O mesmo planejamento que se recomenda à compra de um carro vale para a venda. Liberar um espaço na garagem pode ser lucrativo se o negócio for bem arquitetado, buscando quem paga mais e minimizando os riscos de calote ou problemas na transferência.
O primeiro passo vem antes de colocar o carro na vitrine: é preciso saber o melhor momento para vender e em quais condições mecânicas o automóvel deve estar para seduzir o comprador. O momento atual pode não ser o mais animador.
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Em setembro, conforme dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as vendas de usados registraram queda pelo segundo mês seguido. Isso significa que, para retirar a placa de "vende-se" do carro, mais do que nunca o dono precisa oferecer melhores preços, maiores prazos ou um veículo em melhores condições do que os concorrentes.
Uma outra exigência é tomar pé das condições de conservação do veículo, para ter consciência do quanto se pode conseguir por ele.
- Muita gente acha que basta que o motor e a caixa estejam bons para valorizar o carro, mas não é bem assim. Na verdade, as concessionárias estão preocupadas mesmo com suspensão, molas e o estado dos pneus, cujo desgaste é mais rápido e a manutenção, cara - afirma Vanderlei Fraga, gerente de vendas da Sinoscar.
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Um carro em bom estado de conservação pode valer de 15% a 30% abaixo de seu valor de mercado, conforme a Tabela Fipe, em uma concessionária. Mas, se o veículo não tiver ar-condicionado ou passar dos 50 mil quilômetros rodados, a desvalorização pode chegar a 60%, segundo Fraga.
- Não é bom negócio para as concessionárias pagarem por um carro que vai ficar muito tempo no estoque por que não há demanda - explica.
Na hora de decidir vender ou não, é aconselhável avaliar o custo de manutenção de um veículo. Ele pode ser bem alto.Considerando-se as despesas com seguro, IPVA, estacionamento, combustível, depreciação e custo de oportunidade (dinheiro que o proprietário receberia se aplicasse o valor na poupança, em vez de comprar um carro), um automóvel avaliado em R$ 30 mil pode chegar a custar R$ 18,2 mil (R$ 50,08 por dia) no primeiro ano depois de comprado. Incluindo neste cálculo gastos eventuais (lavagens, viagens, pedágios, multas e estacionamentos avulsos), o montante ficaria ainda maior.
Mesmo que a opção de se desfazer do veículo seja financeiramente tentadora, é necessário analisar os meios de transporte disponíveis, no caso de as chaves do possante serem repassadas a um novo dono.
Para quem mora perto do trabalho - o suficiente para ir a pé ou de bicicleta, por exemplo - ou necessita de apenas um ônibus ou lotação, a venda pode ser vantajosa, prevendo-se uma reserva extra para eventuais ou emergenciais corridas de táxi. Por outro lado, quem tem família grande deve avaliar como ficaria a logística envolvendo locais de trabalho dos pais e de estudo dos filhos. Há casos em que a comodidade do carro, por mais cara que possa ser a sua manutenção, se impõe. Por isso, cada situação deve ser analisado com cautela - e na ponta do lápis.
Além da quilômetragem, um ponto a ser considerado na hora da venda é a própria idade do veículo.
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Pela lógica, quanto mais velho, menor a vida útil (e menor o valor de mercado) a partir da data da transação, o que deve ser considerado tanto por quem vende - vale a pena desfazer-se de um carro com três anos de uso para comprar um mais barato, mas que ao mesmo tempo irá durar muito menos? - como por quem compra. Para ajudar nesta análise, a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), classifica os usados em seminovos (até três anos), usados jovens (quatro a oito anos), usados maduros (nove a 12 anos) e velhinhos (13 para cima).
Comerciantes apontam que o tempo ideal para vender um carro é de dois a três anos após a fabricação, período em que expira a maioria das garantias e após o qual são necessárias as manutenções mais caras. Os modelos populares e com baixa quilometragem são os mais procurados.
- Hoje em dia, manutenção barata e baixo consumo de combustível são os principais pedidos dos clientes. O pessoal está trocando caminhonetes "beberronas" ou carros com motor 1.8 ou 2.0 por opções populares, 1.0 - explica Rogério Armani Madeira, diretor da revendedora Astra Veículos.
Fazer negócio com revendas é interessante em razão da baixa burocracia, mas desvantajoso no preço. A venda no particular, sem intermediário, pode render o valor de mercado, mas será necessário providenciar garantias de pagamento e tratar dos documentos de transferência. Com a popularização de sites de compra e venda de produtos usados entre desconhecidos, esses cuidados são ainda mais necessários.
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