O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou neste sábado (13) que é possível reverter decisão "não muito razoável" de Jair Bolsonaro e que o presidente deveria estar preocupado com "efeitos políticos" quando interferiu nos preços do diesel da Petrobras.
— Acho que o presidente tem muitas virtudes, fez muita coisa acertada e ele já disse que não conhece muito de economia. Então se ele, eventualmente, fizer alguma coisa que não seja muito razoável, tenho certeza que conseguimos consertar. Uma conversa conserta tudo — afirmou Guedes em Washington, nos Estados Unidos, após participar de reuniões com autoridades no Fundo Monetário Internacional (FMI).
O ministro lembrou que Bolsonaro já disse reiteradas vezes que não conhece muito de economia e admitiu que a ação do Planalto sobre os preços do combustível refletiu de maneira negativa no mercado financeiro.
Segundo o chefe da equipe econômica, a preocupação do presidente pode ter sido a ameaça de uma nova greve dos caminhoneiros, que gerou uma crise de abastecimento no Brasil em maio do ano passado.
— O presidente já disse para vocês que ele não era um especialista em economia, então, é possível que alguma coisa tenha acontecido lá. Ele, ao mesmo tempo, é preocupado com efeitos políticos, estavam falando em greve de caminhoneiro, esse tipo de coisa. Então é possível que ele esteja tentando manobrar com isso — ressaltou Guedes.
Questionado por jornalistas sobre o fato de o governo ter cedido tão rápido à pressão política e à ameaça de uma nova paralisação, o ministro disse que concordava com as preocupações dos repórteres.
"Inferência razoável"
Na sexta-feira (12), o chefe da equipe econômica de Bolsonaro havia dito, após muita insistência dos jornalistas, que era uma "inferência razoável, aparentemente" dizer que ele não tinha sido avisado por Bolsonaro sobre a decisão do governo de interferir nos preços da Petrobras.
Neste sábado, o ministro voltou a dizer que ainda não conversou com o presidente ou com qualquer outra pessoa de sua equipe sobre o assunto e que precisava se informar sobre o tema antes de dar qualquer declaração.
Ao ser perguntado sobre haver contradição entre a política econômica liberal defendida pelo governo e a intervenção em preços administrados como esta, Guedes sorriu e disse: "Não vou dizer isso que você quer que eu diga".
Ele reconheceu que "aparentemente já houve um efeito ruim lá embaixo" após a decisão de interferência por parte do Planalto, mas disse que prefere trabalhar em frentes nas quais consegue construir algo para o futuro.
A Petrobras perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado após a intervenção e Bolsonaro convocou para a próxima semana uma reunião de ministros e técnicos para discutir os preços da estatal - Guedes deve chegar ao Brasil na segunda-feira (15).
Formado na Universidade de Chicago, notabilizada por sua tradição econômica liberal, o ministro é a favor da política de livre mercado, com menor intervenção possível.