O transporte hidroviário realizado nos portos do Rio Grande do Sul desempenha um papel crucial no desenvolvimento dos municípios, do Estado e do país como um todo. As operações realizadas rotineiramente, ainda que desconhecidas por muitos, impactam diretamente o cotidiano dos gaúchos. Mas será que a população realmente entende tamanha importância dessa atividade? A partir desse questionamento, a Portos RS, em Rio Grande, entendeu a necessidade de ampliar suas atividades e lançou, em novembro do ano passado, o projeto Minha Cidade Tem um Porto.
Com pouco mais de um ano em atividade, a iniciativa visa aproximar a comunidade dos municípios portuários e, consequentemente, gerar um sentimento de pertencimento na população em relação ao porto. Em Rio Grande, no Sul do Estado, o projeto já conta com ações em andamento, como visitas técnicas, olimpíadas escolares, palestras em escolas e um concurso de redação, desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Smed) do Rio Grande.
Ainda no início deste mês, integrando as atividades, uma corrida de rua promovida pela Portos RS marcou os 109 anos de atividade do Porto do Rio Grande. O evento contou com mais de 430 participantes, que se inscreveram para percursos de cinco e 10 quilômetros.
Para o diretor de relações institucionais da Portos RS, Sandro Boka, a iniciativa cumpre um papel social importante, especialmente no que se refere ao compromisso de evidenciar que o porto também é parte da identidade dos municípios e do cotidiano das pessoas.
– Fazer com que as pessoas entendam a importância do porto no dia a dia delas é o grande objetivo desse projeto. Os gaúchos não sabem, mas as suas vidas estão interligadas, de uma forma ou de outra, ao porto de Rio Grande – comenta.
Em entrevista, o gestor, que também é responsável pela operação do porto de Porto Alegre, explica como a iniciativa tem se desenvolvido e fala sobre a perspectiva de expansão para outros municípios além de Rio Grande, considerando a adesão da comunidade e os resultados obtidos no primeiro ano de projeto. Confira:
Em que momento nasce o Minha Cidade Tem um Porto?
A nossa ideia, quando decidimos criar esse projeto, foi com o intuito de resgatar o pertencimento, fazer com que as pessoas tenham orgulho de ter um porto em sua cidade. E para que isso aconteça, nós temos que fazer com que essas pessoas conheçam melhor o porto. Ninguém valoriza e ninguém admira aquilo que não conhece.
Visitamos presidentes de bairro, pescadores, diretores de escolas, professores, alunos, enfim, conversei com muitas pessoas em Rio Grande, principalmente nas comunidades ribeirinhas – que são vizinhas ao porto. Infelizmente, a maioria não conhece o porto, mesmo sendo vizinho territorialmente e tendo as atividades portuárias próximas ao seu dia a dia. Isso nos levou a fazer esse projeto, para que nós possamos nos comunicar melhor e estarmos mais próximos dessas comunidades.
Como tem sido a adesão da população às ações desenvolvidas pelo projeto?
A população tem aderido de uma forma emocionante. Quando nós vamos nas escolas, fazemos a apresentação de um vídeo institucional da Portos RS, que conta a história desde a fundação até os dias de hoje, mostrando os principais terminais, produtos, operadores portuários e empresas que fazem parte do nosso complexo. Quando a gente começa a mostrar as imagens do navio entrando no canal de acesso, imagens do navio sendo carregado com contêineres, grãos, toras de madeira, ônibus e carros, as pessoas olham aquilo e dizem: “como é que eu não sabia que tudo isso estava aqui próximo?”. A gente percebeu que isso, no mesmo instante, gera um orgulho, gera um pertencimento.
Nas escolas, com essas visitas e com o material que a gente mandou para toda a rede, nosso objetivo é fazer com que a comunidade escolar descubra o porto verdadeiramente. Ao mesmo tempo, estamos fazendo visitas técnicas, na qual já levamos o Tribunal de Justiça. Iremos levar a Assembleia Legislativa e pretendemos levar ainda a Câmara de Vereadores e o Tribunal de Contas, além das escolas que também estão sendo convidadas para fazer essa visita in loco.
Além das ações já desenvolvidas com os eixos de educação e desporto, há possibilidade de atividades que envolvam outras pautas?
Um dos principais pilares do Minha Cidade Tem um Porto é o concurso de redação, que estamos fazendo em Rio Grande, nas escolas públicas de Ensino Fundamental, Ensino Médio e de Ensino para Jovens e Adultos (EJA). A atividade, que envolve alunos, professores e muitas escolas, teve uma aceitação maravilhosa de toda comunidade.
Nesse sentido, nós já estamos desenvolvendo ações na área esportiva, na área educacional e pretendemos, ainda, desenvolver atividades de preservação ambiental e de desenvolvimento tecnológico. Mantendo nosso foco voltado para os jovens, em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc), vamos desenvolver um campeonato de skate ainda em 2024.
Para além de levar informação e oportunidade, nós queremos gerar curiosidade e, acima de tudo, pertencimento, fazendo com que todos os moradores se enxerguem dentro do porto.
Qual o impacto projetado das ações, especialmente aquelas realizadas no ambiente educacional?
Quando a gente entra na sala de aula existe um ambiente. Quando a gente sai, o ambiente é totalmente diferente. Essa mudança acontece depois que os alunos descobrem o porto e começam a valorizar, a se orgulhar de ter toda aquela potência na sua cidade. É muito legal ver que eles entendem e automaticamente começam a valorizar.
A ideia é que por meio desse processo, especialmente o que nós estamos realizando dentro das escolas, os nossos jovens estudem mais, se qualifiquem mais e, lá na frente, quem sabe, possam ser os nossos novos portuários.
Qual a perspectiva para 2025 e quais são as próximas cidades que devem receber o Minha Cidade Tem um Porto?
Pretendemos ainda desenvolver várias ações, todas voltadas para o reconhecimento que dá nome ao projeto: Minha Cidade Tem um Porto. A partir de 2025, o projeto pensa em realizar atividades na beira da praia, que promovam o debate sobre a operação portuária e a preservação ambiental.
A próxima cidade a receber o “Minha Cidade Tem um Porto” vai ser Porto Alegre. Ainda em 2024, no início de dezembro, já pretendemos começar a trabalhar o projeto para a Capital. Agora, ainda embrionário, a gente está com o projeto em Rio Grande mas, logo estaremos fazendo também em Porto Alegre, Pelotas e no Estado como um todo.