
A escalada no conflito envolvendo Israel, Estados Unidos e Irã acende um alerta sobre possível repercussão nos preços no Brasil e no Estado. Em um ambiente com inflação ainda persistente e corte do juro básico distante, a estimativa de petróleo mais alto acaba abrindo espaço para produtos e serviços mais caros, segundo especialistas. O impacto negativo pode ir desde a produção até as prateleiras, segundo economistas.
Apesar de elencar possíveis itens e serviços que podem encarecer diante do conflito, a maior parte dos especialistas concorda que o real efeito depende dos próximos passos do embate e eventuais negociações. O prolongamento do conflito ou eventual apaziguamento têm peso no futuro do preço do barril de petróleo, termômetro para o espraiamento da tensão para os preços ao consumidor, conforme analistas.
Veja, abaixo, os possíveis impactos do conflito em cinco pontos:
- Combustíveis
- Produção agrícola
- Preço nos supermercados
- Pressão na indústria
- Inflação e juro
Cinco pontos
1. Combustíveis
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que os efeitos ainda são incertos em razão da falta de clareza sobre os próximos passos do embate.
O impacto vai depender do efeito do conflito no preço do barril do petróleo, segundo Braz. O economista lembra que o câmbio e o preço do petróleo são vetores importantes para a inflação:
— No caso do petróleo, tem a ver com tudo que é derivado, pegando a indústria plástica, os combustíveis usados nos veículos, no transporte público urbano e no frete via diesel, os adubos, os fertilizantes e defensivos que vêm do petróleo. É uma gama muito grande de variáveis que podem ser afetadas pelo aumento do preço do barril.

2. Produção agrícola
Além do impacto direto no preço do petróleo, o conflito pode gerar também efeito negativo sobre a agropecuária. Petróleo mais caro pressiona a produção agrícola, que usa o insumo em diversas cadeias, segundo o professor Marcos Lélis, da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos:
— O petróleo muitas vezes antecede o movimento nos preços das comodidades agrícolas, porque parte dos insumos usados na produção, principalmente os fertilizantes, tem uma parte que usa petróleo. E aí a gente está falando em geral, soja, milho, todas essas commodities agrícolas.
Em parte, os agricultores podem colher algum benefício via exportação em um cenário com commodities agrícolas com preço mais elevado no comércio internacional. No entanto, no caso do Rio Grande do Sul, essa vantagem pode ser mitigada diante do aumento de custos e quebra de safras, segundo Lélis.
José Augusto de Castro, presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), também afirma que ainda é cedo para estimar impactos nos preços de itens, mas destaca a possibilidade de aumento de preço nas commodities agrícolas e dos produtos manufaturados como um todo.
3. Preços nos supermercados
Caso o conflito avance sem alívio das tensões e o petróleo engate alta, existe a possibilidade de um efeito nos preços dos alimentos e de bens, segundo especialistas. O petróleo mais caro também pressiona custos com frete, respingando nas prateleiras, segundo especialistas.
— Vamos pensar, por exemplo, os produtos que estão à venda nos mercados. Eu preciso do frete para trazer esses itens para a área de consumo. Se o combustível fica mais caro, o frete fica mais caro e isso pode impactar no preço final dos produtos — destaca Lisiane Fonseca da Silva, economista e professora da Universidade Feevale.
4. Pressão na indústria
Lisiane afirma que o conflito no Oriente Médio também pode afetar a indústria. Esse efeito pode ser observado de forma mais geral, como aumento dos custos com energia, lubrificantes e demais insumos.
Nesse sentido, ela lembra que o Rio Grande do Sul tem presença forte em alguns ramos como o petroquímico e metalmecânico, que dependem de derivados de petróleo em suas cadeias.
5. Inflação e juro

Com o cenário caminhando para uma tendência de aumento de preços na esteira da alta do petróleo, cresce o temor por novo repique da inflação no país, segundo economistas. Com preços mais elevados, a tendência é de Selic em patamar alto por mais tempo. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic de 14,75% para 15% ao ano.
— A subida no preço do barril do petróleo acaba tendo impacto na nossa inflação e aí a gente tem uma dificuldade de entrar num ciclo de queda da taxa de juro. Pode ocorrer a postergação do ciclo de queda da taxa de juro brasileira, fundamentalmente por esse choque no petróleo — explica Marcos Lélis.