
Num país que, conforme dados do setor, é o segundo maior mercado de ar-condicionado do mundo, toda economia de energia é bem-vinda para evitar sobrecarga da rede elétrica e aliviar o bolso do consumidor. Com recursos de inteligência artificial (IA), produtos fabricados em solo brasileiro passam a contar com tecnologia capaz de melhorar a eficiência dos aparelhos, reduzindo o consumo.
Batizado como “o inverter do inverter” — funcionalidade que já otimizava a performance energética dos aparelhos —, os novos condicionadores de ar que chegam ao mercado buscam nos dados a inteligência para melhorar o desempenho. Uma delas está sendo lançada pela Midea Carrier, multinacional que tem unidade fabril em Canoas, na Região Metropolitana.
Uma máquina inverter pode ser 27% mais econômica ao consumidor. Com a IA, pode alcançar mais 30% de economia, explica o gerente de marketing de produto da empresa, Gustavo Martins.
Utilizando uma base de dados gerada sobre aparelhos de ar-condicionado do mundo inteiro, a IA identifica o comportamento das máquinas ao longo do uso. Assim, é possível projetar o melhor funcionamento delas para determinada condição de temperatura e clima, aprimorando o desempenho dos equipamentos.
— A tecnologia ajuda a antecipar o que vai acontecer no ambiente onde a maquina está instalada, mantendo o conforto térmico. A máquina passa a entender o que precisa ser feito a partir dos dados que ela levanta. Se não conectar à internet, o aparelho vai aprender por ele mesmo, conforme o uso. Conectado ao wi-fi, ele busca dados mundialmente conectados pela marca — diz Melo.
Para o consumidor, o efeito é uma menor quantidade de quilowatt-hora (kWh) gasto, e um alívio na conta de luz.
Em tempos de onda de calor e temperaturas tórridas, além de elevar os custos com energia em casa, o maior uso de aparelhos refrigeradores traz sobrecarga ao sistema elétrico.
Segundo dados do setor, entre janeiro e outubro de 2024, a demanda no varejo por aparelhos de ar-condicionado cresceu 37% ante igual período de 2023. De acordo com a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), estima-se que o Brasil atinja 100 milhões de unidades do produto até 2050.
Trinta anos atrás, o sistema elétrico teria entrado em colapso com o mesmo consumo que se tem hoje, menciona o gerente de marketing de produto da Midea. Esta também é uma das soluções pensadas no lançamento:
— Tendo máquinas muito mais econômicas, sobrecarrega menos o sistema elétrico como um todo. Além do menor custo para o consumidor, que é sempre um benefício.
A fábrica gaúcha é destinada à aparelhos de aplicação comercial. Shoppings, hospitais e até estádios de futebol estão entre os clientes potenciais deste segmento. Já os condicionadores de ar de uso residencial, como o que traz a tecnologia da IA, são fabricados em Manaus. A Midea tem ainda uma terceira unidade no Brasil, localizada em Pouso Alegre (MG).
A operação gaúcha
Em operação no mesmo local desde 1967, a planta fabril de Canoas recebeu R$ 45 milhões em investimentos nos últimos cinco anos. São 600 pessoas trabalhando na fábrica — que é climatizada. São sete linhas de produção e 20 mil metros quadrados de área.
Edilson Borges, responsável pela manufatura na indústria, menciona que a IA está presente muito antes do produto final. Está na própria produção, com inteligência de dados para facilitar a automação dos processos, como a eficiência no uso de materiais, por exemplo.