
A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Saint-Hilaire fica no limite entre Porto Alegre e Viamão, ao lado de um parque que é, também, uma grande unidade de conservação. Apesar da proximidade, a criminalidade e as queimadas ilegais fizeram com que, nos últimos anos, a comunidade deixasse de frequentar o local — muitos alunos da instituição nunca tinham sequer posto os pés lá. Mas uma iniciativa desenvolvida por alunas tem mudado essa realidade.
O projeto “Colocar o coração no ritmo da terra”, realizado no ano passado por estudantes de diferentes séries dos ensinos Fundamental e Médio da escola, partiu da surpresa das meninas quando souberam que antigamente era comum para os moradores utilizarem o Parque Saint-Hilaire e seus 130 hectares de extensão como um espaço de lazer. Souberam ainda que, até 10 anos atrás, era possível ver, da escola, um campo de butiazal localizado na unidade de conservação. Hoje, as garotas sentem o cheiro da fumaça entrando pelas janelas da sala de aula.
As alunas, então, decidiram fazer o que chamam de “reflorestamento” das mentes das crianças “para elas se tornarem cidadãs que amem o planeta e conectem seus corações com a natureza”. Por meio do Coletivo Luisa Marques, organizado pelos próprios estudantes e que atua na mediação de leituras, além do acompanhamento da professora Maria Gabriela Pires de Souza, o grupo leu obras de literatura negra e indígena que inspiraram três performances teatrais apresentadas na escola e em outros locais:
- Sou Filha da Selva - História de mulheres indígenas e da sua infância na natureza
- Conversa Ancestral – Um diálogo de falas entre Ailton Krenak, Bell Hooks e Negô Bispo
- Será que a Terra Sente? – Trilha que mostrava os animais e a causa da sua extinção
— Nós achamos muito importante apresentar nosso projeto em outros espaços e territórios para chamar a atenção sobre as queimadas no parque Saint-Hilaire. Nossas denúncias levaram à criação de uma audiência pública para tratar da proteção do Parque Saint-Hilaire — relata a professora Maria Gabriela.
Um perfil no Instagram criado por elas passou a denunciar as queimadas no Parque Saint-Hilaire. Além disso, o grupo criou uma trilha dentro do parque que, agora, permite que as turmas da escola visitem o espaço.
O projeto ainda envolveu a montagem de caixas pedagógicas com livros que foram entregues para as professoras da instituição abrirem com as turmas dos Anos Iniciais (1º ao 5º do Fundamental). Também foi organizada uma feira literária com essa temática.
Participação na COP30
A presença de alunas que participaram do projeto na Conferência da ONU Sobre Mudanças Climáticas (COP30) faz parte da recompensa pelo grupo ter vencido o Prêmio Criativos Escola + Natureza, uma iniciativa do programa Criativos da Escola, do Instituto Alana, com apoio da União dos Direitos Municipais de Educação (Undime) e do Greenpeace Brasil.
Esta edição recebeu 1.593 inscrições, engajando mais de 60 mil estudantes e 5,3 mil educadores de 738 municípios brasileiros. Foram escolhidos seis ganhadores, cada um representando um dos biomas brasileiros.
Para a COP30, que ocorrerá em novembro em Belém, no Pará, irão três adolescentes e um adulto responsável.
— As estudantes estão empolgadas com a participação na COP, para compartilhar o projeto. Acredito que essa oportunidade de dar voz para os estudantes é um movimento importante para que a gente possa pensar num futuro em que tenhamos cidadãos e cidadãs que amem o planeta — destaca Maria Gabriela.
Além da participação no evento, o projeto recebeu como premiação R$ 12 mil, sendo R$ 10 mil para a continuidade das atividades do grupo e R$ 2 mil destinados à professora responsável.
A iniciativa também é finalista no 3ª Restaura Natureza, a Olimpíada Brasileira de Restauração de Ecossistemas da ONG WWF-Brasil, que entra agora na fase de votação popular. Até o dia 30 de junho, o público poderá conhecer o trabalho dos grupos finalistas da olimpíada escolar e votar em duas ações por este link.