
O ministro da Economia Paulo Guedes afirmou nesta quinta-feira (20) que é normal o Congresso querer controlar mais o orçamento, mas que não é preciso "pisar no pé do governo".
— É normal que o Congresso queira entrar no Orçamento, mas peraí. Não precisa pisar no nosso pé. Tem um orçamento de R$ 1,5 trilhão, por que vamos brigar por conta de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões, R$ 20 bilhões? — disse.
A declaração de Guedes foi feita em resposta a uma crise deflagrada entre o Congresso e o Executivo pelo controle do orçamento impositivo. Um acordo estava em curso para manutenção de vetos presidenciais à Lei Orçamentária aprovada no Legislativo, mas ficou ameaçado após declarações do ministro Augusto Heleno, chefe do GSI, um dos principais conselheiros do presidente Jair Bolsonaro.
— Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente. Foda-se — disse Heleno em conversa captada por microfones na terça-feira (18).
Em cerimônia no Planalto sobre crédito imobiliário, Guedes apoiou Heleno em um trecho de seu discurso.
— Fica uma briga. Se o orçamento impositivo for grande demais, fica parecendo um parlamentarismo branco. Avançaram sobre os poucos recursos que o Executivo federal tem capacidade de exercer — afirmou o titular da Economia.
—Se um lado quiser levar muito, o outro reage. Se levar menos, funciona — disse. — É pelada. Um chutou a canela do outro e o jogo segue — completou.
Em seu discurso, Guedes disse que o governo deixou de negociar cargos com parlamentares e ligou essa postura à maior pressão do Congresso.
— É natural que a classe política diga "bom, como não houve loteamento nos ministérios, como houve escolhas técnicas, como eu entro nisso? (Há) uma aliança política de conservadores e liberais, e os senhores sintam-se convidados a fazer acordos republicanos pela distribuição orçamentária — disse.
Para apaziguar a disputa, a solução apresentada pelo ministro é aprovar a proposta de emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo, formulada pelo Ministério da Economia e já em tramitação no Senado. O texto diminui gastos da União e abre espaço para maior poder de decisão sobre os recursos.
— Essa disputa, essa ferocidade toda que observamos, é em torno de 3% ou 4% do orçamento. O resto está carimbado. Façamos as reformas e teremos 100% do orçamento para discutir — afirmou.
Mesmo com a PEC aprovada, no entanto, não seria possível rediscutir 100% do orçamento. Isso porque a proposta não acabaria com diferentes gastos obrigatórios, como o pagamento de aposentadorias ou salários de servidores.
— Por isso que as reformas têm que seguir. E as reformas que estão nos dando essa folga, esse horizonte — defendeu.
Bolsonaro defendeu Guedes publicamente pela segunda vez nesta semana.
— Só é criticado quem tem virtude. Ninguém critica o perna de pau, que está acostumado a perder gols. Critica o cara que erra o pênalti ou até mesmo o cara que faz o gol e não é muito bem batido. Quando se falou em turismo, pessoas humildes viajar para fora do Brasil — disse Bolsonaro.