
Como ocorre a cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) está reunido para anunciar o valor da Selic, a taxa básica de juro no Brasil. A reunião teve início na terça-feira (4) e segue até esta quarta (5), quando ocorre o anúncio.
A expectativa geral do mercado e dos analistas é que a Selic seja mantida em seu patamar atual, de 15%. A taxa foi elevada a este estágio em junho, tendo sido mantida neste valor também nas reuniões de julho e setembro.
— Existe pouca dúvida. É praticamente unânime a ideia de que o Copom vai manter a Selic em 15%, no patamar atual. Dessa forma, as expectativas se voltam para o comunicado a ser emitido após o anúncio e as tendências que o Copom poderá sinalizar — afirma o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
O que disse o último comunicado
Para embasar a decisão de setembro, o Copom citou que o ambiente externo se mantinha incerto "em função da conjuntura e da política econômica dos Estados Unidos". A situação exigia "cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica".
No cenário doméstico, o comitê destacou que "o conjunto de indicadores de atividade econômica segue apresentando certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo". O documento apontou ainda que "a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação".
No mesmo comunicado, o Copom sinalizou que a taxa de juro seria mantida neste patamar "por período prolongado". O objetivo do comitê, ao manter a Selic neste nível, é assegurar a convergência da inflação, que vem em queda, à meta.
— A taxa atual da Selic nos sinaliza um compromisso do Banco Central em atingir o menor nível de inflação ainda em 2025, chegando o mais próximo possível do teto da meta, de 4,5%. A taxa é a ferramenta que o Copom utiliza para conseguir se aproximar deste objetivo, enquanto o comunicado após a reunião poderá indicar quais serão as futuras decisões e quando poderemos vislumbrar uma redução da Selic — destaca Thiago Testoni, gerente de negócios do Sistema Ailos.
A esperada queda da Selic
O atual ciclo de alta da Selic teve início em setembro de 2024, quando a taxa foi elevada de 10,50% a 10,75%. A elevação seguiu até junho deste ano, quando a taxa chegou a 15%, o maior patamar desde julho de 2006.
— O mercado já pacificou a manutenção da taxa. Então, o que realmente vai importar é o tom do comunicado. Os investidores vão buscar nas entrelinhas qualquer sinal sobre quando o ciclo de cortes pode começar, e o texto da ata será determinante para entender o que o Banco Central enxerga para os próximos meses, se haverá espaço para uma mudança de direção na política monetária ou não — aponta Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos.
Nesta quarta, o ministro da Fazenda defendeu a redução da Selic. Para Fernando Haddad, há uma pressão dos bancos para que o BC não baixe o juro.
— Não tem como sustentar 10% de taxa de juro real. Com inflação a partir de 4,5%, você vai sustentar um juro a 15%? — questionou Haddad em evento realizado em São Paulo.

Olho em 2026
Após a reunião desta semana, o Copom ainda volta a se reunir neste ano, em dezembro. Contudo, apesar de um ambiente que se mostra cada vez mais favorável para o início do ciclo de cortes da Selic, a diminuição da taxa deve ocorrer somente a partir do primeiro trimestre de 2026.
— Hoje, as principais projeções apontam que o início dos cortes deve acontecer entre fevereiro e abril de 2026, com uma taxa de juro encerrando o próximo ano entre 12% e 13% ao ano. Ou seja, não seria uma queda brusca, mas um processo gradual, de normalização, conforme o cenário permitir — acrescenta Paulo Cunha.
Publicado nesta última segunda-feira (3), o mais recente Boletim Focus, compilado semanal das expectativas do mercado sobre alguns indicadores da economia nacional, projeta que a Selic vá encerrar 2026 em 12,25%. Contudo, o cenário incerto para 2026, que terá eleições presidenciais no Brasil, reforça a cautela do Copom acerca da Selic.
— Os 15% atuais representam um patamar extremamente restritivo, algo que há pouco tempo poucos imaginavam que veríamos novamente. Mas o contexto fiscal mais delicado, a alta do dólar e uma inflação que voltou a incomodar explicam as razões de o Banco Central manter essa postura conservadora. Além disso, 2026 é ano de eleição, e o risco de medidas populistas ou aumento de gastos públicos eleva o chamado "prêmio de risco", o que impede uma redução antecipada da Selic. Lá na frente, quando o debate sobre reformas e controle de despesas avançar, o espaço para cortes poderá ser maior — afirma o CEO da iHUB Investimentos.




