
O decreto de falência de uma tradicional indústria de erva-mate no Rio Grande do Sul surpreendeu os gaúchos que cultivam o hábito do tradicional chimarrão. Mas não foi novidade no setor ervateiro gaúcho, que vem lidando com a redução no consumo nos últimos anos.
Fundada em 1944, a Vier Indústria e Comércio do Mate tinha sede em Santa Rosa, no Noroeste. Um pedido de recuperação judicial foi iniciado em 2021, culminando em uma dívida atual de R$ 49,743 milhões. Falta de matéria-prima, custos de produção e saúde dos sócios foram citados entre os motivos para a autofalência.
Presidente do Sindicato da Indústria do Mate no Rio Grande do Sul, o Sindimate, Álvaro Pompermayer refere-se ao ramo como um setor em crise. O momento, diz, é reflexo do pós-pandemia, quando o consumo foi afetado pelas restrições de compartilhamento, algo muito associado à tradição do chimarrão.
— O consumo caiu de forma considerável. Era de 11 quilos ao ano per capita e passou para nove. São vários os fatores, mas um deles é a restrição de compartilhamento da bebida. Fora as mudanças de consumo em si, mesmo sendo um produto barato. O quilo de erva-mate rende muito mais do que o litro do refrigerante — diz Pompermayer.
Adaptação de mercado
A oferta maior do que a procura, inevitavelmente, reflete na indústria. Mas apesar do momento de baixa, há oportunidades de mercado para o setor. E elas vêm do mercado externo.
Conforme o presidente do Sindimate, o consumo da planta está em expansão em países como Síria, Líbia e Paquistão, que são grandes consumidores de erva-mate. O consumo nesses locais é algo em torno de 40 mil toneladas ao ano, basicamente o consumo do Uruguai, que também compra a planta do brasil.
— O momento é de dificuldade, mas eu aposto mais na recuperação da erva-mate pela visão do consumidor. O tererê está em alta, por exemplo, com muitos países buscando a nossa erva mate — diz Pompermayer, citando ainda o interesse de grandes indústrias, como a Coca-Cola, que busca matéria-prima nos ervais gaúchos para fabricação de chá mate ou mesmo chá desitratado em pacote.
A produção no RS
Árvore símbolo do Rio Grande do Sul, a erva-mate está presente em várias regiões do Estado. A produção da planta, de nome científico Ilex paraguariensis, está associada à altitude. Por isso, não é uma planta do bioma Pampa, e sim da Mata Atlântica.
O cultivo no Estado está concentrado no Alto Taquari, nas cidades de Ilópolis, Arvorezinha e Anta Gorda, mas também em áreas ao norte, em Palmeira das Missões, Áurea, Viadutos e Barão de Cotegipe. A área total cultivada no RS é de 34 mil hectares.
Conforme a Radiografia Agropecuária Gaúcha, a produção de erva-mate está presente em 173 municípios. São 170 estabelecimentos beneficiadores da planta em operação. Já segundo o Sindimate, são 240 indústrias que processam a planta no Estado. A produção de erva seca chega a 120 mil toneladas ao ano.
— Costumo dizer que, para o produtor, é o único produto agrícola que ele pode colher nos 12 meses do ano, e por isso pode escolher as melhores janelas de preço — diz Pompermayer.
À frente do Rio Grande do Sul, o Paraná lidera a produção nacional da planta. Depois do RS, vêm Santa Catarina e Mato Grosso, este último com produção bem menor.
Municípios maiores produtores:
- Ilópolis
- Arvorezinha
- Anta Gorda
- Palmeira das Missões
- Fontoura Xavier
- Putinga
- Itapuca
- Áurea
- Viadutos
- Barão de Cotegipe



