
O produto gaúcho "tipo exportação" tem lugar de referência no comércio global, mas a consolidação de novos mercados ainda é caminho a desbravar. As oportunidades — e as dificuldades — da indústria que exporta foram tema de painel nesta quarta-feira (15) no tradicional Tá na Mesa, promovido pela Federasul, em Porto Alegre.
Participaram do debate Rodrigo Bisi, gerente de estratégia da Marcopolo; Alexandre Heineck, presidente do conselho de administração da Docile; e Joarez Piccinini, presidente do conselho Banco Randon e diretor de relações institucionais da Randoncorp. Na avaliação das gigantes locais, a indústria gaucha tem condições de ampliar a fatia que já exporta, mas não é rápido avançar em novos mercados.
Unanimidade entre os líderes das companhias, o ambiente econômico nacional é elencado como o principal entrave das empresas brasileiras na busca por maior relevância global. Taxa de juro elevada, incerteza fiscal, gasto público e custo alto para produzir empacam os negócios, segundo os diretores.
— O "custo Brasil" pesa internamente e dificulta o aumento das exportações, porque não há como agregar este preço. Fica muito difícil competir com países e mercados que não têm este custo — avaliou Joarez Piccinini, da Randoncorp.
Para o diretor, segue a necessidade por reformas ainda não finalizadas, como a tributária, ainda em discussão no país. A questão fiscal, diz Piccinini, inibe o desenvolvimento econômico.
Tarifaço repercute
A aplicação de tarifas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras atinge as companhias de formas distintas. Mesmo as que não fazem negócios diretos com os norte-americanos, como a Marcopolo, observam alterações nas rotas globais dos produtos. O momento comercial, portanto, é também de oportunidade.
Rodrigo Bisi, gerente de estratégia da Marcopolo, lembra que as tarifas aplicadas mundialmente, não restritas ao Brasil, encarecem as exportações de outros locais igualmente taxados. O cenário abre espaço para novos campos de disputa comercial.
A fabricante de Caxias do Sul exporta para mais de 140 países e vem se colocando entre as protagonistas do setor de transportes frente à transição energética. Segundo Bisi, a competição com os chineses é um dos desafios.
— Ficamos bastante prejudicados. Por isso, (é necessário) também ter operações internacionais para fazer frente — diz Bisi.
Gaúcha de Lajeado, a Docile é a principal exportadora de doces do país. No seu portfólio de mais de 80 países, os Estados Unidos são o principal mercado. Alexandre Heineck, presidente do conselho de administração da empresa, reforça a necessidade de uma diversificação da pauta exportadora.
— Temos uma indústria nacional que pouco investiu ao longo dos anos e a presença das multinacionais que aqui se instalaram. Precisamos ter acordos relevantes com os países para conseguir fazer frente — diz Heineck.
Ambiente em reconstrução
O desenvolvimento econômico gaúcho, impactado após as enchentes de 2023 e 2024, também foi mencionado como ponto-chave para o crescimento das empresas. Para os líderes das companhias, ainda há muito a ser feito em termos de reconstrução no Estado, especialmente em logística.
Bisi menciona que o Rio Grande do Sul tem posição geográfica desfavorável frente a outros Estados, o que encarece ainda mais a operação. Fora os custos em energia, que oneram quem produz.
Piccinini diz que as articulações pela recuperação pós-enchente começaram bem, mas lembrou que o Estado também tem as suas questões fiscais a resolver. Ainda assim, a associação entre poder público e privado, junto aos centros de inovação, tem conseguido mitigar a crise a partir de alguns investimentos.
Apesar das dificuldades de produção colocadas às indústrias, Heineck destacou a qualidade da mão de obra existente no Rio Grande do Sul, "qualificada e dedicada". O diretor defendeu que haja condições para que essas pessoas, e também as empresas, permaneçam no Estado.

