A maior safra da história dos Estados Unidos teria potencial para derrubar os preços futuros na Bolsa de Chicago. Com a colheita próxima do final, serão 383 milhões de toneladas de milho (37% da produção do planeta) e 116 milhões de toneladas de soja (35% da produção global). Mas, ao invés de cair, os preços destes grãos estão em alta. A soja já rompeu a barreira dos US$ 10 por bushel e pode subir mais. A demanda global forte, tanto por soja quanto por milho, está anulando a esperada pressão baixista. China, Índia e outros grandes importadores globais estão absorvendo vorazmente os grãos da nova safra. No Brasil, após um primeiro semestre com valores recordes pagos aos produtores, os preços estão em queda. O ciclo 2016/2017 no Brasil deverá ter preços mais baixos para a soja, milho, arroz e trigo. Esses quatro grãos respondem por 95% da safra no país, estimada em 216 milhões de toneladas em 2016/2017. A variável que tem determinado o recuo dos preços é o câmbio. Em 2016, o dólar acumula queda de 22% em relação ao real, se aproximando dos R$ 3. Dólar em queda, commodities em queda. Grãos são commodities agrícolas, ou seja, na essência da palavra, mercadorias que têm no dólar a base de formação dos preços. E é muito alta a correlação entre preços de commodities e taxa de câmbio. Há exceções: os chamados "no tradables", que não são impactados pela exportação ou importação, como o feijão carioca, por exemplo. No caso do milho, após subir 122% entre julho de 2015 e junho de 2016, atingindo um patamar recorde, a queda acumulada neste semestre já chega a 25%. E pode se estender em 2017. No período, a soja subiu 27%, mas já acumula baixa de 19% neste semestre. Trigo e arroz estão com preços globais em baixa, em dólares. Ou seja, sofrem dupla pressão: da baixa da cotação externa (em dólar) e da queda do dólar no Brasil. No caso do trigo, uma safra recorde está sendo colhida, sem comemoração, pois representa um fator adicional à pressão baixista sobre os preços e o governo terá que intervir para garantir o preço mínimo oficial aos produtores. Para o arroz, após a quebra na safra 2015/2016, a produção deve se recuperar na próxima colheita. Com cotação externa em queda e real valorizado, assim como o trigo, a pressão de baixa sobre o preço do arroz também vai se fazer presente na colheita do próximo ano. Só um clima adverso ou uma forte alta do dólar podem desconstruir o cenário aqui traçado. Mas, por ora, nenhuma dessas duas hipóteses está no radar!