
Após quatro anos longe das novelas, Andréia Horta estará de volta à faixa das nove em Três Graças, trama escrita por Aguinaldo Silva que substituirá Vale Tudo a partir de segunda-feira (20).
Na história, ela interpreta Zenilda, esposa de Santiago Ferette (Murilo Benício), uma mãe dedicada ao lar e à família. No entanto, a personagem nem imagina que a melhor amiga, Arminda (Grazi Massafera), é amante de seu marido. Um conflito pronto para gerar repercussão e empatia entre o público.
— Ela é supermanipulada pelos dois, que combinam sempre juntos suas armadilhas. Acho que qualquer pessoa que se coloque nessa situação vai entender minimamente o desconforto da Zenilda — reflete a atriz, que não teme debater a traição dupla vivida pela personagem:
— Imagina você nessa situação, sabe? A gente não faz ideia de como reagiria. Mas a gente tem vontade de justiça. Queremos que quem está sendo passado para trás não continue sendo passado para trás. É um instinto da gente. Isso gera uma coisa a favor daquele personagem. Mas temos que estrear para ver o que acontece, né? (risos).
Apesar dos percalços, o papel de Zenilda dialoga com a atual fase da vida de Andréia. Em novembro de 2024, a mineira, de 42 anos, deu à luz Yolanda, fruto do casamento com o ator gaúcho Ravel Andrade.
— Desejei muito ser mãe e sabia que ia acontecer. É um sonho se realizando a cada dia. Eu estou em êxtase. A maternidade é uma coisa muito pessoal, fruto de uma experiência que inclui diversos fatores diferentes. Mas o que eu posso dizer sobre a minha é que estou felicíssima, amando ser mãe, e isso é para dizer o mínimo.
Grávida em cena
Atuando desde muito jovem e com duas décadas de carreira, Andréia acumula mais de 20 produções no currículo, entre filmes, séries e novelas. Um dos grandes destaques dessa trajetória é a interpretação de uma das figuras gaúchas mais emblemáticas da Música Popular Brasileira: Elis Regina, no filme Elis (2016), pelo qual recebeu o Kikito de melhor atriz, e na minissérie Elis – Viver é Melhor que Sonhar (2019), indicada ao Emmy Internacional de melhor filme ou minissérie.
É importante que as pessoas deem a devida atenção e suporte para uma mulher grávida continuar fazendo o que ama.
ANDRÉIA HORTA
Atriz
A dedicação ao ofício é tanta que ela não parou de trabalhar nem mesmo durante a gravidez de Yolanda. Foi o caso das filmagens da segunda temporada de Cidade de Deus: A Luta Não Para, prevista para 2026, em que a equipe adaptou a trama para que a atriz pudesse continuar interpretando a advogada Jerusa, a vilã responsável por instaurar o caos na comunidade retratada na série.
— Fiz questão de propor que trabalhasse grávida. Atuo desde criança e queria ter a experiência de fazer isso com minha filha dentro de mim. Atuar não é trabalhar sentado com a mente; fazer a cena implica o corpo inteiro. Eles (a equipe) reagiram com todo carinho do mundo. Foi muito bonito, porque me acolheram e reescreveram a personagem grávida. Foi importante estar em cena grávida de oito meses. Eu pari um mês depois — relembra.
E, agora, retornando à profissão que ama, a atriz acredita que está em uma fase ainda mais madura da carreira e da vida.
— Cada etapa da vida da gente, a gente acha que está melhor do que ontem. Quando se encontra com um texto, que é sempre algo novo, a gente se vê mais maduro do que ontem. Em relação a qualquer outro período passado, me sinto melhor hoje. O maior benefício do tempo é que ele é nosso grande aliado.
A atriz também destaca a maternidade como uma experiência transformadora:
— A minha última novela foi há quatro anos, e agora muitas coisas aconteceram. Uma delas, a mais maravilhosa, foi a maternidade, sem dúvida nenhuma. Eu sou realmente outra pessoa de quatro anos para cá.
Em entrevista a Donna, Andréia Horta fala sobre sua personagem em Três Graças, o retorno ao trabalho após a maternidade e relembra a emoção de viver Elis Regina no cinema e na TV.
Confira a entrevista com Andréia Horta
Como foi a preparação para a Zenilda? Você se identifica com algum aspecto da personagem?
A gente vai fazendo e descobrindo os pontos em comum. É uma grande aventura para um ator. No caso da Zenilda, eu, com alegria, descobri alguns pontos em comum: ela ama ser mãe, é muito zelosa, tem um carinho e cuidado com os filhos. O papel veio num excelente momento, e eu gostei muito da personagem. Fiquei muito simpática a Zenilda.
O que mais lhe surpreendeu nessa nova fase como mãe, algo que você não esperava sentir ou viver?
Muito se fala sobre esse amor que não se parece com nada, e você não consegue imaginar o que é isso enquanto não tem. É uma dimensão, uma coisa que realmente não se parece com nada, e é um amor que se apresenta a cada dia mais aprofundado.
É um negócio infinito mesmo, uma capacidade de amor que se apresenta. E, pensando que amor é reação, você se vê revolucionado mesmo. Se vê capaz de coisas muito lindas. É muito bonita a maternidade. Muito poderosa.
E como tem sido voltar a trabalhar depois da maternidade? Imagino que você deve sentir muita saudade enquanto está gravando…
Sinto muita saudade, mas sempre soube que em algum momento isso iria acontecer (voltar a trabalhar), que esse é o destino normal das coisas. Esse preparo psicológico estava tão bem organizado que, apesar da saudade, eu estou lá trabalhando. Eu durmo e acordo com ela todos os dias. O dia que eu não estou trabalhando é inteiramente dedicado a ela.
Atuar é uma coisa que faço desde criança e sempre sonhei com a maternidade na vida adulta. Então, poder estar vivendo as duas coisas em harmonia, para mim, está sendo maravilhoso.
Você acredita que o meio artístico acolhe bem as atrizes que decidem pausar a carreira para a maternidade?
Eu acho que cada vez mais, sim. É importante que as pessoas deem a devida atenção e suporte para uma mulher grávida continuar fazendo o que ama. Nem todas as profissões permitem que você fique grávida até o final trabalhando. Algumas são de risco, e é preciso cuidar e amparar a mulher para que ela possa ter o bebê e voltar em segurança depois. Essa luta é de todas nós, mulheres, e deveria ser de toda a sociedade civil.
Acredito que a luta das mulheres nos últimos anos no mercado de trabalho tem avançado, inclusive mulheres na política no mundo inteiro. Já vimos mulheres no plenário amamentando. Cada vez mais, precisamos nos acirrar nessa luta. A escolha de ser mãe não deveria anular ou interromper outras atividades na vida de uma mulher. Mas cada vez mais temos que lutar. Essa é uma luta que não para.
Uma coisa que acho absurda é a licença-paternidade ser de uma semana. Algumas empresas brasileiras, poucas, dão ao pai licença-paternidade de quatro meses, o que já é muito importante. Esse pai também está vivendo algo novo, maravilhoso, e cuja responsabilidade é 50% em relação à mulher. Os dois têm a mesma responsabilidade sobre a criança que nasce.
Eu já era fã da Elis desde a adolescência. Na faculdade, um dia me disseram: “Nossa, você parece tanto Elis Regina”. Como jovem universitária pensei: “Já pensou se um dia interpretasse Elis Regina?” Era impossível imaginar.
ANDRÉIA HORTA
Atriz
Na série Cidade de Deus, a Jerusa me chamou muito a atenção, porque tem um papel fundamental nos conflitos, assim como de outras mulheres na trama. Como você enxerga hoje a evolução dos papéis femininos no audiovisual?
Olha, quanto mais a gente estuda, mais a gente tem uma possibilidade de ter uma visão crítica sobre como as mulheres estão colocadas nas dramaturgias. Porque não basta só que elas estejam ali; importa como estão colocadas em relação à ação delas dentro daquela história. Elas são sujeitas ao próprio desejo, movendo a própria história. Mas acho que, quanto mais o mercado audiovisual é ocupado por mulheres – roteiristas, atrizes que estudam e têm capacidade crítica para olhar para o roteiro e dizer: “Isso eu não vou fazer” – mais a gente vê esse avanço.
A estrutura patriarcal é muito enraizada. Mesmo em grandes produções americanas que foram muito além, ainda vemos a mulher colocada de um jeito que, se você estiver atento, percebe que está atrasado. Então, a revolução está na nossa mão, no sentido de imaginar um mundo mais justo para as mulheres.
Você interpretou Elis Regina duas vezes, no cinema e na TV. Não poderia deixar de perguntar: como foi viver esse papel icônico?
Foi um grande momento na carreira, mas o que fez comigo como pessoa... Eu já era fã da Elis desde a adolescência. Na faculdade, um dia me disseram: “Nossa, você parece tanto Elis Regina”. Eu usava o cabelo igual ao dela. Como jovem universitária pensei: “Já pensou se um dia interpretasse Elis Regina?” Era impossível imaginar.
Na época, comprei uma biografia que existia dela, depois comecei a colecionar revistas em homenagem à obra dela. Tornei-me estudiosa da vida e da obra da Elis. Então, quando o filme chegou, eu já era estudiosa há mais de 10 anos. Foi uma realização de algo que já vinha acontecendo há muito tempo na minha cabeça. Foi realmente um grande acontecimento.
Falando mais sobre sua rotina fora do trabalho, como você pratica o autocuidado?
Tenho uma relação muito séria e apaixonada com a leitura. Quando aprendi a ler, minha vida mudou. Sempre que podia, estava num cantinho lendo um livro. Isso segue até hoje. Com a maternidade, que é um exercício constante, cuidar, alinhar, atender à criança – quando tenho um tempinho só para mim, penso: “Agora vou ler um livro.” Também gosto de me exercitar, faço exercícios físicos toda semana.
Por ser pessoa pública, imagino que você deve passar por muita pressão estética. Como você lida com isso?
Eu lido desconfiando dela. Tento não aderir de maneira que não seja honesta comigo. Vou de acordo com o que realmente acho, em vez de só fazer o que poderiam sugerir. Sempre tomo tempo para pensar. Não critico quem faça, de jeito nenhum.
Como a maternidade, o corpo é algo muito pessoal. Cada um deve achar o que é confortável para si. Não quero me sentir obrigada a fazer coisas que não tenho vontade. Não me pressiono, e não aceito que ninguém venha me pressionar. Nunca fui pressionada a atender a esse ou aquele padrão. Acho até engraçado que alguém me diga como cuidar do meu corpo.
Se pudesse dar um conselho a Andréia do início da carreira, qual seria?
Acredito em você. Continue se guiando por uma intuição forte que te orienta. Continue sendo honesta com as coisas que tem vontade de fazer e dizendo “não” para as coisas que não quer fazer ou não concorda. Eu diria isso. Não é algo que eu não tenha feito, então é algo que me acalma pensar nisso.





