
Em um ambiente com pressões internas esboçando alívio e cenário externo marcado por incertezas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) define, nesta quarta-feira (17) o patamar do juro básico do país. Mesmo que boa parte dos economistas estime manutenção da Selic, atualmente em 14,75% ao ano, as projeções estão divididas, com analistas enxergando espaço para aumento de 0,25 ponto percentual.
A quarta reunião do ano do Copom tem como pano de fundo uma inflação que mostra sinais de descompressão, atividade econômica apontando desaceleração e câmbio menos agressivo. Esses movimentos criam condições para o fim do ciclo de alta, segundo parte do mercado.
Por outro lado, emprego aquecido, projeções de inflação ainda alta e necessidade de preservar a credibilidade abrem espaço para novo acréscimo na Selic, conforme outra ala. Além disso, o embaraço no cenário internacional causado pelo tarifaço de Donald Trump e pela escalada no conflito armado no Oriente Médio também estão no radar.
O economista-chefe e sócio da Warren Investimentos, Felipe Salto, estima que o BC deve parar de aumentar a Selic na reunião desta semana. Ele afirma que, apesar da preocupação com o quadro fiscal e as incertezas externas, a “desaceleração da atividade econômica, já contratada”, deve continuar colaborando para inflação dentro da meta até 2026.
— Entendo que o atual patamar de juros nominais e reais já é bastante contracionista, pois está bem acima da taxa neutra de juros — analisa Salto.
O economista entende que os últimos indicadores econômicos já apontam para o início desse processo de desaceleração da economia. Ele cita como exemplo o IBC-Br, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), e dados de comércio em abril, que indicam arrefecimento.
— A inflação esboça certa resiliência, mas está controlada, e as expectativas estão convergindo à meta até o final do ano que vem. Por ora, ao teto da meta. Mas observe que as projeções para 2025, conforme pesquisa Focus desta semana, foram fortemente revisadas para baixo no caso do IPCA — pontua.
O professor Maurício Weiss, do Programa de Mestrado Profissional de Economia (PPECO) da UFRGS, também espera estabilidade ou, se houver alta, que não supere o 0,25 ponto percentual. Weiss afirma que, embora a inflação ainda esteja acima do teto da meta no acumulado de 12 meses, o indicador já apresenta uma trajetória de queda recente.
— Como os efeitos dos juros têm um prazo para serem sentidos na economia em torno de seis meses, vejo que já chegou o momento de segurar a taxa. Além disso, os maiores efeitos sobre a inflação decorrem das mudanças nos preços dos alimentos e da energia, ambos com baixa relação com a taxa de juros — analisa o professor da UFRGS.
Viés de alta
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, afirma que as expectativas de inflação seguem mostrando resistência a queda mais contundente, o que mantém a autoridade monetária vigilante. Além disso, dados incipientes de desaceleração da economia e falas do presidente do BC, Gabriel Galípolo, criam ambiente para nova elevação do juro básico, segundo Sung:
— O que me chamou muito a atenção foi a mudança de tom do Galípolo nas últimas entrevistas. Onde ele fala que a atividade econômica segue surpreendendo positivamente, que a desancoragem das expectativas de inflação continua, que todas as possibilidades de cenários de alta e manutenção estão na mesa, que nada foi decidido. (...) Essa mudança de postura do Galípolo deixa o cenário em aberto.
Sung destaca que, como a eventual elevação seria marginal, as atenções estarão voltadas para a nota que acompanha a decisão do Copom. A partir do tom adotado no comunicado será possível ter uma clareza maior sobre a análise da autoridade monetária. Além disso, o economista-chefe da Suno Research cita o recado que os votos podem passar:
— Quanto mais unânime a decisão, melhor. Se vier qualquer tipo de dissidência ali, alguns votarem para manutenção, outros votarem para alta, acho que isso pode gerar um leve ruído nos dias seguintes.
Fed no radar
Também nesta quarta-feira, ocorre a chamada Super Quarta, quando o BC e o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, definem o patamar do juro básico. Nos EUA, a expectativa também é pela manutenção do patamar da taxa, na faixa entre 4,25% e 4,50%. Essa projeção ocorre em meio às incertezas sobre o impacto do tarifaço de Trump na inflação do país.
— Se tiver qualquer mudança do Fed, que vai pegar todo mundo desprevenido, seja aumento ou corte, principalmente o corte, isso vai gerar muitos ruídos no mercado, que vai receber muito mal essa questão. Aí precisamos avaliar todos os efeitos na semana seguinte em relação ao câmbio, ao estresse que pode haver. O Copom vai adicionar isso no seu cenário — avalia o economista Gustavo Sung.
A reunião
O encontro do Copom é dividido em duas datas, uma terça e uma quarta-feira, tradicionalmente.
Primeiro dia
Os chefes de departamento apresentam análise técnica da conjuntura econômica e de movimentos de mercado, incluindo dados de inflação, nível de atividade, finanças públicas, balanço de pagamentos, economia internacional, câmbio, reservas internacionais, mercado monetário e expectativas gerais para variáveis macroeconômicas.
Segundo dia
No último dia de encontro, os membros do Copom definem o patamar da taxa Selic, com base na avaliação do cenário macroeconômico e dos principais riscos associados. A decisão é por maioria simples de votos.