Redação Donna
Não necessariamente nesta ordem ou em igual proporção sempre (esqueça receitas prontas quando o assunto são redes sociais), mas junte criatividade, imaginação, despretensão, ironia e bom humor e o Facebook podia ser conhecido como Fakebook.
O número de perfis falsos na categoria eventos públicos - tudo "brinks" (como usualmente se diz em scraps, blogs, microblogs como o Twitter, quando o que acabou de ser dito é uma brincadeirinha) - testa a capacidade de zoar com fatos reais, embaralha cada vez mais a diferença entre o que é palpável e o que é virtual e testa, sobretudo, a forma como se reage a esta zoação.
Um dos maiores exemplos é a página no Facebook para 1° Churrasco de Casamento do Príncipe William. Que ideia?! Como pode ter conseguido 355 mil pessoas confirmando presença? Nem mesmo os criadores do perfil sabem explicar.
- A ideia surgiu em uma mesa de bar, no meu retorno mensal a Belo Horizonte para visitar a família - conta Leonardo Amancio, 30 anos, que vive em Florianópolis e com o irmão, Marcelo, de 28, criou o perfil para o churras. - Eu e meus irmãos sempre fomos muito brincalhões. Começamos a comentar sobre o casamento do príncipe William até que o Marcelo bolou o evento e eu quis espalhar para os amigos no Face. Se alastrou como um vírus, e perdemos o controle da situação.
Na página, onde os irmãos se prestaram a fazer um minuto-a minuto sobre o cerimonial, William é chamado de Pri Will, a rainha é Vó Queen Beth e Kate é Lady K. É um longo relato, com brincadeiras do tipo: "Cerimonial do Churras está em dúvida da lembrancinha; bem-casados são bregas. Estamos pensando em Pirulito-chupeta-rosa ou Paçoquinha de Amendoim. Cerimonial demonstra preocupação da Paçoquinha com cerveja criar o Efeito-Estufa nos convidados".
- Não tínhamos nenhuma expectativa. Mas as pessoas se identificaram com a brincadeira. Quem nunca foi a um churrasco digamos "humilde"? Tivemos vários contatos de empresas de publicidade e eventos - conta Leonardo, que convivia com cerca de 2 mil mensagens automáticas por minuto no seu Facebook pessoal (as mensagens aparecem toda vez que alguém comenta na página do evento).
A despretensão também aparece na iniciativa da Tiara Vaz, que abriu uma página para o que ela chamou de um desabafo: "Comprar uma ilha e fundar um país".
- Foi no final do ano passado. Eu estava em Portugal, quase voltando para o Brasil. A Europa enfrentando uma crise, e eu conhecia as dificuldades do Brasil, então, foi como um desabafo. A única saída era criar um país. Fiz e enviei convite para alguns amigos, apenas os que entenderiam. Nunca divulguei nem publiquei no meu mural, ou nos perfis de amigos, ele foi crescendo naturalmente a partir de outros contatos. A maioria dos participantes sequer é meu amigo no Facebook - conta Tiara, que é jornalista e descreveu assim o perfil: "Para fugir da crise europeia e da bagunça (pobreza, violência etc.) do status quo brasileiro, convido-vos a abrirem uma conta bancária conjunta para comprarmos uma ilha e fundarmos o nosso próprio país. Só quem nos quisermos, começando do zero".
- Na época, até devo ter escrito alguma coisa semelhante no Twitter, mas no Twitter as coisas não permanecem. Os blogs exigem algo mais aprofundado e o Facebook me pareceu a ferramenta mais adequada, mas eu nem participo das discussões.
Desse jeito, o evento da Tiara ficou com cara de comunidade de Orkut. O "Acaba, Semestre!", criado por Fernanda Basso, é outro que se parece com elas, as comunidades. O mais humorísticos em com pegada irônica tendem a agregar mais convidados. Fim do Mundo - Eu vou!, por exemplo, marcado para o dia 21 de dezembro de 2012 ("com open bar até o último convidado"), criado pelo designer Diogo Costa, de São Paulo, tem mais de 164 mil confirmações. Nos comentários, a maioria entra no clima, mas tem quem aproveite para defender seja lá o que for, no maior estilo politicamente correto - tudo o que o mundo fakebook não é.
A jornalista Aline Rocha, 24 anos, e o namorado dela, o Enéias Brum, 29 anos, publicitário, encararam algumas interpretações mais sisudas para o evento Marcha dos Pinguins. Fazia muito frio em Porto Alegre, eles tinham acabado de assistir no DVD ao filme A Marcha dos Pinguins e a ideia veio, para brincar também com essa tendência de fazer marcha (que um dia já foram chamadas de passeata) para tudo. O convite foi assim: "Tirem todos os casacos de dentro do armário e venham formar uma gigantesco paredão humano na orla do Guaíba para combater a massa polar que se aproxima da cidade. Nos reuniremos antes do nascer do sol e marcharemos até a Usina do Gasômetro para fazer o maior protesto contra a mãe natureza já realizado na história da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul". Conta a Aline que teve gente que não gostou da zoação em cima das marchas nem da ideia de protestar contra a mãe natureza. Mas eles não deram muita bola. E maioria entrou no clima, como o Piti Dutra, nos comentários: "Dá pra mergulhar no Guaíba também?".
As marchas foram lembradas de forma crítica em outro evento fake: a Marcha da Trouxa de Roupa para Lavar. Lila Salles, a criadora, justifica: "É marcha para tanta coisa que começamos a achar que o que falta na vida dessa gente linda e bronzeada é ocupação". Quase 7 mil confirmaram.
A ideia de mergulhar no Guaíba, no inverno, também já rendeu algo no Fakebook: Banho Pelado Rio Guaíba, inventado pelo Técnico Químico Cristiano Britto, marcado para domingo passado, juntou quase 12 mil.. Fê Fernandes comentou: "Que coisa mais europeia! Pode contar comigo nessa". E o Ricardo Hack acrescentou: "Vou de bike, para poder me secar no vento na volta".
Brinks à parte, os eventos fakes já mostraram seu poder para assunto sério, levando para a realidade toda a força demonstrada no virtual. Em maio, o Churrascão da Gente Diferenciada teve a confirmação de dezenas de milhares de pessoas em dois dias.
"Leve cadeiras de praia, cachaça, farofa, som portátil e o que você quiser. Mulatas besuntadas de óleo serão bem-vindas", dizia a página. Com receio de baderna num evento real de fato, Danilo Saraiva, o criador da página, teve de cancelar a ideia inicial convidando a todos para um protesto beneficente. Tudo começou depois de um anúncio de que o Metrô de São Paulo mudou o local que abrigaria uma das suas estações, em Higienópolis, bairro de elite da capital paulista. Alguns moradores da região se colocaram contra a obra porque ela atrairia, segundo uma moradora, "drogados, mendigos, uma gente diferenciada..." Foi o bastante para que a expressão "gente diferenciada" ganhasse força nas redes sociais. A repercussão foi tamanha que o Ministério Público pediu explicações sobre a mudança de local da estação.
O placar final dá conta do poder dessas "brinks":
:: Abaixo-assinado dos moradores contra o metrô: 3.500 assinaturas
:: Número de confirmações na página do evento no Facebook: mais de 55 mil pessoas
Outros
:: 1º Arraiá Mundiar na Torto´s Granjs - "Festança di marcar o gramado!!!" - 2.406 confirmaram presença
:: Um protesto contra os fim dos tickets do Planeta Terra - 2.907 confirmaram
:: Marcha pela Lambada - 15.951 confirmaram presença
:: Revelação da mensagem do ET Bilu para a humanidade - 1.527 confirmaram