Redação Donna
Beth Goulart tomou emprestada uma frase do monólogo Simplesmente Eu, Clarice Lispector, apresentado no início do mês no Theatro São Pedro, para definir a influência dos pais, Paulo Goulart e Nicette Bruno, sobre sua carreira:
- "Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, pode-se ser chamado e não saber como ir." Diria que fui uma semente depositada em campo fértil.
Há mais de 35 anos percorrendo os palcos brasileiros - só no Rio Grande do Sul já circulou por 13 cidades - a atriz de 51 anos considera o teatro seu templo. Revelou que costuma chegar três horas antes dos espetáculos, ir para o camarim e entrar em um ritual que ela define como "respeitoso".
Gosta de passar algum tempo sozinha, alongar-se, aquecer a voz e faz questão de cuidar da própria produção. Para se transformar em Clarice, no espetáculo que ela própria dirigiu, Beth dedica duas horas à maquiagem carregada, com delineador bem marcado que ressalta a semelhança com a escritora. Enquanto seca o cabelo, repassa o texto:
- É o momento em que me distancio da Beth para virar o personagem. O visagismo faz parte do processo.
Hábitos que parecem ter sido herdados - mesmo que inconscientemente - do tempo em que seus pais montaram uma companhia de teatro e viajavam pelo país em um caminhão apresentando peças de repertório. Por estas andanças, os dois acabaram passando a lua-de-mel justamente no Rio Grande do Sul, o que, para Beth, pode justificar a ligação e as frequentes visitas do casal ao Estado.
João Gabriel Carneiro, 30 anos, filho da atriz e do músico Nando Carneiro, formou-se em publicidade mas não conseguiu se desviar da estrada da dramaturgia. A mãe conta como o incentivou a se tornar roteirista:
- Ele disse que não gostava do que fazia em publicidade, apenas vender ideias. Disse a ele: "Meu filho, você é um escritor".
Beth considera o teatro um aliado da literatura e reitera que, ao adaptar, dirigir e interpretar Clarice e suas personagens, tem como principal objetivo estimular a leitura e a divulgação da obra da escritora. Sobre a presença feminina predominante na plateia, ela comenta:
- De certa forma, é a mulher que convida o homem para ir ao teatro, não é? A iniciativa parte delas, e, graças a isso, muitos homens passaram até a admirar a Clarice.