
A nova elevação na taxa Selic preocupa o setor produtivo. A continuidade no ciclo de altas do juro básico acende alerta para crédito ainda mais caro e pisada de freio mais intensa nos investimentos das empresas. Algumas entidades setoriais destacam que a nova alta é um remédio amargo contra desequilíbrio fiscal do governo federal.
O Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu pela alta de 0,25 ponto percentual na taxa, jogando a Selic para 15% ao ano.
Guilherme Dultra, sócio da Knox Capital e Head de Finanças da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que a nova alta no juro básico tem um “efeito psicológico forte sobre o empresariado e o consumidor”. O movimento significa desaceleração adicional da atividade econômica, segundo Dultra.
— Empresas que já estavam adiando investimentos por conta do custo financeiro podem postergar ainda mais seus planos. No comércio, a expectativa é de um impacto direto sobre as vendas financiadas. Além disso, a alta pode ter reflexos sobre o mercado de trabalho, com tendência de maior cautela nas contratações e, eventualmente, aumento do desemprego ao longo dos próximos trimestres — projeta o especialista.
"Remédio amargo"
O presidente da Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Rodrigo Sousa Costa, afirma que o Banco Central traz um remédio amargo, mas necessário diante do "descontrole nas contas públicas por parte do governo federal".
— Os juros altos prejudicam trabalhadores e empreendedores da classe produtiva, mas precisamos reconhecer que a doença surge na gestão do governo federal — avalia Costa.
O presidente da Federasul comenta que, de um lado, o BC tenta controlar a inflação com o aperto monetário. De outro, o governo amplia os gastos públicos e benefícios assistenciais, que somados a outros fatores geram um "aquecimento artificial da economia". Com as políticas monetárias e fiscais andando separadas, o juro fica em patamar elevado por mais tempo, segundo Costa.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) divulgou nota com posicionamento na mesma linha. No texto, o presidente da entidade, Claudio Bier, cita que aumento na Selic “preocupa a indústria gaúcha”, que já enfrenta altos custos, margens achatadas e dificuldades de acesso ao crédito. Bier afirma que a “verdadeira causa estrutural dos juros elevados é a falta de compromisso do governo com a redução efetiva das despesas públicas”:
“O governo federal precisa assumir imediatamente suas responsabilidades, deixando de transferir os custos de sua má gestão fiscal”, diz o comunicado da Fiergs.
A Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) emitiu manifestação com tom semelhante. "É unanimidade que o aperto monetário que estamos vivenciando é histórico e penaliza muito a população e as empresas brasileiras. Já tarda o tempo de reduzir os juros, mas sabemos que é necessário criar condições fiscais para que isso aconteça", diz o comunicado assinado pelo presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn.