
Uma das principais referências em empreendedorismo atualmente no Brasil, a empresária Alexandra Casoni, 36 anos, veio a Porto Alegre nesta semana para ministrar uma palestra na Feira Brasileira do Varejo (FBV). O evento, considerado o maior do segmento no país, ocorreu entre quarta (21) e sexta-feira (23) na Capital.
Nas redes sociais, Alexandra se define como uma shark ("tubarão", em inglês). O termo designa um investidores e empresários que investem em startups e negócios em fase inicial, além de fazer uma referência à série Shark Tank Brasil. Alexandra participou, como investidora, das duas últimas temporadas do reality show exibido pela Sony, em que empreendedores apresentam suas ideias de negócio a potenciais investidores.
Quem é Alexandra Casoni
A trajetória de Casoni no mundo dos negócios, contudo, começou mais cedo. Aos 15 anos, ela se tornou "promotora e degustadora de doces" na Flormel, empresa do ramo alimentício fundada por seus pais em 1987. Alexandra se dedicou por 19 anos à companhia, sendo CEO durante oito anos, até que, em 2023, deixou o comando da empresa para se dedicar a outros projetos — mesmo assim, continua como sócia, conselheira e representante da Flormel.
Atualmente, Alexandra é sócia da maior liga de mentores do país, a Mentoring League Society (MLS). Um de seus grandes projetos no momento é justamente o Club A, grupo de mentoria exclusivo para mulheres empreendedoras. Casoni também é sócia da Farmácia Semealle e representante da marca Audi no Brasil, além de manter outros investimentos.
Em entrevista exclusiva à Zero Hora, Alexandra falou sobre temas como empreendedorismo feminino e tecnologia no mercado do varejo, além de dar dicas para quem deseja começar a empreender.
Confira a entrevista:
Na FBV, você falou sobre "conexões que transformam o varejo". Pode ampliar essa ideia?
O varejo, na minha própria jornada, contribuiu muito para minha experiência e para meu amadurecimento profissional, por justamente ser um meio que interconecta diversos players do ecossistema de negócios. O varejo é um meio para que marcas, pessoas, negócios e soluções se conectem em prol de alguém, que é o cliente consumidor.
Então, dentro de todo um período de 20 anos em que eu vivi o varejo na prática diariamente, aprendi muito sobre como interconectar essas oportunidades e multiplicar, crescer e escalar negócios.
Quais são as dicas essenciais que você daria para quem deseja começar a empreender?
Nós, brasileiros, somos extremamente criativos, inovadores, temos uma veia natural para o empreendedorismo. De forma geral, acho muito importante para quem quer começar a empreender ter clareza de seus objetivos principais. Qual público desejo atingir? Minha operação é viável financeiramente? Meu produto tem demanda? Há espaço para eu me inserir nesse mercado, nesse momento?
São perguntas que precisam ser respondidas pelo empreendedor que busca estruturar um negócio. É preciso conhecimento de mercado, do perfil do público-alvo, da viabilidade da operação, para que as coisas realmente aconteçam. E, aí sim, com coragem, dando um passo de cada vez, com resiliência para enfrentar as adversidades, lançar seu negócio.

O mercado de franquias tem crescido no RS e no Brasil. Acredita ser um bom caminho para começar a empreender?
Eu gosto, a franquia é um modelo de negócio muito promissor no Brasil. Mas eu acredito que também depende do perfil de quem vai empreender. No meu clube de liderança para empreendedoras, há empresárias com o perfil de ser uma grande franqueada, tendo sete ou oito operações de uma marca, ao mesmo tempo que há empresárias mais com o perfil de ser franqueadora, de desenvolver uma marca e um negócio do início.
Para quem quer começar a empreender em um modelo que oferece menor risco, e que tem um perfil mais executório, operacional, apostar em franquias pode ser um ótimo caminho.
Você tem ganhado notoriedade no mercado com sua mentoria para mulheres empreendedoras. Quais são os principais desafios enfrentados por lideranças femininas no mundo corporativo?
Esse é um trabalho que tem me dado uma grande satisfação, poder ajudar a fomentar o empreendedorismo feminino no Brasil. A mulher tem uma característica geral de querer cuidar de tudo e de todos, o que traz uma versatilidade e uma adaptabilidade que são muito importantes para o mundo dos negócios. A mulher é colocada em diferentes papéis, como mãe, como esposa, mas não é colocada no papel de empresária, nesse papel de líder corporativa, e aí muitas vezes falta confiança para essas mulheres investirem nessas carreiras.
Por isso, é importante que as mulheres, primeiro, se enxerguem nesse lugar de líder, compreendam que também são capazes de executar essas funções e que é possível fazer uma gestão do tempo a ponto de equilibrar a carreira com a família e com o cuidado pessoal, que também é muito importante. E aí, depois disso, é preparação, é investimento em capacitação, experiência, traçar objetivos claros e conquistar.
Como você observa o avanço tecnológico e a crescente aplicação de novas tecnologias nos negócios?
É um movimento que cresce cada vez mais e que não tem volta. Então, o que podemos fazer é nos adaptar e saber utilizar essas novas tecnologias da melhor forma possível.
Quando se fala em novas tecnologias, como a inteligência artificial, é preciso entender que tudo isso são recursos, ferramentas que têm que ser aplicadas para gerar benefícios. São ferramentas que podem fazer avançar a parte operacional do negócio, que podem poupar tempo de execução de algumas tarefas, e que podem deixar as lideranças com mais energia e mais concentradas para executar planejamentos estratégicos mais importantes para a empresa.
O que não dá é ir contra às novas tecnologias, porque é um movimento sem volta, já é uma realidade estabelecida, e o único caminho é o da adaptação.
Como foi a experiência como uma das investidoras do reality show Shark Tank Brasil?
Foi ótimo, tive a oportunidade de participar por dois anos consecutivos. Fui convidada pela Sony em 2023, e foi muito legal, porque eu me vi quando tinha lá meus 28 anos e também tinha projetos e falava com muitos fundos, muitos investidores, multinacionais, buscando investimentos para os meus negócios. Agora, estar desse outro lado, em uma posição de avaliação desses novos negócios, foi uma verdadeira realização.
Além disso, também foi muito legal conviver com os outros sharks, aprender com eles, com seus modelos e visões de negócios, também agregou muito para mim. Vejo essa experiência como uma grande realização pessoal, e também um reconhecimento e uma validação da minha jornada no mundo dos negócios.