
Após uma reta final de 2024 marcada por altas recordes em meio à insatisfação do mercado com a política fiscal do governo, o dólar acumula queda de quase 13% no Brasil neste ano. Mesmo com oscilações ao longo do ano na esteira de ruídos internos e externos, a cotação da moeda americana apresenta descompressão no país em 2025.
- Perda de força do dólar ao redor do mundo diante da política externa dos Estados Unidos e efeito de base de comparação ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.
- Nos investimentos, o real mais valorizado tem efeitos diversos sobre cada tipo de ativo.
Na sexta-feira (31), último dia útil de outubro, o dólar comercial fechou o dia em R$ 5,380. O montante é bem abaixo dos R$ 6,180 registrados no último dia útil de 2024. Ou seja, o valor do dólar caiu 12,94% nesse intervalo de 10 meses.
Rodolpho Sartori, economista da Austin Rating, afirma que um dos fatores que explicam a valorização do real frente ao dólar neste ano é a política externa de Donald Trump durante o segundo mandato, com ações como o tarifaço contra parceiros comerciais:
— Essa política econômica errática, onde ele avança para um lado, recua, avança para um lado, recua, que vem ocorrendo desde que ele foi eleito, praticamente, tem gerado incerteza nos mercados. E tem outros mercados que têm oferecido bons retornos, e o Brasil é um deles, que oferece 15% de juros praticamente ao ano. Então, essa incerteza muito grande gerada pelos Estados Unidos aparece como fator principal.
O economista da Austin Rating reforça que esse fenômeno não é exclusivo do Brasil. Ele lembra que o dólar se desvalorizou ao redor do globo como um todo.
Além dessa perda de força da moeda americana contra outras divisas, Sartori afirma que o efeito de base de comparação também pesa na queda de 13% no câmbio neste ano no Brasil. Como o dólar valorizou muito no fim do ano passado diante da insatisfação de alguns setores em relação ao pacote de corte de gastos do governo federal, o câmbio teve grande espaço para descompressão neste ano.
Efeito na economia
Sartori lembra que dólar mais baixo afeta as importações e tende a diminuir a inflação. Como exemplo, cita a queda recente nos preços dos alimentos, que também foi impulsionada pela safra positiva no Brasil neste ano.
— A valorização da moeda faz com que a inflação desacelere ou diminua — pontua.
Já no âmbito da atividade econômica e das empresas, o economista afirma que o quadro é mais complexo, porque o juro ainda em patamar elevado freia o avanço e os investimentos nesse sentido diante de custos mais elevados.
Impacto em investimentos
Mudanças no câmbio também costumam afetar os investimentos no país. Fernando Siqueira, estrategista-chefe da Eleven, empresa de investimentos financeiros, afirma que, na renda variável, que pega ativos em bolsa, os efeitos são, principalmente, dois:
- quem investe em empresas com foco em exportação, pode ter retorno menor, uma vez que esses negócios tendem a sofrer mais com dólar menos valorizado;
- quem opera com papéis de companhias com foco no mercado interno costuma levar vantagem, porque o real fortalecido melhora o desempenho desses negócios e, consequentemente, o retorno.
— Pelo lado exportador, temos exemplos principalmente do ramo de papel e celulose, que tiveram um desempenho bem ruim. Do outro lado, as empresas que pagam dividendos elevados, em geral, vão bem. Empresas de varejo também tendem a ir melhor e empresas de concessões, como no setor elétrico, e telecom, também são outros exemplos — detalha Siqueira, sobre o desempenho das ações das companhias.
Outros investimentos
- Investimentos no Exterior também costumam ficar menos atrativos com real ganhando corpo frente ao dólar, segundo Siqueira.
- Na parte dos investimentos em renda fixa, ativos pré-fixados estão tendo um bom desempenho neste ano, um pouco por conta disso, segundo o especialista. Isso ocorre porque o real valorizado favorece a queda da inflação.
- Com isso, o mercado já está antecipando que o Banco Central cortará o juro no começo do ano que vem, de acordo com a análise de Siqueira.
Próximas semanas
O economista da Austin Rating afirma que não espera grandes variações ainda para este ano no âmbito do câmbio. A projeção da Austin está apontando para dólar em R$ 5,40 em dezembro. No entanto, destaca pontos que podem motivar alterações:
— É natural alguma desvalorização por conta do rali de ativos, e envio de dinheiro para fora. Agora o que pode influenciar: um acordo benéfico ao Brasil com os EUA, e o fim destas disputas de teor político. Outro ponto é o fiscal. Uma sinalização de um ajuste crível tende a ser benéfico para o real. Ano que vem é ano de eleição, então os agentes estarão atentos a isso. Não alterar e cumprir a meta fiscal é essencial.



