
Maior exportador de ovos do país em 2024, o Rio Grande do Sul espera recuperar perdas e fechar o ano com saldos positivos, após a reabertura do mercado ao Chile, oficializada no último sábado (23). A expectativa é de que a retomada nos envios, interrompidos após o caso de gripe aviária, reverta a queda de 30,6% registrada nos sete primeiros meses de 2025, sobretudo pelo recuo dos chilenos. Foram 1,3 mil toneladas a menos enviadas ao Exterior, totalizando 2.994 toneladas no período.
Em meio a um cenário de apreensão por conta do tarifaço imposto pelo governo Trump aos produtos brasileiros, o suspiro ao setor gaúcho vem do fato de que o Estado não exporta ovos de galinha para os Estados Unidos.
Conforme explica o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, o RS optou, num primeiro momento, por não direcionar suas vendas ao país. A razão se deu por entender que o apetite seria pontual, muito relacionado à gripe aviária. Além disso, havia no bastidor os efeitos provocados pela enchente que afetou a produção em regiões chave, e o foco da doença de Newcastle, que exigiu rearranjos de mercado.
Mesmo sem atender o apetite "dos states", a possibilidade de exportar para lá não é descartada.
— É interessante abrir aos EUA, mas o Estado segue cauteloso por suas dificuldades naturais. O RS ficou em alerta e não ampliou demais a produção depois da enchente e dos focos de doença. Entre enviar para os EUA e abastecer o mercado aqui, avaliou-se estrategicamente aguardar a reabertura pelo Chile — diz Santos.
Já em relação a preços, o presidente da Asgav avalia que a volta da exportação ao Chile possivelmente traga algum efeito no mercado interno, relacionado a ajuste de oferta e demanda. A inflação nos ovos, porém, não deve repetir os patamares históricos de alta como os vistos na largada do ano, quando a compra em massa pelos Estados Unidos modificou os padrões.
O preço dos ovos tem se mantido num patamar de equilíbrio, e com a demanda do Chile podemos ter algum aumento por causa da oferta. Mas nada perto do auge do começo do ano. Mesmo o RS não exportando (para os EUA), pegou um "efeito Brasil" junto na inflação.
JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS
Presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav)
Brasil alcança marca histórica
Consolidado como fornecedor global de proteínas enquanto a gripe aviária ainda dizima planteis ao redor do mundo, o Brasil abre caminhos no mercado externo atingindo marcas históricas, especialmente na exportação de ovos. Pela primeira vez, os embarques do alimento deverão chegar a 2% da produção nacional, conforme projeção da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
O percentual, ainda que pareça pequeno, reflete uma marca grandiosa nos mercados que atinge. Os Estados Unidos, maiores importadores, compraram 19 mil toneladas de ovos brasileiros nos primeiros sete meses de 2025. Em relação ao mesmo período do ano anterior, foi uma alta de 1.419% em vendas. O motivo é a escassez de oferta na produção norte-americana, que vem perdendo aves para a influenza desde 2022.
O futuro dos embarques aos EUA, contudo, aparece ainda incerto devido ao tarifaço de 50% do governo Trump. O gerente-executivo da área de mercados da ABPA, Estevão Carvalho, diz que o momento é de avaliação dos importadores, que tentam entender como o mercado vai se acomodar.
Mas ainda que haja recuo, a oscilação por lá pouco afeta o mercado brasileiro.
Complemento de mercado
A exportação do Brasil no segmento de ovos ainda é muito pequena perto da produção nacional ou mesmo da exportação de carne de frango, já consolidada há décadas. Menos de 1% do total produzido em ovos no país é destinado ao mercado externo.
Mesmo assim, a exportação surge para o setor como uma janela de oportunidade. É uma alternativa para eventuais “soluços” que possam abater o mercado, diz gerente da ABPA.
— No mercado doméstico, está claro que o ovo cada vez mais faz parte do dia a dia do consumo. Minha impressão é de que a proteína se consolidou “como herói” na alimentação e isso tem impulsionado o mercado interno. Estamos projetando o Brasil no top 10 de maiores consumidores de ovos nos próximos anos. Então, a perspectiva é muito boa, mesmo com eventual redução de compras pelos Estados Unidos. É a importância de ver a exportação como complemento — destaca Carvalho.


