Uma explosão de criatividade e de conhecimentos interconectados é percebida em competições de robótica de estudantes de escolas. Nesta sexta-feira (22), quando começou etapa estadual da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR) no Campus Porto Alegre do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), não foi diferente. O evento segue até este sábado (23).
Com carrinhos executando missões de resgate, robôs dançando e encenando, crianças e adolescentes de instituições públicas e privadas aprendem elementos de artes, ciências, física, química, matemática, programação, história, geografia e outras áreas ao planejar e montar os seus projetos.
O primeiro dia do evento foi prejudicado pela forte chuva, que impediu a vinda de parte das 160 equipes e cerca de mil competidores inscritos. Mesmo assim, grupos vindos de várias regiões do RS compareceram. Um deles foi o Instituto de Educação São José, de Montenegro, que levou 17 pessoas para participarem da olimpíada pelo projeto Legonautas. Três equipes se inscreveram na categoria Resgate e uma na Artística.
— É a primeira vez que vamos participar da Artística. Vamos trazer a história da Alice no País da Tradição e da Tecnologia. Os alunos construíram um robô que vai representar a tecnologia e, para representar a tradição, tem uma coelha que acompanha a Alice e vai mostrando que a tradição e a tecnologia têm que estar interligadas — descreve Andréia Nascimento, uma das professoras responsáveis.
Além de absorverem conhecimentos das matérias que aprendem no colégio, nas equipes de robótica os alunos desenvolvem autonomia, pois são os principais responsáveis pela elaboração dos projetos, a trabalharem em equipe e a lidarem com a frustração de quando nem tudo dá certo.
— A gente já trabalha desde a escola para eles virem para as competições entendendo que o mais importante é o que se aprende, e não o que se ganha — destaca Letícia Biliar, também docente da escola de Montenegro.
Modalidades
Na modalidade Resgate, estudantes precisam montar e conduzir um carrinho por um trajeto definido e têm a missão de resgatar bolinhas de cores distintas, que simbolizam vítimas vivas ou mortas. Essas “pessoas” devem ser levadas a pontos específicos do circuito. A equipe que completar a atividade com mais precisão vence.
Já na modalidade Artística, os alunos informam aos jurados o que farão com o robô durante a apresentação e ganham pontos de acordo com o quanto cumprirem do que estava previsto. Em paralelo à olimpíada, ocorre a Mostra Nacional de Robótica, na qual os jovens apresentaram como desenvolveram seus projetos.
Os estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pepita de Leão, de Porto Alegre, se inscreveram para participar de ambas as modalidades. Antes das competições, os adolescentes estavam empolgados, falavam da "grande aventura" e da “correria boa, divertida e em que se aprende coisas”. Na modalidade Artística, o grupo faria um desfile de carnaval robótico.
Quando se conhece a professora Luciana Tadewald, responsável pelo projeto na escola, é possível compreender a empolgação, que também vem dela própria. Atuando desde 2007 em projetos de robótica, a docente passou a dar aula no Pepita de Leão em 2023 e, logo, fez questão de inscrever a instituição em dois editais para a aquisição de kits de robótica.
A escola foi contemplada e o projeto foi iniciado. Deu certo: as atividades do grupo ocorrem duas vezes por semana e a equipe já teve bons desempenhos em competições como a OBR e o campeonato First Lego League.
— Eles vêm porque eles querem vir, porque o projeto acontece no contraturno escolar. São adolescentes que poderiam estar na rua ou em casa, no celular, no videogame, e estão ali de tarde, trabalhando no projeto. Eles precisam pesquisar o tema, planejar a apresentação, montar os robôs, fazer cenário. São muitas habilidades interdisciplinares — pontua Luciana.
Os Lobóticos, equipe de robótica da Escola Municipal de Ensino Fundamental Heitor Villa-Lobos, de Porto Alegre, inscreveram na categoria Artística o projeto Dança dos Orixás.
O grupo pesquisou e viu que existe a Lei 10.639 – sobre escolas públicas e privadas deverem ensinar sobre a cultura afro-brasileira. A música é utilizada ao fundo da apresentação. A ideia, na dança, é combater o racismo e o preconceito com religiões de matriz africana. O grupo criou um robô e um movimento dentro da robótica.
Presença de meninas
Uma alegria da organização do evento é a presença de muitas meninas na OBR.
— Um monte de meninas. A gente vê a lista de participantes e fica feliz, porque a presença de meninas na robótica significa que, provavelmente, vão para a área da computação, para a área da tecnologia da informação, e isso é muito legal — expressa Fabiana Lorenzi, professora de Inteligência Artificial na Atitus Educação e articuladora nacional da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa.
Todos os organizadores atuam de maneira voluntária. Segundo André Peres, um dos coordenadores e professor no Campus Porto Alegre do IFRS, o reconhecimento pelo empenho vem do esforço das escolas para conseguir os kits de robótica e participar dos eventos.
— Tivemos um aumento de 30% nas inscrições desde o ano passado e é muito gratificante. É uma comunidade que vibra, porque, apesar de ter esse caráter de competição, a ideia é que a gurizada mostre os robôs que desenvolveram ao longo do ano, para um aprender com o outro — comenta.
A professora Cristiane Cabral é a grande mentora na Villa-Lobos do projeto de robótica, atividade à qual se dedica há 20 anos, e também faz parte da organização da OBR. A docente celebra o crescimento da modalidade Artística, que, de 2024 para 2025, mais do que dobrou o número de inscritos na etapa estadual.
— Essa modalidade já existia há mais tempo no Brasil, mas fazia parte de uma competição específica que era a paga. Na medida em que veio para a OBR, que é pública e gratuita, se expandiu. Essa foi uma bandeira e uma luta minhas, porque eu vejo muita fertilidade nesse trabalho: é uma modalidade que traz quem, de repente, gosta de dança, mas acaba se interessando por tecnologia, e vice-versa — salienta Cristiane.
Os vencedores de cada categoria da etapa estadual se classificarão para a etapa nacional, que acontece em outubro do Espírito Santo. Quem ganhar na etapa nacional participará da RoboCup 2026, um campeonato mundial que, no ano que vem, será realizado na Coreia do Sul.



