse já era um tema que me inquietava bastante como gestora. Eu achava que estava devendo esse compromisso para a sociedade, porque a nossa comunidade é muito engajada e me incitava a pensar projetos mais possíveis — afirma.
O projeto teve início com uma carta de intenção assinada por toda a comunidade escolar – estudantes, educadores e funcionários – formalizando o compromisso com a redução de resíduos.
— Fizemos uma cerimônia no pátio com os 1,5 mil estudantes. Os líderes do Grêmio Estudantil assinaram a carta em nome de todos, assumindo o compromisso de transformação social. A grande transformação vem do coletivo — defende Shirley.
Entre as medidas implementadas estão:
- a redução do número de lixeiras somada a uma reorganização das remanescentes
- criação de composteiras, inclusive dentro de salas de aula, e a instalação da Estação Lixo Zero
- espaço para o recebimento de 10 tipos de resíduos, como eletrônicos, óleo de cozinha, embalagens de remédio e material didático
— O ato simbólico de reduzir as lixeiras convida a produzir menos resíduo. Cada departamento agora tem um único lugar para o lixo orgânico. Também fizemos composteiras, algumas compradas e outras artesanais, e usamos as folhas das árvores do pátio na compostagem — relata a diretora.

De acordo com Lucas, a parceria busca garantir o destino correto dos resíduos:
— O material didático vai para uma cooperativa no bairro Bom Jesus, os blisters (embalagens) de remédio vão para uma ONG em Canoas, o óleo de cozinha e os eletrônicos também têm destino certo. A gente foi conectando as pontas, sem terceirizar o problema.
Além da coleta seletiva em três frações – recicláveis, compostáveis e rejeito –, os 260 colaboradores que trabalham na instituição de ensino receberam ecocopos para substituir os copos plásticos, e a festa junina da escola, que reuniu cerca de 6 mil pessoas, foi realizada sem o uso de descartáveis.
— Parece uma ação pequena, mas não é. Seis mil pessoas foram impactadas pela ideia de que a gente não está produzindo plástico. Aqui, se tu comprou um refri, era no copo retornável. Se não trouxer a caneca, fica sem cafezinho. É assim que a gente muda comportamentos — diz Shirley.
O programa foi incorporado à rotina pedagógica e às atividades de iniciação científica. Cada faixa etária trabalha a sustentabilidade em diferentes formatos – hortas, oficinas, projetos científicos e gincanas.
— A gente está implementando no currículo. Cada nível de ensino tem um plano de ação. E eu, enquanto instituição, tenho o meu, que é reduzir as lixeiras — resume a diretora.
Para Manuella Bortoli de Oliveira, 16 anos, aluna da 1ª série do Ensino Médio, o projeto amplia o alcance do aprendizado.
— Eu vejo isso muito agora no dia a dia: a horta da Educação Infantil, as miniempresas sustentáveis no Ensino Médio, os desfiles com roupas sustentáveis. São várias ações que mostram que a escola está vivendo essa pauta — afirma.
Protagonismo estudantil
A adolescente e seu colega Eduardo Rodrigues dos Santos, 15 anos, aluno do 9º ano do Ensino Fundamental, foram convidados a representar o Champagnat na COP30. Manuella recebeu o convite após se destacar na área da sustentabilidade com um projeto de iniciação científica realizado em grupo, que procurou investigar como a educação ambiental é tratada nas escolas públicas. A pesquisa apontou a falta de tempo e de capacitação docente como entraves.
— Um professor que não tem domínio sobre o assunto nunca vai conseguir engajar o aluno na causa. A educação ambiental ainda é muito pontual e precisa ser vivida no cotidiano — avalia a jovem.
O Champagnat será uma das 96 unidades maristas brasileiras representadas na COP30, dentro do Observatório Marista do Clima, iniciativa da rede voltada à discussão dos impactos das mudanças climáticas. Cada colégio enviará um professor e dois estudantes.

— Eu espero que a gente consiga disseminar o que fazemos aqui e também aprender com outras escolas. A ideia é que o que cada um faz localmente possa ser compartilhado — projeta Eduardo.
A viagem para Belém, segundo a diretora, contará com cinco dias de debates e trocas de experiências:
— Eles vão viver a COP30 na cidade e participar das discussões. A gente acredita que isso vai ser muito impactante para a vida dos jovens.
Mudança cultural
O projeto já mostra resultados dentro e fora da escola. A diretora relata que muitas famílias passaram a adotar composteiras domésticas e a reduzir o uso de embalagens plásticas.
— Os pais se sentiram representados. Muitas famílias estão diminuindo o plástico, comprando a granel e levando potes de vidro. Hoje a gente vê isso refletido nas salas de aula — diz.
Para Lucas, o mais importante é a mudança de cultura que acompanha a redução dos resíduos:
— O Lixo Zero é um processo. Mais do que eliminar o lixo, é mudar o olhar sobre o que consumimos e geramos. É uma jornada que envolve repensar hábitos e responsabilidades.
Com as ações implementadas, o colégio busca agora a certificação Lixo Zero, concedida a organizações que desviam ao menos 90% de seus resíduos do aterro sanitário.
— O certificado é só uma materialização. O que importa é o processo e o compromisso assumido. O nome do nosso programa é justamente isso: Rumo ao Lixo Zero — reforça Lucas.




